16/03/2024
Ex-comandante do Exército ameaçou prender Bolsonaro caso ele seguisse com tentativa de golpe
BRASÍLIA, DF - O tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida
Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, disse em depoimento à Polícia
Federal (PF) que o general Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do
Exército, ameaçou prender o ex-presidente Jair Bolsonaro caso levasse adiante
uma tentativa de golpe de Estado. O depoimento foi dado no inquérito sobre uma trama golpista
elaborada na cúpula do governo de Bolsonaro. O sigilo sobre as declarações foi
tirado nesta sexta-feira (15) pelo relator do caso no Supremo Tribunal Federal
(STF), ministro Alexandre de Moraes. "Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro,
aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns
institutos previstos na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de
sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso
tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”, disse o
ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB). Ainda segundo Baptista Jr, Freire Gomes desincentivou
Bolsonaro a se valer de teses jurídicas estranhas para dar um golpe, como a
decretação de estado de sítio, estado de defesa, ou Garantia da Lei e da Ordem
(GLO). Segundo relatório da PF, Baptista Jr. disse que, em reunião
com Bolsonaro, ele próprio deixou claro que se opunha a qualquer plano golpista
e que não havia mais possiblidade do então presidente permanecer no cargo. "Em outra reunião de comandantes das Forças com o então
presidente da República, o depoente deixou evidente a Jair Bolsonaro que não
haveria qualquer hipótese do então presidente permanecer no poder após o
término do seu mandato. Que deixou claro ao então presidente Jair Bolsonaro que
não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional para mantê-lo no
poder”, diz o relatório da PF sobre o depoimento. Carlos-Almeida Baptista Júnior acrescentou ter participado
de cinco ou seis reuniões com Bolsonaro e os outros comandantes das Forças
Armadas, após a eleição presidencial de 2022. O tenente-brigadeiro disse ter
alertado o presidente que não havia fraude nas urnas eletrônicas, tese
defendida pelos apoiadores de Bolsonaro para justificar a permanência no poder. Segundo contou a PF, o ex-comandante disse que Bolsonaro era
atualizado sobre os trabalhos do representante da Aeronáutica na Comissão de
Fiscalização das Eleições, sendo avisado que nenhuma fraude havia sido
encontrada na votação do primeiro ou do segundo turno. O único que “colocou as tropas à disposição” de Bolsonaro,
de acordo com Baptista Jr., foi o almirante Almir Garnier, ex-comandante da
Marinha. Indagado sobre quando lhe foi apresentada uma minuta para a
decretação de golpe, Baptista Jr. disse que o documento foi exibido aos
comandantes das Forças Armadas em reunião no Ministério da Defesa, em 14 de
dezembro de 2022, pelo então titular da pasta, general Paulo Sérgio de
Oliveira. De acordo com o relato do ex-comandante da Aeronáutica,
Oliveira colocou a minuta sobre uma mesa e disse que gostaria de apresentar o
documento “para conhecimento e revisão”. “Que o depoente entendeu que haveria uma ordem que impediria
a posse do novo governo eleito; Que, diante disso, o depoente disse ao Ministro
da Defesa que não admitiria sequer receber esse documento; Que a Força Aérea
não admitiria tal hipótese (Golpe de Estado)”, diz a transcrição do depoimento
de Baptista Jr, feita pela PF. Pelo depoimento do ex-comandante da FAB, o ex-comandante do
Exército, Freire Gomes, “expressou que também não concordaria com a hipótese de
analisar o conteúdo da minuta”. Baptista Jr. disse ter se retirado da sala em
seguida, mas acrescentou que, enquanto esteve na reunião, o ex-comandante da
Marinha, Almir Garnier, “não expressou qualquer reação contrária ao conteúdo da
minuta”. Baptista Jr. disse ainda aos investigadores que, ao
comunicar o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
general Augusto Heleno, que não aderiria a nenhuma "virada de mesa",
este teria ficado "atônito" com a afirmação.
Felipe Pontes/Aline Leal – Agência Brasil, com foto: Primeiro Sargento Sionir/Exército Brasileiro
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