31/10/2024
Juros do cartão de crédito rotativo sobem para 438,4% ao ano; alta em setembro foi de 11,5%
BRASÍLIA, DF - Enquanto algumas taxas de juros médios nas
concessões de crédito caem, os juros do rotativo do cartão de crédito subiram
11,5 pontos percentuais para as famílias em setembro, chegando a 438,4% ao ano.
Mesmo com a limitação do rotativo em vigor desde o início do ano, os juros
seguem variando sem uma queda expressiva ao longo dos meses. A medida visa reduzir o endividamento, mas não afeta a taxa
de juros pactuada no momento da concessão do crédito, aplicando-se apenas a
novos financiamentos. Nos 12 meses encerrados em setembro, os juros da
modalidade caíram 2,7 pontos percentuais. Os dados são das Estatísticas
Monetárias e de Crédito divulgadas nesta quarta-feira (30), em Brasília, pelo
Banco Central (BC). O crédito rotativo dura 30 dias e é tomado pelo consumidor
quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão de crédito. Ou seja,
contrai um empréstimo e começa a pagar juros sobre o valor que não conseguiu
quitar. A modalidade é uma das mais altas do mercado. Após os 30 dias, as instituições financeiras parcelam a
dívida do cartão de crédito. Nesse caso do cartão parcelado, os juros subiram
3,8 pontos percentuais no mês e caíram 8 pontos percentuais em 12 meses, indo
para 185,8% ao ano. Juros de crédito livre No total, a taxa média de juros das concessões de crédito
livre para famílias teve aumento de 0,5 ponto percentual em setembro, mas
acumula redução de 4,9 pontos percentuais (p.p.) em 12 meses, chegando a 52,4%
ao ano. Contribuindo para a queda dos juros médios no acumulado, houve reduções
em crédito consignado, aquisição de veículos, desconto de cheques e
arrendamento mercantil. Também compõe essas estatísticas os juros do cheque
especial, que subiram 4,2 pontos percentuais no mês e 3,2 pontos percentuais em
12 meses, alcançando 137,1% ao ano. Desde 2020, a modalidade tem os juros
limitados em 8% ao mês (151,82% ao ano), mas o fim da queda da taxa Selic
(juros básicos da economia) e o aumento da inadimplência se refletem na alta
dos juros médios do cheque especial. Nas operações com empresas, os juros médios no crédito livre
tiveram redução de 0,3 ponto percentual em setembro e de 2,2 pontos percentuais
em 12 meses, indo para 20,7% ao ano. Destacaram-se as reduções das taxas de
capital de giro com prazo menor a 365 dias (9,1 pontos percentuais) e de cartão
de crédito rotativo (29 pontos percentuais). Por outro lado, houve alta de 6,5
pontos percentuais no cheque especial no mês de setembro. Taxa média No crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o
dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes.
Já no crédito direcionado, as regras são estabelecidas pelo governo e se
destinam, basicamente, aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao
microcrédito, com juros subsidiados concedidos por bancos oficiais ou com
recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS — ou da caderneta de
poupança. No caso do crédito direcionado, a taxa média para pessoas
físicas ficou em 9,9% ao ano em setembro, redução de 0,1 ponto percentual no
mês e de 0,6 ponto percentual em 12 meses. Para as empresas, a taxa caiu 1,7
ponto percentual no mês e 1,1 ponto percentual em 12 meses indo para 10,3% ao
ano. Com isso, considerando recursos livres e direcionados, para
famílias e empresas, a taxa média de juros das concessões em setembro diminuiu
0,1 ponto percentual no mês e 2,6 pontos percentuais em 12 meses, alcançando
27,6% ao ano. “Na variação mensal, o efeito da variação das taxas de juros
(efeito taxa) mostrou-se mais significativo que o efeito decorrente de
alterações na composição das carteiras (efeito saldo). Nesse contexto,
destacaram-se as reduções das taxas médias do capital de giro com prazo menor
de 365 dias (9,1 pontos percentuais), no crédito às empresas e o aumento do
cartão de crédito rotativo (11,5 pontos percentuais) no crédito às famílias”,
informou o BC. Saldos das operações Em setembro, as concessões de crédito tiveram alta de 2,2%,
chegando a R$ 636,4 bilhões, resultado da alta de 0,8% para as pessoas físicas
e de 3,9% para empresas. As concessões de crédito direcionado caíram 7,4% no
mês, enquanto no crédito livre houve alta de 3,7%. Com isso, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos
bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ficou em R$ 6,179 trilhões, um
crescimento de 1,2% em relação a agosto. O resultado refletiu aumento de 1,6% no saldo das operações
de crédito pactuadas com pessoas jurídicas (R$ 2,374 trilhões) e o incremento
de 1% no de pessoas físicas (R$ 3,804 trilhões). Na comparação interanual, o
crédito total cresceu 9,9% em setembro. Já o crédito ampliado ao setor não financeiro — que é o
crédito disponível para empresas, famílias e governos, independentemente da
fonte (bancário, mercado de título ou dívida externa) — alcançou R$ 17,486
trilhões, com redução de 0,5% no mês e aumento de 12,6% em 12 meses. O
principal fator desse decréscimo no mês é atribuído aos títulos da dívida
pública e dos empréstimos externos, que caíram 1,5% e 3,1%, respectivamente. Endividamento das famílias Segundo o Banco Central, a inadimplência — atrasos acima de
90 dias — se mantém estável há bastante tempo, com pequenas oscilações. Ela
registrou 3,2% em setembro. Nas operações para pessoas físicas, situa-se em
3,8%, e para pessoas jurídicas em 2,4%. O endividamento das famílias — relação entre o saldo das
dívidas e a renda acumulada em 12 meses — ficou em 47,9% em agosto, aumento de
0,1 ponto percentual no mês e queda de 0,4% em 12 meses. Com a exclusão do
financiamento imobiliário, que pega um montante considerável da renda, o
endividamento ficou em 29,9% no mês passado. Já o comprometimento da renda — relação entre o valor médio
para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período — ficou em 26,8%
em agosto, aumento de 0,4 ponto percentual na passagem do mês e redução de 0,4%
em 12 meses. Esses dois últimos indicadores são apresentados com uma
defasagem maior do mês de divulgação, pois o Banco Central usa dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Andreia Verdélio, com foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
|