06/12/2024
Bolsonaro muda versões e admite ter discutido “hipóteses” com comandantes após eleição de 2022
BRASÍLIA, DF - Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista
exclusiva à Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (6/12). Entre diversas declarações
polêmicas, o ex-presidente confirmou que discutiu “hipóteses” dentro "das
quatro linhas" com comandantes das Forças Armadas após as eleições de 2022
e que, mesmo inelegível, garante que será o candidato em 2026. Perguntado logo no início do programa sobre a participação
dele no planejamento de um golpe de Estado em 2022, de acordo com 884 páginas
do inquérito da Polícia Federal (PF), Bolsonaro respondeu: “A minha
participação foi a mesma de vocês (repórteres): zero”. “Primeiro que não acredito em golpe”, continuou. Ele disse
que os depoimentos presentes no inquérito “não ligam a nada” e que a
investigação da PF trata-se de “uma perseguição sem tamanho” contra ele. “Eu
não acredito em golpes, da minha parte zero, e nem por parte da acusação que
cai sobre esses militares.” Em dois minutos de entrevista, ele se exaltou e aumentou o
tom de voz: “A Polícia Federal tá mentindo descaradamente, uma vergonha essa
parte da Polícia Federal”. Sobre não aceitar o resultado das eleições, o ex-presidente
esclareceu as ações que teve após a vitória de Lula. “Acabaram as eleições, nós
vimos algumas inconsistências e peticionamos o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), tá ok? Qual foi a resposta no dia seguinte? Indeferimento e uma multa de
R$ 22 milhões para o Partido Liberal. Nós nos reunimos e falamos: ‘vamos fazer
o quê?’. Se nós recorrermos, a multa pode passar para R$ 200 milhões e até
mesmo (pode) ser caçado o registro do partido (...). A partir do momento em que
eu não posso mais recorrer à (Justiça) eleitoral, o que nós fizemos? Onde nós
poderemos conseguir uma alternativa dentro das quatro linhas da nossa
Constituição para a gente questionar o resultado (das eleições)?” As “quatro linhas”, segundo ele, seriam “Estado de sítio,
Estado de defesa, GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e intervenção federal”.
Bolsonaro confirmou, também, que, na reunião que teve com comandantes do
Exército e da Aeronáutica, em 7 de dezembro de 2022 — ele diz não se lembrar da
data —, “em nenhum momento” foi mencionada a palavra ‘golpe’. “Quem fala golpe
é a Polícia Federal. O que o comandante do Exército diz é o seguinte: foram
conversadas hipóteses sobre sítio, defesa e GLO (Garantia da Lei e da Ordem).” Ele não quis explicitar como foi a reunião do dia 7 de
dezembro, mas falou que para “golpe você não faz plano, golpe não tem GLO,
estado de defesa”. O plano de assassinatos de opositores Na entrevista, Bolsonaro foi questionado sobre o suposto
plano de matar Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), escrito e impresso em uma impressora do Palácio
do Planalto, de acordo com a PF. Perguntado sobre o fato de ter participado de
várias reuniões com as pessoas responsáveis pelo plano, Bolsonaro insistiu que
a “minuta do Golpe” não foi divulgada e que para ele "é novidade" o
plano "para matar alguém”. “Desconheço e não consigo imaginar que alguém teria feito um
plano disso aí. Jamais passaria pelo meu crivo matar quem quer que seja.” No
entanto, ele admitiu que “foi conversado sobre possibilidades dentro das quatro
linhas, e aí tinha tudo: sítio, defesa, GLO, interferência federal, tinha
tudo”. Com a impossibilidade de seguir os planos, ele disse, “acabou, ninguém
levou avante essa proposta”. Questionado se temia ser preso, Bolsonaro se esquivou de
responder diretamente. “Qual é a acusação contra mim? O que tem de prova contra
mim?”, disse. Além disso, o ex-presidente falou sobre questionamento feito
em 2018 em relação a disparo de mensagens em massa para captação de votos. “Eu
sou um candidato sem grana, que disparo que nada”, afirmou. “Eu não podia falar
que o Lula, por exemplo, defendia aborto; que o Lula defendia ladrão de celular
para tomar cervejinha; que o Lula era amigo de ditadores, como Chaves, Maduro,
Ortega, entre outros...” Sobre estar inelegível, ele disse que “nem deveria ter sido
condenado, mas o TSE era parcial, agora o TSE tá equilibrado”. Assim, deu a
entender que busca reverter a decisão, e, quando perguntando sobre um possível
sucessor para 2026, disse: “Não, sou eu mesmo, física ou politicamente, sou eu
mesmo”. “O plano A sou eu, o plano B sou eu também, o plano C sou
eu, a não ser depois da minha morte física ou política em definitivo, que eu
vou pensar em possível outro nome”, finalizou. Jair Bolsonaro também comentou sobre a reforma de R$ 900 mil
em uma casa dele em Angra dos Reis, e disse que pagou a quantia via PIX.
EM, com foto: Marcos Corrêa/PR
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