05/06/2024
PEC que prevê mais autonomia para o Banco Central pode tornar Pix um serviço pago, alerta sindicato
BRASÍLIA, DF - O Pix, hoje a forma predileta dos brasileiros
para pagar contas, comprar e transferir dinheiro, pode se tornar um serviço
pago se for aprovada no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição
número 65. Esse é o alerta do Sindicato Nacional dos Funcionário do
Banco Central (SINAL) que está trabalhando para derrubar a PEC do BC. Ela já
está em tramitação no Senado e o relatório sobre o tema deve ser apresentado
ainda esta semana. A PEC do Banco Central tem como objetivo dar ainda mais
independência à instituição e transformar a autarquia em uma empresa pública.
Em 2021 o então presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei que deu autonomia
operacional ao BC. Essa nova PEC amplia a anterior para dar também autonomia
financeira e administrativa. Isso significa que o BC poderia determinar os planos de
carreira, os salários e as contratações de funcionários sem a anuência do
governo federal, o que pode precarizar o funcionalismo e ao mesmo tempo abrir a
oportunidade para aumentar a disparidade salarial dentro do banco, com
remunerações mais altas para os executivos, já que o teto constitucional de
salários seria abolido. O sindicato dos funcionários do BC fez uma enquete com a
categoria e constatou que mais da metade do funcionalismo é contra a PEC 65. O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também já disse publicamente que discorda
de vários pontos da proposta. Ela foi apresentada no ano passado e tem o apoio do atual
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cujo mandato termina no fim
do ano. Mas ele parece ter pressa de ver a PEC aprovada antes de deixar o
cargo, alegando que seria um legado importante. Os dirigentes do sindicato argumentam que a proposta é
frágil, foi elaborada às pressas e que a constitucionalidade da medida pode ser
questionada no Supremo Tribunal Federal. Esse é o recado que eles levaram aos
81 senadores da República. O sindicato já visitou os gabinetes de todos eles. Fabio
Faiad, presidente do SINAL, disse que a transformação do BC em uma empresa
pública abre o caminho para fatiar as atividades que o banco desempenha e
depois terceirizar essas atividades. É o que já está acontecendo com a Caixa Econômica Federal
desde que a presidência da empresa foi entregue a aliados políticos do
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A nova direção da CEF está tentando
transferir toda a operação de loterias da empresa para uma subsidiária com o
objetivo de privatizar a atividade. Estudo sobre o Pix No caso do Pix, um estudo do sindicato mostra que a operação
tem uma importância cada vez maior no país, se comparada ao PIB brasileiro. O
volume diário de operações nessa modalidade ultrapassou a marca dos R$ 100
bilhões em abril deste ano. No ano passado, as compras e transferências com Pix somaram
R$ 14,47 trilhões. Se a atividade for transferida para um banco privado, esse
volume de operações pode gerar um lucro extraordinário. Se for imposta uma taxa
de 0,1%, a receita do banco com a operação seria de R$ 14,47 bilhões. O sindicato descontou ainda o custo que o banco teria com as
transações, da ordem de R$ 3,99 bilhões. Subtraído esse valor, o banco privado
terminaria com um lucro de R$ 10,48 bilhões. A possível privatização do Pix é apenas um dos efeitos
danosos da PEC para a população. Se for implementada, ela vai tirar o BC
totalmente do controle do Poder Executivo, dificultando ainda mais a elaboração
e execução das políticas econômicas. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) é o relator do projeto e
prometeu entregar o texto ainda este mês à Comissão de Constituição e Justiça.
No Senado, a expectativa é de que o relatório seja apresentado ainda esta
semana. O sindicato dos funcionários do BC está trabalhando para
esclarecer a opinião pública a respeito da proposta. Produziu um vídeo que está
circulando nas redes de TV como propaganda paga e também está difundindo as
críticas em spots de rádio. O presidente da entidade, Fábio Faiad, alerta que a PEC
passa a permitir que qualquer parlamentar apresente lei complementar para mudar
a estrutura do BC quando hoje essa é uma prerrogativa exclusiva do presidente
da República.
ICL Notícias, com foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
|