09/07/2024
Polícia Federal acusa Bolsonaro de desviar R$ 6,8 milhões em jóias da Presidência da República
BRASÍLIA, DF - A Polícia Federal (PF) concluiu em
investigação que o ex-presidente Jair Bolsonaro teve participação no desvio ou
na tentativa de desvio de mais de R$ 6,8 milhões em presentes como esculturas,
joias e relógios, recebidos de países estrangeiros em razão de sua condição de
mandatário do Brasil. O valor que consta na conclusão do relatório é R$ 25
milhões, mas a PF informou horas depois de o documento vir a público que houve
erro material na redação das conclusões, e que o valor correto é R$ 6,8
milhões, conforme consta em outros trechos do relatório. A investigação da PF apurou a existência de uma associação
criminosa cujo objetivo seria, especificamente, desviar e vender objetos de
valor recebidos por Bolsonaro como presente oficial. “Identificou-se ainda que os valores obtidos dessas vendas
eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do
ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o
sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem localização e
propriedade dos valores”, aponta o relatório da PF. Bolsonaro e mais 11 pessoas foram indiciadas na semana
passada pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O
relatório sobre a investigação foi entregue impresso, em um envelope, no
protocolo do Supremo Tribunal Federal (STF), na sexta-feira (5). O sigilo do relatório da PF, que tem 476 páginas, foi
derrubado nesta segunda-feira (8) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do
caso no Supremo. O magistrado encaminhou o processo para análise da
Procuradoria-Geral da República (PGR), a quem cabe agora analisar se arquiva o
caso ou denuncia os indiciados. É possível também que o órgão solicite nova
coleta de provas. Dinheiro Assinado pelo delegado responsável Fábio Shor, o relatório
conclui que “os elementos acostados nos autos evidenciaram a atuação de uma
associação criminosa voltada para a prática de desvio de presentes de alto
valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República Jair
Bolsonaro e/ou por comitivas do governo brasileiro, que estavam atuando em seu
nome, em viagens internacionais, entregues por autoridades estrangeiras, para
posteriormente serem vendidos no exterior”. Ainda segundo o documento, a “atuação ilícita teve a
finalidade de desviar bens, cujo valor mercadológico somam o montante de US$
4.550.015,06 ou R$ 25.298.083,73”. Parte desse dinheiro pode ter sido utilizado
para custear a estadia de Bolsonaro nos Estados Unidos, para onde foi um dia
antes de deixar a Presidência da República e onde permaneceu por mais de três
meses. Na correção feita depois pela PF, tais valores passaram a US$
1.227.725,12 ou R$ 6.826.151,661. Em março de 2023, quando a venda de presentes oficiais foi
primeiro noticiada por veículos de imprensa, foi organizada uma nova operação,
dessa vez com o objetivo de recuperar itens já vendidos no mercado. O objetivo
seria “escamotear a localização e movimentação dos bens desviados do acervo
público brasileiro e tornar seguro, mediante ocultação da localização e propriedade,
os proventos obtidos com a venda de parte dos bens desviados”, concluiu a PF. “Tal fato indica a possibilidade de que os proventos obtidos
por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro,
que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o
patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as
despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em
solo norte-americano”, aponta o relatório da PF. As investigações contaram com a colaboração do
tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou
acordo de colaboração premiada. As investigações apontam, por exemplo, o
envolvimento do pai de Mauro Cid, general do Exército Mauro Lorena Cid, que
teria intermediado o repasse de US$ 68 mil em espécie ao ex-presidente. O general Cid recebeu o dinheiro em sua própria conta
bancária, depois da venda de um relógio Patek Phillip e de um Rolex. O militar
trabalhava no escritório da Apex, em Miami. Nos autos, foram anexados também outros tipos de prova, como
comprovantes de saques bancários no Brasil e nos EUA e planilhas mantidas pelo
assessor Marcelo Câmara, que era responsável por fazer a contabilidade pessoal
de Bolsonaro. A Agência Brasil tenta contato com a defesa de todos os
citados. Confira o conjunto de
presentes que são alvo de investigação: 1º conjunto:
refere-se a um conjunto de itens masculinos da marca Chopard contendo uma
caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe ("masbaha")
e um relógio recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento
Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021; 2º conjunto:
trata-se de um kit de joias, contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico
("masbaha”) e um relógio da marca Rolex, de ouro branco, entregue ao
ex-Presidente da República JAIR BOLSONARO, quando de sua visita oficial à
Arábia Saudita em outubro de 2019; 3º conjunto: engloba
uma escultura de um barco dourado, sem identificação de procedência até o
presente momento, e uma escultura de uma palmeira dourada, entregue ao
ex-Presidente, na data de 16 de novembro de 2021, quando de sua participação
oficial no Seminário Empresarial da Câmara de Comércio ÁrabeBrasileira,
ocorrido na cidade de Manama, no Barhein. Título e texto alterados às 17h39, após correção feita pela
Polícia Federal. Os desvios apurados somam R$ 6,8 milhões e não R$ 25 milhões,
como informado inicialmente pela PF. Matéria teve alteração no título e oitavo
parágrafo, além de inclusão do segundo parágrafo e dos três últimos parágrafos.
Felipe Pontes/Fernando Fraga – Agência Brasil, com foto: Isac Nóbrega/PR
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