03/07/2024
Brasileira de 27 anos faz vaquinha online para ir à Suíça fazer eutanásia; prática é crime no Brasil
BELO HORIZONTE, MG - Carolina Arruda Leite, de 27 anos, de
Bambuí (Centro-Oeste mineiro), está organizando uma vaquinha online para
custear sua ida até a Suíça para realizar eutanásia. A jovem tem neuralgia do
trigêmeo bilateral, doença que afeta o nervo trigêmeo, responsável pela
sensibilidade da face. O caso repercutiu nas redes sociais e trouxe à tona o
debate sobre a moralidade do procedimento, que no Brasil é entendido como
homicídio. A eutanásia é uma “uma conduta omissiva ou comissiva de um
terceiro que, por compaixão, interrompe a vida de um paciente acometido de
grave doença, física ou psíquica, mas que ainda não entrou em processo de
morte", explicou Mérces da Silva Nunes, advogada especialista em Direito
Médico, ao Estado de Minas. De acordo com Daniela Ito, também advogada especialista em
Direito Médico, não existe uma regulamentação brasileira sobre eutanásia. Ela
explica que a prática é entendida como homicídio e, portanto, é criminalizada. "Não há brechas. O Código Penal Brasileiro apenas
concede uma redução na pena no crime de homicídio se comprovada a motivação de
'relevante valor moral', na prática da eutanásia, por exemplo, se comprovada a
motivação de compaixão, a tentativa de poupar alguém de sofrimento atroz",
explica Daniela. A Suíça, destino desejado por Carolina, é um dos países que
permite a realização da eutanásia, assim como Portugal, Holanda, Bélgica e
alguns estados dos Estados Unidos. O caso de Carolina No texto da vaquinha, Carolina compara os sintomas causados
pela neuralgia do trigêmeo bilateral a “choques elétricos equivalentes ao
triplo da carga de uma rede de 220 volts, que atravessam meu rosto
constantemente, sem aviso e sem trégua". A mineira relata como a condição afeta todos os aspectos da
vida dela, desde a realização de tarefas simples até a realização de atividades
prazerosas, como a leitura, os estudos e a prática de atividades físicas, que
ela conta ter amado antes da doença dominá-la. “Cada dia é uma batalha
constante e exaustiva. A esperança de uma vida sem dor tem se tornado cada vez
mais distante, e a qualidade de vida, praticamente inexistente”, desabafa
Carolina. “Depois de esgotar todas as opções médicas disponíveis e
enfrentar uma dor insuportável diariamente, tomei a difícil decisão de buscar a
eutanásia como uma forma de encerrar meu sofrimento de maneira digna”, diz
Carolina. A jovem pretende fazer o procedimento na instituição Dignitas, na
Suíça. A estimativa de custo do total necessário, incluindo os custos de viagem
e médicos, ultrapassa R$ 150 mil. Carolina contou sua história nas redes sociais e divulgou a
vaquinha, e o caso repercutiu. A arrecadação até o momento ultrapassa os R$ 10
mil. No entanto, a decisão da mineira atraiu também comentários de repúdio ao
procedimento. No Instagram dela, usuários estão fazendo comentários como “Você
já fez tudo o que podia; agora é a vez de Deus agir. Deixe Ele dominar esta
causa. Ele faz milagres! Não queira morrer, por favor. Confie que Deus pode
fazer uma reviravolta em sua história.” Outro usuário escreveu “a eutanásia
pode piorar muito a sua situação. A perda do corpo físico não é o fim de tudo
(...) Lamento muito pelo que você está passando. Mas é melhor superar isso e
lutar contra isso estando encarnada”.
EM, com foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
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