08/02/2024
Bolsonaro ajudou a produzir minuta que previa golpe e prisão de ministros do STF, diz Polícia Federal
BRASÍLIA, DF - Investigação da Polícia Federal (PF) aponta
que o ex-presidente Jair Bolsonaro solicitou mudanças na minuta de decreto com
o qual pretendia executar um golpe de Estado no país. A informação consta da
decisão assinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de
Moraes, que autorizou mandados de busca e apreensão e prisão dos envolvidos. Segundo a PF, a minuta inicial previa as prisões dos
ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e do presidente do
Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Após receber o texto, apresentado por Filipe Martins, ex-assessor
especial da Presidência para Assuntos Internacionais que foi preso
preventivamente nesta quinta-feira (8), Bolsonaro solicitou mudanças a Martins.
Na nova versão, permaneceram a prisão de Moraes e a convocação de novas
eleições. O advogado Amauri Saad também foi alvo da operação. “Conforme descrito, os elementos informativos colhidos
revelaram que Jair Bolsonaro recebeu uma minuta de decreto apresentado por
Filipe Martins e Amauri Feres Saad para executar um golpe de Estado, detalhando
supostas interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e, ao final,
decretava a prisão de diversas autoridades, entre as quais os ministros do
Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco e, por fim, determinava a realização de
novas eleições. Posteriormente, foram realizadas alterações a pedido do então
presidente, permanecendo a determinação de prisão do ministro Alexandre de
Moraes e a realização de novas eleições”, diz trecho da decisão. Reunião com comandantes Após ter concordado com o novo texto, Bolsonaro, conforme a
Polícia Federal, convocou uma reunião com os comandantes das Forças Armadas -
almirante Almir Garnier Santos (Marinha), general Marco Antonio Freire Gomes
(Exército) e brigadeiro Carlos de Almeida Batista Júnior (Aeronáutica) - “para
apresentar a minuta e pressioná-los a aderirem ao golpe de estado”. O encontro
foi realizado no dia 7 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada. Monitoramento de Moraes Os policiais federais identificaram ainda que o grupo
monitorou Alexandre de Moraes para “executar a pretendida ordem de prisão, em
caso de consumação do golpe de estado”. A investigação mostrou monitoramento de deslocamentos de
Moraes entre Brasília e São Paulo nos dias 15, 21, 24 e 31 de dezembro de 2022,
a partir de mensagens trocadas entre Mauro Cid, ajudante de ordens de
Bolsonaro, e o coronel do Exército, Marcelo Camara, que atuou como assessor
especial da Presidência da República. Nas mensagens, Mauro Cid se referia ao
ministro do Supremo pelo termo “professora”. “A investigação constatou que os deslocamentos entre
Brasília e São Paulo do ministro Alexandre de Moraes são coincidentes com os da
pessoa que estava sendo monitorada e acompanhada pelo grupo. Assim, o termo
"professora" utilizado por Mauro Cid e Marcelo Camara seria um
codinome para a ação que tinha o Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal, e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como alvo”,
informou a Polícia Federal. Para a polícia, o monitoramento “demonstra que o grupo
criminoso tinha intenções reais de consumar a subversão do regime democrático,
procedendo a eventual captura e detenção do Chefe do Poder Judiciário
Eleitoral”.
Carolina Pimentel/Kleber Sampaio – Agência Brasil, com foto: Carolina Antunes/PR
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