28/11/2024
Bolsonaro admite que discutiu possibilidade de golpe de estado e cogita se refugiar em embaixada
BRASÍLIA, DF - O ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado
pela Polícia Federal por planejamento e envolvimento em golpe de Estado, segue
negando sua participação nos ataques à democracia. Em entrevista às jornalistas
Raquel Landim e Letícia Casado, do UOL, ele voltou a recorrer à falsa
argumentação de que é “perseguido” e indica que está cogitando refúgio em
embaixada. “Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê
perseguido, pode ir para lá”, disse. A seguir, fez uma ressalva: “Se eu devesse alguma coisa,
estaria nos Estados Unidos, não teria voltado”. Pois segundo a Polícia Federal, na ocasião da viagem aos
Estados Unidos Bolsonaro se beneficiou justamente de um plano de fuga elaborado
pelo tenente-coronel Mauro Cid para o caso de o golpe de Estado não dar certo. O plano foi elaborado em 2021, quando Bolsonaro tensionava a
relação com o STF (Supremo Tribunal Federal), mas só foi posto em prática nos
últimos dias de 2022, quando ele abandonou a Presidência e foi para os Estados
Unidos. Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022, um dia
antes do fim de seu mandato. Para que a viagem fosse viabilizada, Cid articulou
a falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19 para Bolsonaro e
sua filha Laura Bolsonaro. Cid, sua esposa e suas três filhas também se
beneficiaram do esquema. “Apesar de não empregada no ano de 2021, o plano de fuga foi
adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa
não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos
próximos tópicos, JAIR BOLSONARO, após não conseguirem o apoio das Forças
Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma
possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 08 de janeiro
de 2023 (“festa da Selma”)”, conclui a
PF. Na entrevista ao UOL, Bolsonaro foi perguntado sobre a
possibilidade de ser preso. O ex-presidente respondeu que está vivendo “num
mundo das arbitrariedades” e volta a atribuir a Alexandre de Moraes a
responsabilidade pela “perseguição”.
“Vivemos num mundo das arbitrariedades. (…) Corro risco, sem dever nada,
corro risco. [O STF] Vai fazer a arbitrariedade, vamos ver as consequências. O
que eu tenho a ver com o cara do rojão? Caiu na minha conta. O próprio
Alexandre no dia seguinte: pau em mim…”. Bolsonaro: ‘É uma grande história’ Bolsonaro disse que as investigações da Polícia Federal que
revelaram o plano para sequestrar e matar o ministro do STF, são obra da
“criatividade” de “suposições” do STF. “É uma grande história. A PF faz aquilo que o senhor
ministro [Alexandre de Moraes] assim deseja. Basta você ter conhecimento dos
áudios do Airton Viera [juiz instrutor de Moraes] para o Tagliaferro [Eduardo
Tagliaferro, funcionário do TSE]: ‘Tenha criatividade’. [expressão usada por
Airton para Tagliaferro ao pedir investigação contra uma revista]. Aí o que
fazem são suposições”. Seguindo uma linha de argumentação adotada pelos seus
principais apoiadores, incluindo os filhos Flávio e Eduardo, Bolsonaro tenta
ridicularizar os planos de matar e envenenar as autoridades encontrados na
investigação da PF, afirmando ser uma “loucura” e uma “bravata”. “Que plano era
esse? Dar um golpe com um general da reserva, três ou quatro oficiais e um
agente da PF? Que loucura é essa?”. O ex-presidente refuta a possibilidade de o Judiciário usar
a “teoria do domínio de fato”, linha de acusação do então juiz Sérgio Moro na
Lava-Jato, em seu caso. De acordo com Bolsonaro, haveria um volume de provas em
relação a Lula, quando “agora tem uma única delação, que ninguém mostra. Por
que não mostra?”, referindo-se à delação do seu ex-ajudante de ordens Mauro
Cid, que está sob segredo de Justiça. Confrontado com o fato de que o relatório entregue à PGR por
Alexandre de Moraes na terça-feira (26), teria provas e documentos, incluindo
as anotações manuscritas na agenda do general Augusto Heleno, o ex-presidente
devolve simulando ignorar o plano Punhal Verde Amarelo. “O que é esse plano [Punhal] Verde e Amarelo de que você
fala? É de 2022. Não tenho a menor ideia do que seja isso. Começou a colocar em
prática esse plano? Pelo que eu sei, não”. Bolsonaro, porém, admite que chegou a discutir as
possibilidades de golpe de Estado, alegando falsamente que estaria “baseada na
Constituição”: “Minuta do golpe é baseada na Constituição. Para que serve a
Constituição? É a nossa lei máxima.” “Eu entendo que ali é um norte para você seguir. Se tem um
remédio ali, por que não discutir? Foi discutida a hipótese de GLO, de 142, de
estado de sítio, estado de defesa. Qual é o problema de discutir isso aí?” E, apesar de todas as críticas e acusações ao processo
eleitoral brasileiro, Jair Bolsonaro declara que se mantém candidato em 2026,
mesmo estando inelegível: “Sou um réu sem crime. Fui condenado [tornado
inelegível pelo TSE] sem crime nenhum”. Para vice, ele especula: “Talvez um
nordestino, um pau de arara, um cabra da peste…”.
ICL Notícias, com foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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