14/10/2024
Nova variante do vírus da Covid-19 que se espalha pelo mundo é identificada em três estados
BRASÍLIA, DF - Uma linhagem do vírus Sars-CoV-2 que vem se
espalhando pelo mundo foi detectada no Brasil. A linhagem, chamada de XEC, que
pertence à variante Omicron, foi identificada no Rio de Janeiro, em São Paulo e
em Santa Catarina. O primeiro achado foi realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz) em amostras referentes a dois pacientes residentes na capital
fluminense, diagnosticados com covid-19 em setembro. A identificação foi
realizada pelo Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e
Emergências Virais do IOC, que atua como referência para Sars-CoV-2 junto ao
Ministério da Saúde e à Organização Mundial da Saúde (OMS). O Ministério da Saúde e as secretarias Estadual e Municipal
de Saúde do Rio de Janeiro foram rapidamente informados sobre o achado. As
sequências genéticas decodificadas foram depositadas na plataforma online
Gisaid nos dias 26 de setembro e 7 de outubro. Depois das sequências do Rio de
Janeiro, também foram depositados, por outros grupos de pesquisadores, genomas
da linhagem XEC decodificados em São Paulo, a partir de amostras coletadas em
agosto, e em Santa Catarina, de duas amostras coletadas em setembro. Monitoramento A XEC foi classificada pela OMS no dia 24 de setembro como
uma variante sob monitoramento. Isso ocorre quando uma linhagem apresenta
mutações no genoma que são suspeitas de afetar o comportamento do vírus e
observam-se os primeiros sinais de “vantagem de crescimento” em relação a
outras variantes em circulação. Esta variante começou a chamar atenção em junho
e julho de 2024, devido ao aumento de detecções na Alemanha. Rapidamente,
espalhou-se pela Europa, pelas Américas, pela Ásia e Oceania. Pelo menos 35
países identificaram a cepa, que soma mais de 2,4 mil sequências genéticas
depositadas na plataforma Gisaid até o dia 10 de outubro deste ano. De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Vírus
Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do IOC Paola
Resende, dados do exterior indicam que a XEC pode ser mais transmissível do que
outras linhagens, porém será necessário avaliar o seu comportamento no Brasil.
“Em outros países, essa variante tem apresentado sinais de maior
transmissibilidade, aumentando a circulação do vírus. É importante observar o
que vai acontecer no Brasil. O impacto da
chegada dessa variante pode não ser o mesmo aqui porque a memória imunológica
da população é diferente em cada país, devido às linhagens que já circularam no
passado”, explica Paola, que também atua na Rede Genômica Fiocruz. A detecção da XEC no Brasil foi realizada a partir de uma
estratégia de vigilância que ampliou o sequenciamento de genomas do Sars-CoV-2
na capital fluminense em agosto e setembro. Esta ação contou com a parceria da
Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Durante três semanas, foi
realizada a coleta de amostra de swab nasal para envio ao Laboratório de
Referência do IOC/Fiocruz em casos positivos para Sars-CoV-2 diagnosticados por
testes rápidos em unidades básicas de saúde. Embora tenha apontado a presença
da XEC, o monitoramento confirmou o predomínio da linhagem JN.1, que é
majoritária no Brasil desde o final do ano passado. “Realizamos essa ação para compreender em tempo real o que
estava ocorrendo no Rio, uma vez que havia um leve aumento nos diagnósticos de
covid-19 na cidade. Isso foi muito importante para detectar a variante XEC, que
precisará ser acompanhada de agora em diante”, detalhou a virologista. Dados atuais da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de
Janeiro e do Infogripe, da Fiocruz, não indicam alta nos casos de covid-19 na
cidade. A virologista alerta para o enfraquecimento da vigilância genômica do
SARS-CoV-2 no Brasil e reforça a necessidade de manter o monitoramento em todo
o território nacional. “Atualmente, estamos sem dados genômicos de diversos estados
porque não têm ocorrido coleta e envio de amostras para sequenciamento
genético. É muito importante que esse monitoramento seja mantido de forma
homogênea no país para acompanhar o impacto da chegada da variante XEC e
detectar outras variantes que podem alterar o cenário da covid-19”, destacou
Paola. A virologista reforçou ainda que os dados sobre os genomas
do Sars-CoV-2 em circulação são relevantes para ajustar a composição das
vacinas da covid-19. A OMS conta com um grupo consultivo técnico sobre o tema,
que se reúne duas vezes ao ano. Em abril, o comitê recomendou formulação de
imunizantes baseados na linhagem JN.1. A próxima reunião está marcada para
dezembro. Origem Análises indicam que a XEC surgiu pela recombinação genética
entre cepas que circulavam anteriormente. O fenômeno ocorre quando um indivíduo
é infectado por duas linhagens virais diferentes simultaneamente. Nessa
situação, pode ocorrer a mistura dos genomas dos dois patógenos durante o
processo de replicação viral. O genoma da XEC apresenta trechos dos genomas das
linhagens KS.1.1 e KP.3.3. Além disso, a linhagem apresenta mutações adicionais
que podem conferir vantagens para a sua disseminação.
Juliana Andrade – Agência Brasil, com foto: Ilustração/Pixabay
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