04/04/2024
Mãe acusada de matar o filho com ajuda da companheira chora em depoimento: “eu sou um mostro”
IMBÉ, RS - Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues chorou, durante
interrogatório nesta quinta-feira (4), ao relembrar o momento em que viu o
filho morto. Ela e a então companheira, Bruna Nathiele Porto da Rosa, respondem
pelo assassinato do menino Miguel dos Santos Rodrigues, de sete anos, em julho
de 2021 em Imbé, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. As informações são do g1. Yasmin só respondeu a perguntas feitas pela sua defesa, sem
atender o juiz e o Ministério Público. Bruna aceitou responder a perguntas de
todas as partes, menos as da defesa de Yasmin (veja mais abaixo detalhes do
depoimento da madrasta). No início de sua fala, a ré contou detalhes de sua história
de vida. A mãe afirmou que sua então companheira, Bruna, teria trancado Miguel
no guarda-roupas. "Eu sou um monstro. Na verdade, eu sou muito monstro.
Porque, se eu estou aqui hoje, é porque eu errei pra caramba. Se eu tô aqui, tá
todo mundo aqui, é porque eu fui péssima como mãe, como ser humano. Mas eu
jamais imaginei que que ela pudesse fazer isso", disse. Aos prantos, a ré ainda relatou como foi o momento em que
levou o filho morto para jogá-lo no Rio Tramandaí. "Eu vi a Bruna embaixo da mesa sentada tipo em posição
fetal. Eu olhei pra ela e eu perguntei: 'cadê o Miguel?' Eu saí correndo para
dentro do quarto do banheiro. Eu vi o Miguel deitado. Ele tava todo gelado,
todo roxo. Eu mostrei para ela e eu perguntei o que tinha acontecido e ela
falou que ele estava morto. O Miguel estava roxo e duro. Como que eu ia ir pra
algum lugar e dizer que eu não matei, que eu só dei fluoxetina pro meu filho e
que ele morreu com fluoxetina, que era um remédio que ele nunca tinha tomado.
Então eu peguei ele no colo. Ele não estava vestido adequado, estava frio. Eu
vesti um casaco bem quentinho, botei uma calça quente. Ela levantou e veio com
a mala e falou que a gente tinha que a gente tinha que fazer alguma coisa...
Ele estava quentinho. Ele estava um agasalhado. Aí eu peguei e botei. Eu botei
ele lá. Eu botei ele e levei até o rio", disse, chorando. Yasmin disse que sentiu mágoa quando o filho manifestou que
não queria ser mais abraçado pela mãe e que, a partir de então, pediu para que
a avó materna cuidasse do menino. Segundo a defesa, Yasmin bateu em Miguel e deu o remédio
para o menino no dia da morte. Ao ser questionada pela defesa se merecia ser
condenada, Yasmin respondeu: "óbvio". Interrogatório de Bruna, a madrasta Bruna iniciou seu depoimento admitindo participação na
tortura psicológica e na ocultação do cadáver de Miguel. A madrasta também
disse que acompanhou Yasmin no momento em que o corpo do menino foi lançado no
Rio Tramandaí. "Eu tenho a ver com a tortura e a ocultação, a morte
não", disse. Mais cedo, o júri ouviu testemunhas do caso, como policiais
militares que atenderam a ocorrência, o delegado que investigou o crime e as
proprietárias dos imóveis onde as acusadas moraram. No Tribunal do Júri, elas respondem pelos crimes de
homicídio triplamente qualificado, tortura e ocultação de cadáver. As
qualificadoras são motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a vítima.
