19/04/2024
Renda dos 10% mais ricos é 14,4 vezes maior que dos 40% mais pobres no Brasil, aponta IBGE
BRASÍLIA, DF - Em 2023, os 10% da população brasileira com
maiores rendimentos domiciliares per capita tiveram renda 14,4 vezes superior à
dos 40% da população com menores rendimentos. Essa diferença é a menor já
registrada no Brasil. Os dados fazem parte de uma edição especial da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta
sexta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que os 10% da população com maior
rendimento domiciliar por pessoa tiveram, no ano passado, renda mensal média de
R$ 7.580. Já os 40% dos brasileiros com menor rendimento obtiveram R$ 527.
Ambos os valores são os maiores registrados para cada faixa de renda. Em comparação mais extrema, o 1% da população com maior
rendimento tinha renda mensal (R$ 20.664) que chegava a 39,2 vezes à dos 40% de
menor renda. Em 2019, a diferença era de 48,9 vezes – a maior já registrada. Redução da diferença A diferença de 14,4 vezes entre os 10% das maiores faixas de
renda e os 40% das menores é a mesma de 2022. Em 2019, antes da pandemia de
covid-19, a relação estava em 16,9 vezes. O ponto mais desigual - 17 vezes -
foi atingido em 2021, auge da pandemia. A série histórica do IBGE teve início em 2012, quando a
relação era de 16,3 vezes. Desde então, os menores rendimentos cresceram em
proporções superiores aos do topo da pirâmide. Por exemplo, os 5% menores
rendimentos tiveram evolução de 46,5%, e os localizados entre 5% e 10% menores
subiram 29,5%. Na outra ponta, a faixa dos 10% maiores cresceu 8,9%. Em janela de tempo mais curta, também é possível encontrar
um estreitamento da diferença. Em 2019, os 40% da população com menores rendas
tiveram evolução nos rendimentos de 19,2%. Já os 10% com maiores rendimentos
aumentaram registraram aumento de 1,51%. Entre 2022 e 2023, enquanto o rendimento médio domiciliar
por pessoa cresceu 11,5%, o segmento dos 5% mais pobres teve elevação de 38,5%. Fatores Para o analista da pesquisa, Gustavo Geaquinto, três fatores
podem explicar o crescimento mais intenso da renda dos grupos mais pobres da
população. Um deles está relacionado aos programas sociais, em especial o Bolsa
Família, que chegou a R$ 600, com inclusão de R$ 150 por criança de até 6 anos
e o adicional de R$ 50 por criança ou adolescente (de 7 a 18 anos) e por
gestante. Outra explicação é a expansão do mercado de trabalho, com a
entrada de 4 milhões de pessoas no número de ocupados. “Pessoas que não
recebiam o rendimento de trabalho passaram a receber”. O pesquisador cita ainda o aumento do salário mínimo acima
da inflação. “O que afeta não apenas o rendimento do trabalho, mas também o
rendimento de aposentadorias e pensões e outros programas sociais, como o
Benefício de Prestação Continuada (BPC - um salário mínimo por mês ao idoso com
idade igual ou superior a 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer
idade). Em 2023 o salário mínimo teve dois reajustes e, em maio,
passou a valer R$ 1.320. A pesquisa do IBGE classifica como rendimento todo o
dinheiro obtido por meio de trabalho (considerando pessoas com 14 anos ou mais
de idade), aposentadoria, pensão, aluguel e arrendamento, pensão alimentícia,
doação e mesada de quem não é morador do domicílio, e a categoria outros, que
inclui rentabilidades de aplicações financeiras, bolsas de estudos e programas
sociais do governo - como Bolsa Família/Auxílio Brasil, seguro-desemprego e
BPC. Massa de rendimento Outra forma de observar a desigualdade no país é ao analisar
a distribuição da massa de rendimentos a cada segmento da população. Em 2023,
essa massa foi a maior já estimada para o país, alcançando R$ 398,3 bilhões, um
crescimento de 12,2% a mais que o de 2022, quando foi de R$ 355 bilhões. A parcela da população brasileira com os 10% dos menores
rendimentos respondia por apenas 1,1% dessa massa. Ou seja, de cada R$ 100 de
rendimento do país, R$ 1,1 era recebido por 10% da população com menor renda. Já os 10% dos brasileiros no topo da pirâmide recebiam 41%
da massa de rendimentos. Isto é, de cada R$ 100, R$ 41 foram recebidos pelos
10% de maior renda. Para se ter uma ideia do tamanho da concentração, os 80%
dos brasileiros com menores renda detinham 43,3% da massa nacional. Entre 2022 e 2023, a desigualdade entre topo e base da
pirâmide piorou um pouco. A participação dos mais ricos passou de 40,7% para
41% da massa. Para os mais pobres houve acréscimo de 1 para 1,1%. Comparando
antes e depois da pandemia, houve redução da desigualdade. A participação dos
mais ricos caiu de 42,8% (recuo de 1,8 ponto percentual); e a dos mais pobres
subiu de 0,8% (elevação de 0,3 ponto percentual). Índice de Gini A pesquisa do IBGE mostra o comportamento do Índice de Gini,
uma ferramenta que mede a concentração de renda da população. O indicador varia
de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade. O indicador de 2023 ficou em 0,518, o mesmo de 2022 e o
menor já registrado pela série histórica iniciada em 2012. O ponto mais
desigual foi em 2018, quando alcançou 0,545. O analista Gustavo Geaquinto explica que se a análise fosse
apenas com o rendimento proveniente do trabalho, haveria pequena variação
positiva do Índice de Gini, ou seja, aumento da desigualdade. Mas o movimento
foi compensado por efeitos de programas sociais. “Esse efeito, sobretudo do Bolsa Família, contrabalançou
isso, beneficiando principalmente os domicílios de menor renda, de forma a
manter a estabilidade desse indicador”, diz.
Bruno de Freitas Moura/Graça Adjuto, com foto: Marcello Casal Jr – Agência Brasil
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