08/11/2024
Brasil registra em 2023 o menor nível de emissão de gases do efeito estufa em 15 anos
BRASÍLIA, DF - O Brasil reduziu em 12% as emissões de gás
carbônico equivalente (GtCO2e) em 2023 em relação ao ano anterior, conforme
divulgou nesta quinta-feira (7) o Observatório do Clima. No ano passado, o país
emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa, enquanto que, em
2022, foram emitidas 2,6 bilhões de toneladas. Segundo o observatório, essa é a maior queda percentual nas
emissões desde 2009, quando o país registrou a menor emissão da série histórica
iniciada em 1990 (1,77 bilhão de GtCO2e). A queda no desmatamento na Amazônia foi a principal razão
para a redução das emissões. As emissões por desmatamento na floresta tropical caíram
37%, de 1,074 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente para 687 milhões
de toneladas. Por outro lado, os dados do Sistema de Estimativas de
Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório mostram que, apesar
da desaceleração na Amazônia, a devastação dos demais biomas resultaram na
emissão de 1,04 GtCO2e brutas em 2023. Na avaliação do coordenador do SEEG, David Tsai, a redução
das emissões é uma boa notícia, mas evidencia a dependência do que ocorre na
Amazônia, em especial para o país atingir a Contribuição Nacionalmente
Determinada (NDC, na sigla em inglês). As novas NDCs precisam ser apresentadas
até fevereiro de 2025 e devem estar alinhadas com o primeiro Balanço Global do
Acordo de Paris (GST, na sigla em inglês), encerrado em 2023 na COP28, em
Dubai. “A queda nas emissões em 2023 certamente é uma boa notícia,
e põe o país na direção certa para cumprir sua NDC, o plano climático nacional,
para 2025. Ao mesmo tempo, mostra que ainda estamos excessivamente dependentes
do que acontece na Amazônia, já que as políticas para os outros setores são
tímidas ou inexistentes. Isso terá de mudar na nova NDC, que será proposta
ainda este ano. O Brasil precisa de um plano de descarbonização consistente e
que faça de fato uma transformação na economia”, afirmou David Tsai. Em relação aos outros biomas, o levantamento aponta que as
emissões por desmatamento e queima de biomassa aumentaram: 23% no Cerrado, 11%
na Caatinga, 4% na Mata Atlântica e 86% no Pantanal. No Pampa, essas emissões
caíram 15%, mas o bioma responde por apenas 1% do total. “O Brasil está vendo o combate ao desmatamento na Amazônia
surtir efeito. Mas, enquanto isso, o desmatamento em outros biomas, como o
Cerrado e o Pantanal, acelera. Esse ‘vazamento’ não é algo novo e precisa de
solução urgente para que continuemos tendo chances de atingir as metas de
mitigação brasileiras”, disse a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia (Ipam), Bárbara Zimbres. O Ipam é responsável pelo cálculo de emissões de uso da
terra no SEEG. Uso da terra e Agropecuária As mudanças de uso da terra foram responsáveis por quase
metade das emissões de gases de efeito estufa no país (46%), com 1,062 bilhão
de toneladas de CO2e. Segundo o observatório, a agropecuária registrou o quarto
recorde consecutivo de emissões, com elevação de 2,2%. Com isso, a atividade
econômica respondeu por 28% das emissões brutas do Brasil no ano passado,
principalmente pelo a alta do rebanho bovino. “A maior parte das emissões vem da fermentação entérica (o
popular "arroto" do boi), com 405 milhões de toneladas em 2023 (mais
do que a emissão total da Itália)”, aponta a instituição. “Somando as emissões
por mudança de uso da terra, a atividade agropecuária segue sendo de longe a
maior emissora do país, com 74% do total”, continua. O analista de Ciência do Clima do Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Gabriel Quintana, relembra que a
última redução nas emissões da agropecuária brasileira foi registrada em 2018.
Desde então, vêm aumentando e registrando recordes. O Imaflora é a organização
responsável pelo cálculo de emissões de agropecuária no SEEG. “Elas são puxadas pelo aumento do rebanho bovino, uso de
calcário e fertilizantes sintéticos nitrogenados, afinal, a produção brasileira
tem crescido. O desafio para o setor, bastante suscetível aos impactos da crise
climática, é alinhar a mitigação das emissões de gases de efeito estufa com a
eficiência da produtividade, em especial, a redução de metano e a adoção de
sistemas que geram sequestro de carbono no solo”, pontuou. Resíduos e Energia Nos setores de resíduos e energia, os crescimentos de
emissões de dióxido de carbono equivalente foram de 1% e 1,1%, respectivamente.
O resultado no setor energético está relacionado ao aumento do consumo de óleo
diesel, gasolina e querosene de aviação no ano passado. Juntos, eles causaram
uma elevação de 3,2% nas emissões de transporte, que chegaram à marca recorde
de 224 MtCO2e). “Essa elevação mais do que compensou a redução de emissões
devido à queda de 8% na geração de eletricidade por termelétricas fósseis no
ano passado, no qual não houve crise hídrica para impactar a geração
hidrelétrica. No total, energia e processos industriais emitiram 22% do total
nacional, 511 MtCO2e”, informa o relatório. Queimadas Quanto às emissões decorrentes de queimadas de pasto e
vegetação nativa (não são contabilizadas como desmatamento), caíram 38% e 7% em
2023, respectivamente. Essas emissões ficaram de fora do inventário nacional, mas
tornam-se cada vez mais importantes à medida que a mudança do clima aumenta o
risco de ocorrência de fogo, inclusive nas florestas úmidas, destaca o
Observatório.
Luciano Nascimento/Carolina Pimentel, com foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil
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