As duas rés estão presas preventivamente desde a época do crime. Após o depoimento das testemunhas e o interrogatório das
rés, tem início a argumentação de defesa e acusação, que deve ocorrer na
sexta-feira (5). Por fim, o conselho de sentença, formado por sete jurados,
define se as rés serão inocentadas ou condenadas. Testemunhas O primeiro depoimento foi do delegado Antônio Ractz, que
investigou o caso, ocorrido em Imbé, em 2021. Ractz narrou como foi a
investigação, a partir do registro da ocorrência, pela mãe, Yasmin, relatando o
suposto desaparecimento da criança. Ele diz que desconfiou da conduta da mãe. "Foi a pessoa mais fria que já vi na minha vida. A
ausência total de sentimentos. Ela preocupada com a temperatura do ar
condicionado, e eu queria saber da criança", disse Antônio. O delegado relembrou que Yasmin forçava o menino Miguel a
escrever "eu sou idiota", "eu não mereço a mãe que tenho",
"eu sou ruim". O policial militar Ícaro Ben-Hur Pereira relatou como foi a
confissão da mãe de Miguel. Ela teria dito que deu um remédio psiquiátrico
misturado a um caldo de feijão. "Disse que ele já estava gelado, mandíbula cerrada, que
ele não tinha mais respiração. Ela disse que colocou ele dentro de uma mala e
que caminhou de Imbé, na residência, até o Rio Tramandaí. Ali ela abriu a mala
e deixou ele cair no rio", disse o PM. O júri também ouviu a dona da pousada onde Miguel vivia com
a mãe e a madrasta. Juraci Martins disse que raramente via a criança na rua. A
mulher ainda relatou que teve que colocar móveis e roupas de cama fora, porque
as inquilinas deixaram o apartamento em mau estado. A promotora de vendas Kelly
Dias Hoffmann, que alugou um imóvel para as rés, também foi ouvida. Outros PMs que atenderam a ocorrência prestaram depoimento.
Jeferson Luciano Segatto disse que a mãe do menino "não demonstrava nenhum
motivo de sentimento e uma tranquilidade absurda". O policial Alisson
Garcia Martins falou do primeiro chamado feito pelo telefone 190. Relembre o caso O crime chocou o país em 2021, quando a criança foi
assassinada, segundo a acusação, porque atrapalharia o relacionamento entre as
rés. O corpo de Miguel teria sido jogado em um rio de Imbé, na cidade onde a
família morava, e nunca foi encontrado. Na madrugada de 28 de julho de 2021, Yasmin Vaz dos Santos
Rodrigues deu remédios ao filho Miguel e o colocou dentro de uma mala. À época,
em depoimento à polícia, ela informou não ter certeza se a criança estava viva
ou morta. De acordo com o delegado do caso, Antonio Carlos Ractz
Júnior, "para fugir, com medo da polícia, [Yasmin] saiu de casa, pegando
ruas de dentro, não as avenidas principais, levou a criança dentro de uma mala
na beira do rio, e jogou o corpo. Repito, ela não tem convicção de que o filho
estava morto". Na noite do dia 29 de julho de 2021, exatamente um dia após
a morte de Miguel, Yasmin foi até a delegacia registrar o desaparecimento do
filho. Segundo Ractz, "ao anoitecer, a mãe dessa criança, com a sua
companheira, procurou a DPPA de Tramandaí, a fim de registrar uma ocorrência
policial de desaparecimento de seu filho". No registro, ela "alegou que o filho havia desaparecido
há dois dias e que ainda não havia procurado a polícia porque pesquisou no
Google e viu que teria que aguardar 48h. E começou a apresentar uma série de
contradições, o que levou desconfiança da Brigada Militar e Polícia
Civil", disse o delegado. A investigação revelou que a mãe e a companheira, Bruna
Nathiele Porto da Rosa, estavam envolvidas do crime. Conforme a polícia, elas
andaram cerca de 2 km, levando uma mala na qual estaria o corpo do menino. Em 29 de julho, Yasmin é presa suspeita de matar o filho e
jogar o corpo em um rio. De acordo com a polícia, o menino vivia sob intensa
tortura física e psicológica. Um dia depois, a prisão foi convertida em
preventiva e ela foi encaminhada ao Presídio de Torres. Segundo o delegado
responsável pelo caso, Antonio Carlos Ractz, em depoimento à polícia, a mulher
confessou o crime. A companheira de Yasmin, Bruna Nathiele Porto da Rosa,
também foi denunciada pelos mesmos crimes, respondendo por homicídio, tortura e
ocultação de cadáver. As duas mulheres estão presas preventivamente desde
então.
g1, com fotos: Reprodução/TJRS
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