19/11/2024
Proposta do Brasil de taxação dos super-ricos é aprovada em declaração de líderes do G20
RIO DE JANEIRO, RJ - Reunidos no Rio de Janeiro, os chefes
de Estado e de governo do G20, principal fórum de cooperação econômica
internacional, aprovaram uma proposta de tributação progressiva, que inclui uma
menção direta à taxação efetiva dos indivíduos considerados super-ricos. O
texto aparece na carta final da cúpula, divulgada na tarde desta segunda-feira
(18), primeiro dia do encontro anual. "Com total respeito à soberania tributária, nós
procuraremos nos envolver cooperativamente para garantir que indivíduos de
patrimônio líquido ultra-alto sejam efetivamente tributados. A cooperação
poderia envolver o intercâmbio de melhores práticas, o incentivo a debates em
torno de princípios fiscais e a elaboração de mecanismos antievasão, incluindo
a abordagem de práticas fiscais potencialmente prejudiciais. Nós estamos
ansiosos para continuar a discutir essas questões no G20 e em outros fóruns relevantes,
contando com as contribuições técnicas de organizações internacionais
relevantes, universidades e especialistas", diz o documento, cujo conteúdo
final foi aprovado por consenso. Havia a expectativa de que pontos que estavam acordados
pudessem sofrer resistência da Argentina, presidida pelo ultraliberal Javier
Milei, que se opõe a esse tipo de política. Essa indicação da taxação dos
super-ricos, no entanto, já havia sido consensuada na Declaração Ministerial do
G20 do Rio de Janeiro sobre Cooperação Tributária Internacional, realizada
anteriormente, e mediada pelo governo brasileiro. Este acordo foi mantido na
versão final divulgada, sem ressalvas. Estimativas do Ministério da Fazenda apontam que uma taxação
de 2% sobre o patrimônio de indivíduos super-ricos poderia gerar US$ 250
bilhões por ano para serem investidos no combate à desigualdade e ao
financiamento da transição ecológica. Esse grupo de super-ricos soma cerca de 3
mil pessoas que, juntas, detêm patrimônio de cerca de US$ 15 trilhões, maior
que o Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países. O texto do G20, no
entanto, não propõe uma alíquota específica. O texto da carta final também defende uma tributação
progressiva, ou seja, que as pessoas com mais recursos sejam mais taxadas, como
sendo uma das "principais ferramentas para reduzir desigualdades internas,
fortalecer a sustentabilidade fiscal, promover a consolidação orçamentária,
promover crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo e facilitar a
realização dos ODS [Objetivos do Desenvolvimento Sustentável]". Combate à fome Na mesma seção que trata de tributação progressiva, a carta
final do G20 destaca o número de pessoas que enfrentam a fome aumentou,
atingindo aproximadamente 733 milhões de pessoas em 2023, "sendo as
crianças e as mulheres as mais afetadas". Para enfrentar esse desafio
global, a carta pede um compromisso mais eficaz e menciona o lançamento da
Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, proposta brasileira que recebeu a
adesão de 82 países e dezenas de outras instituições multilaterais e privadas. "O mundo produz alimentos mais do que suficientes para
erradicar a fome. Coletivamente, não nos faltam conhecimentos nem recursos para
combater a pobreza e derrotar a fome. O que precisamos é de vontade política
para criar as condições para expandir o acesso a alimentos. À luz disso,
lançamos a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e saudamos sua abordagem
inovadora para mobilizar financiamento e compartilhamento de conhecimento, a
fim de apoiar a implementação de programas de larga escala e baseados em
evidências, liderados e de propriedade dos países, com o objetivo de reduzir a
fome e a pobreza em todo o mundo", diz a carta. O G20 é composto por 19 países (África do Sul, Alemanha,
Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul,
Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido,
Rússia e Turquia) e dois órgãos regionais (União Africana e a União Europeia). A cúpula de líderes do Rio de Janeiro encerra a presidência
temporária do governo brasileiro, que vai repassar o comando do grupo para a
África do Sul, ao longo do próximo. Durante a presidência brasileira, os temas
prioritários foram combate à fome e à pobreza, reforma das instituições
multilaterais e enfrentamento às mudanças climáticas.
Pedro Rafael Vilela/Sabrina Craide, com foto: Tânia Rêgo – Agência Brasil
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