23/11/2024
Ministro do STJ diz que autismo é “problema” e que clínicas são “passeio na floresta”
O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Antonio
Saldanha disse em um evento nesta sexta-feira (22), em São Paulo, que o
Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um “problema” e que as clínicas
especializadas de tratamento promovem “passeio na floresta” para crianças. As
declarações repercutiram na CNN Brasil. “Para os pais, é uma tranquilidade saber que o seu filho,
que tem um problema, vai ficar de 6 a 8 horas por dia em uma clínica
especializada, passeando na floresta. Mas isso custa”, disse Saldanha durante o
Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde. A comparação da terapia com “passear na floresta” gerou
polêmica. A advogada Aline Plentz, que estava no evento, coordena um grupo que
luta pelo direito de pessoas autistas na OAB de Jabaquara (SP). Ela tem um
filho de 9 anos que, aos três, descobriu o transtorno. “Eu, como mãe de autista, me senti totalmente ofendida. Não
é uma tristeza, como ele falou, ter uma pessoa com deficiência na família.
Tristeza é a gente ter um ministro nos representando e ter uma fala tão infeliz
como esta. Ele ainda colocou os advogados como se fizessem advocacia predatória
para judicializar processos de pedidos de medicamentos”, disse. A promotora de Justiça do Amapá, Fábia Nilci Santana de
Souza, também criticou a fala de Saldanha. “Foi muito infeliz a fala, quando ele mencionou que, aos
pais, era muito cômodo encaminhar os filhos pra uma clínica, para ficarem 6 ou
8 horas. Eu tenho um filho autista de 17 anos, ele sofre por isso, a família
sofre. E não existe a família ficar feliz quando tem um filho com transtorno
que sofre discriminação, sofre exclusão. E por isso me senti ofendida”, disse. A CNN entrou em contato com a assessoria de imprensa do STJ,
que disse encaminhar o questionamento ao gabinete do ministro e informar quando
tiver resposta. Tentamos também contato direto no gabinete, mas não tivemos
retorno até o momento. Durante a palestra, transmitida no canal do YouTube do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o ministro criticou também a Lei Romário. “Essa Lei 14.454, chamada de Lei Romário, porque o senador
Romário foi indicado como relator. Não por acaso, mas ele tem um filho com
problemas de cognição, uma filha, não sei bem… É uma lei que abriu, não fala em
medicina baseada em evidência, ela fala o seguinte: se vier um laudo técnico,
tem que conceder [tratamento]. E aí começaram a proliferar, que isso foi
direcionado basicamente às pessoas com problema de cognição”, afirmou o
ministro do STJ. A lei citada pelo ministro instituiu critérios para que
beneficiários de planos de saúde tenham o direito de solicitar a cobertura de
alguns procedimentos que não estejam incluídos no rol da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS). A CNN entrou em contato com a assessoria do senador Romário
(PL) e aguarda retorno. Saldanha disse, ainda, que “qualquer um” pode ter “fator de
autismo”. “Então, crianças que estão dentro do espectro, Transtorno do Espectro
Autista, que é uma abrangência, o autismo pode ser, qualquer um de nós pode ter
um fator de autismo, qualquer um de nós, acredito que eu, deva ter também, mas
é um espectro enorme e começaram a brotar clínicas de autismo.”
CNN Brasil, com foto: Lucas Pricken/CN
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