11/10/2024
Suspeito de abusar de 4 crianças em centro espírita, pai de santo acusa entidade que incorporava pelos atos
BELO HORIZONTE, MG - Um homem de 58 anos foi preso nesta
sexta-feira (11/10) suspeito de abusar sexualmente de quatro crianças num
centro espírita onde é pai de santo, no Bairro Taquaril, Região Leste de Belo
Horizonte. O líder religioso dizia para as crianças que quem praticava os atos
era o espírito que ele haveria incorporado. A delegada Fernanda Fiuza,
responsável pelo caso, conta que as investigações levaram à descoberta de
outras duas possíveis vítimas e que o número pode ser ainda maior. Devido ao
modus operandi do líder religioso, a investigadora acredita se tratar de um
“predador sexual”. As investigações da Polícia Civil (PCMG) começaram há três
meses, quando uma das vítimas, garoto de 10 anos, relatou a familiares a
ocorrência dos abusos, praticados no centro espírita frequentado por ele e
pelos irmãos, de 5, 7 e 12 anos. As crianças todas estavam sob a guarda da avó,
que mantinha relação com o suspeito, e dormiam parte da semana no local. A aproximação do suspeito com essa avó se deu com o objetivo
de ter acesso às crianças para, futuramente, abusá-las, acredita a delegada
Fernanda Fiuza. “Ele se aproxima de pessoas mais vulneráveis. É uma tia, uma
avó, uma mãe recém separada, viúva, ou que tem problema com álcool”, explica.
Segundo a investigadora, a avó das crianças tem problemas com bebidas
alcóolicas assim como a mãe, que também faz o uso de drogas. O menino que relatou os abusos também disse que o líder
religioso dava remédios para a avó dormir, e, então, aproveitava do estado dela
para cometer os abusos contra as crianças. Reincidente As investigações identificaram duas possíveis vítimas que
teriam sido estupradas pelo líder religioso anos atrás – uma delas, filha
adotiva do suspeito. Os abusos vieram à tona em 2017. O inquérito ainda não foi
concluído. O outro caso é mais antigo, datado de mais de 20 anos atrás, e
envolve a filha de uma frequentadora do centro espírita. “A desculpa dele para abusar dela é de que ela teria que ir
lá para fazer um bori, que é tipo um trabalho espiritual. Ela dormiu lá para
fazer o bori no dia seguinte e, nesse ínterim, ele abusou sexualmente dela”,
relata a delegada. Como justificava para os estupros, o líder religioso disse
para a vítima que os atos foram cometidos enquanto ele incorporava outro
espírito. No entanto, em depoimento ao ser preso, o suspeito negou ter
praticado qualquer abuso. “Ele afirmou que de fato incorpora o espírito e entra
em transe, mas que não incorpora próximo às crianças”, conta a delegada. Além disso, o suspeito ameaçava as vítimas e familiares caso
o denunciassem, e dizia que tinha amigos influentes, como desembargadores e
policiais. Ele também fazia ameaças, utilizando para isso a religião. “Ele
falava que ia fazer trabalhos para que elas se dessem mal”, conta a delegada. Proximidade O suspeito, devido ao
status de líder religioso, tinha muita confiança dos familiares das crianças. A
investigação aponta que, para conquistar as vítimas, o homem as levava para
viagens, especialmente para a praia, e dava presentes. Para as meninas, ele
dava batons, esmaltes e calcinhas fio dental. A delegada Fernanda Fiuza conta que, à medida que as
crianças cresciam, o suspeito perdia o interesse e partia para outras vítimas.
“Os abusos acabavam quando as vítimas atingiam entre 15 e 16 anos, que é quando
elas atingem o corpo de adulto e ele perde o interesse”, detalha. No diário da criança de 12 anos, os investigadores
encontraram textos onde ela tratava o suspeito como seu namorado. “Quando as
tias e a avó impediram que ela frequentasse o centro espírita, ela ameaçou
suicídio”, conta a delegada. Devido ao líder religioso supostamente praticar os abusos
com recorrência, e não esporadicamente, além do mesmo modus operandi contra
todas as vítimas, a delegada Fernanda Fiuza acredita se tratar de um “predador
sexual”. “Já levantamos, até então, seis vítimas, com certeza absoluta, e
estamos progredindo para serem oito vítimas dentro das investigações”, defende. Prisão O suspeito, que trabalha prestando serviços para a
Prefeitura de Belo Horizonte, foi preso preventivamente na manhã desta
sexta-feira no local de trabalho. O caso segue sob investigação pela Delegacia
Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente (DEPCA).
EM, com foto: Divulgação/Polícia Civil
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