09/04/2024
Moraes nega pedido para isentar rede social X no Brasil de ser afetada por ordens judiciais
BRASÍLIA, DF - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), negou nesta terça-feira (9) pedido da rede social X,
antigo Twitter, de isentar sua representação brasileira de ser afetada por
decisões judiciais tomadas no Brasil. A empresa queria que somente a sede
internacional respondesse em possíveis processos. Moraes rejeitou o pedido após a filial brasileira do X
alegar que não tem comando sobre as operações da rede social. Segundo o
escritório de advocacia que representa a rede no Brasil, a parte brasileira da
empresa opera somente com a comercialização de publicidade e monetização de
usuários. Na decisão, o ministro afirmou que a empresa busca
"imunidade jurisdicional" para não ser atingida por decisões da
Justiça brasileira. "A empresa requerente busca uma verdadeira cláusula de
imunidade jurisdicional, para a qual não há qualquer previsão na ordem jurídica
nacional. Pelo contrário: o fato de que uma das chamadas operadoras
internacionais compõe o seu quadro social sugere um abuso da personalidade
jurídica, pois poderia optar por não atender às determinações da Justiça
brasileira sem sofrer qualquer consequência, encoberta por sua representante no
Brasil", afirmou. No último final de semana, Moraes abriu um inquérito para
investigar o empresário Elon Musk, dono da rede social. Em postagens publicadas
na plataforma, Musk criticou o ministro Alexandre de Moraes e a Corte, além de
sugerir que iria desobedecer ordens judiciais contra a plataforma. O ministro também complementou que os administradores da
filial brasileira podem ser responsabilizados por eventuais condutas de
obstrução de Justiça e desobediência de ordens judiciais. Moraes considerou ainda que o pedido para restringir
eventuais punições "beira a litigância de má-fé". "Diante do exposto, não havendo dúvidas da plena e
integral responsabilidade jurídica civil e administrativa da X Brasil Internet,
bem como de seus representantes legais, inclusive no tocante a eventual
responsabilidade penal, perante a Justiça brasileira, indefiro o pedido",
completou. Entenda o caso No último sábado (6), o bilionário Elon Musk, dono da rede
social X e da fabricante de veículos elétricos Tesla, iniciou uma série de
postagens criticando o ministro Alexandre de Moraes e o STF. Ele usou o espaço para comentários do perfil do próprio
Moraes no X para atacá-lo. Em uma mensagem de 11 de janeiro, postada por Moraes
para parabenizar o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski por assumir o
Ministério da Justiça e Segurança Pública, Musk questionou: “Por que você exige
tanta censura no Brasil?”. Em outra postagem, ainda no sábado, Musk prometeu “levantar”
[desobedecer] todas as restrições judiciais, alegando que Moraes ameaçou
prender funcionários do X no Brasil. No domingo, dia 7, Musk acusou Moraes de
trair “descarada e repetidamente a Constituição e o povo brasileiro”.
Sustentando que as exigências de Moraes violam a própria legislação brasileira,
Musk defendeu que o ministro renuncie ou seja destituído do cargo. Pouco
depois, ele recomendou aos internautas brasileiros utilizarem uma rede privada
virtual (VPN, do inglês Virtual Private Network) para acessar todos os recursos
da plataforma bloqueados no Brasil. No próprio domingo, o ministro Alexandre de Moraes
determinou a inclusão do multibilionário entre os investigados do chamado
Inquérito das Milícias Digitais (Inq. 4.874), que apura a atuação criminosa de
grupos suspeitos de disseminar notícias falsas em redes sociais para
influenciar processos políticos. Na mesma decisão, Moraes ordenou a instauração de um
“inquérito por prevenção” para apurar as condutas de Musk. Após os ataques de Musk, lideranças governistas do Congresso
Nacional voltaram a defender a necessidade de se aprovar a regulação das
plataformas digitais no Brasil. Por outro lado, líderes da oposição saíram em
defesa do dono da plataforma X, reforçando tese de censura e de violação da
liberdade de expressão. Para juristas ouvidas pela Agência Brasil, a decisão de
Moraes está fundamentada em um contexto de ameaças às instituições.
André Richter/Carolina Pimentel – Agência Brasil, com foto: Nelson Jr/SCO-STF
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