20/12/2024
Câmara aprova teto para salário mínimo, mas afrouxa mudanças no BPC; veja o que ficou decidido
BRASÍLIA, DF – A Câmara dos Deputados aprovou nesta
quinta-feira (19) à noite, por 264 votos a favor e 209 contra, o terceiro
projeto que integra o pacote de corte de gastos do governo. A proposta cria um
teto para o crescimento do salário mínimo, obriga a biometria para o
recebimento de programas sociais e limita os gastos com o Proagro. Por ser projeto de lei ordinária, a proposta exigia apenas
maioria simples (metade mais um dos deputados presentes). A aprovação da última
proposta do pacote, que muda a previdência dos militares, ficou para o próximo
ano, porque o projeto só foi enviado na terça-feira (17) ao Congresso. O PSOL, que era contra o projeto, tentou derrubar parte do
texto aprovado, mas foi derrotado. O texto segue para o Senado, onde deverá ser
votado nesta sexta-feira (20). O governo depende da aprovação desse projeto nas duas Casas
para votar o projeto de lei do Orçamento de 2025. Isso porque o texto aprovado
limita o crescimento do salário mínimo a 2,5% acima da inflação do ano
anterior, com valorização mínima de 0,6% acima da inflação em caso de recessão
econômica. A medida, segundo o Ministério da Fazenda, deverá gerar economia de
R$ 109,8 bilhões de 2025 a 2030. Mudanças Para facilitar a aprovação do projeto, o governo concordou
em desidratar parte das propostas. O relator, deputado Isnaldo Bulhões Jr.
(MDB-AL), afrouxou as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC),
benefício pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, principal
ponto de resistência ao projeto. Ele retirou a expressão “pessoa com
deficiência” que constava do projeto original e trocou por “avaliação que
ateste deficiência de grau moderado ou grave”. Segundo parlamentares da oposição e até da base aliada, a
expressão pessoa com deficiência poderia excluir do BPC portadores de
transtornos do espectro autista e pessoas com síndrome de Down. No entanto,
parte dos parlamentares criticou a nova definição do relator, que continuaria a
restringir o acesso ao benefício. Bulhões também retirou a proposta do governo que pretendia
excluir do cálculo da renda familiar per capita os rendimentos de familiares
que não moram na mesma casa, mas ajudam o beneficiário. Segundo deputados, isso
prejudicaria um beneficiário com deficiência que mora numa casa, mas recebe
cuidados de um parente que habita o mesmo lote, mas em outro domicílio. O
deputado eliminou ainda a proposta do governo de incluir posse ou propriedade
de bens ou direitos, inclusive terras, do cálculo da renda. O relator não revogou a regra segundo a qual o benefício
concedido a qualquer membro da família não será computado para os fins do
cálculo da renda familiar. O governo queria que esses rendimentos fossem
levados em conta. O projeto aprovado manteve a necessidade de apresentação de
documento com exame biométrico para receber o benefício, cuja obrigatoriedade
havia sido proposta pelo governo. No entanto, o relator incluiu exceções, como
idosos com dificuldades de locomoção ou pessoas que moram em localidades
remotas. Bolsa Família e Proagro Em relação ao Bolsa Família e demais benefícios de
seguridade social, o texto aprovado manteve a obrigatoriedade de cadastro
biométrico para a concessão, a manutenção e a renovação. Os parâmetros para a
permanência do programa serão mais rígidos para as famílias unipessoais (beneficiários
que moram sozinhos). Haverá restrição para municípios com percentual de
famílias unipessoais acima do disposto em regulamento. O projeto também estabelece que o Programa de Garantia da
Atividade Agropecuária (Proagro), seguro rural a pequenos e médios produtores,
seja executado conforme o Orçamento de cada ano. Atualmente, o Banco Central
manda a conta de alguns subsídios, como o Proagro, ao governo, sem limitação
orçamentária. Pelo projeto, governo só poderá gastar em subsídios o que estiver
autorizado no Orçamento. O projeto muda ainda os parâmetros relativos à permanência
no Bolsa Família, incluindo o estabelecimento de índices máximos de famílias
unipessoais. FCDF Para diminuir a resistência à aprovação do projeto, o
relator retirou as mudanças no Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF),
cujos recursos passariam a ser corrigidos apenas pela inflação conforme a
proposta original. O fundo continuará a ser corrigido pela Receita Corrente
Líquida (RCL). Formado por recursos da União, o FCDF é usado para manter a
saúde pública, a educação e a Polícia Civil, a Polícia Penal, a Polícia Militar
e o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. O Ministério da Fazenda
previa reduzir os gastos em R$ 18,1 bilhões até 2030 com a nova forma de
correção. Na apresentação do projeto, no fim de novembro, o Ministério
da Fazenda previa que as três propostas – os dois projetos e a proposta de
emenda à Constituição – gerariam economia de R$ 71,9 bilhões em 2025 e 2026.
Com as desidratações no Congresso, as contas serão refeitas.
Wellton Máximo/Sabrina Craide, com foto: Lula Marques/Agência Brasil
|