28/01/2024
Descredibilização da imprensa cai 91% com a saída de Bolsonaro da prioridade na cobertura jornalística
BRASÍLIA, DF - A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
publicou na semana passada, na íntegra, o Relatório da Violência contra
Jornalistas e Liberdade de Imprensa. O número total já havia sido divulgado há
alguns dias, indicando que foram 181 casos em 2023, uma redução de 51,86% em
relação a 2022. Dessa vez, foram apresentados outros detalhes, como os tipos de
agressão, as diferenças por gênero e estado, assim como os principais
agressores. A presidenta da Fenaj, Samira de Castro, explica que
mudanças em dois tipos de agressão foram decisivas para o resultado. E
envolveram o ex-presidente da República Jair Bolsonaro e a Empresa Brasil de
Comunicação (EBC). “Números caíram principalmente em função da queda da
categoria ‘descredibilização da imprensa’, uma estratégia adotada pelo
Bolsonaro durante o seu governo, que acabou em 2022. Só para comparar, foi uma
queda de 91,95% dessa categoria de um ano para o outro. E também houve uma
queda da censura de 91,53%, sobretudo em função da mudança de comando na
Empresa Brasil de Comunicação, que era um foco de censura contra o trabalho dos
jornalistas, promovida por gestores públicos e que representaram um caso gravíssimo
contra a liberdade de imprensa no país”, disse Samira. O relatório aponta que, de 2019 a 2022, o ex-presidente foi
responsável por 570 ataques contra veículos de comunicação e jornalistas. Uma
média de 142,5 agressões por ano e uma agressão a cada dois dias e meio. O que,
para a Fenaj, significa uma “violência verdadeiramente institucionalizada”.
Chama a atenção, porém, que foram registrados mais casos em 2023 (181) do que
os contabilizados em 2018 (135), antes do governo Bolsonaro. Em 2023, descredibilização da imprensa e censura deixaram de
figurar entre os cinco primeiros tipos de agressão. A lista agora é liderada
por ameaças, hostilizações e intimidações (42 casos); agressões físicas (40);
agressões verbais, ataques virtuais (27); cerceamento à liberdade de imprensa
por ações judiciais (25); impedimentos ao exercício profissional (13). A Fenaj destaca que, apesar da queda geral, o número de
casos de violência contra jornalistas ainda é alto no país. E que alguns tipos
se mostram mais preocupantes, como o crescimento de 92,31% das ações judiciais
que tem como objetivo cercear à liberdade de imprensa. E o ataque contra
sindicatos e sindicalistas, que aumentaram 266,67% de um ano para o outro. Segmentos Quando se consideram os principais agressores, lideram a
lista: políticos, assessores, parentes (44 casos); manifestantes de
extrema-direita (29); populares (17); policiais civis e militares (14);
dirigentes, jogadores e torcedores de futebol (11). Já os principais tipos de
mídias e veículos em que foram registradas as agressões são: televisão (81
casos), mídia digital (79), jornal (42), rádio (17) e assessoria de imprensa
(6). Na divisão de vítimas por gêneros, homens foram 179 dos
casos, mulheres por 66 e outros 17 não se identificaram com as duas opções. O
resultado chama a atenção pela diferença alta entre os gêneros, uma vez que as
mulheres estão presentes em grande número na imprensa. “O relatório não leva em conta a questão do assédio sexual e
moral. São violências cotidianas para mulheres no exercício do jornalismo, mas
que não têm obrigatoriamente o objetivo de impedir a circulação livre da
informação jornalística. São casos que os sindicatos tratam no âmbito da
justiça do trabalho. Há assédios que fazem com que a jornalista não divulgue
alguma informação. Esses casos estão no relatório. E é preciso considerar
também a subnotificação. Muitas mulheres jornalistas, às vezes, sequer percebem
que foram vítimas de violência quando são, por exemplo, desqualificadas no
exercício do trabalho”, explica Samira de Castro. A violência também afeta os jornalistas de forma diferente
pelo país. Os maiores números foram identificados na região Sudeste (47),
seguida de Nordeste (45), Centro-Oeste (40), Sul (30) e Norte (19). Na análise
por estados e unidades da federação, os que têm mais casos são Distrito Federal
(21) e São Paulo (21), Mato Grosso do Sul (19) e Rio de Janeiro (19), e Rio
Grande do Sul (12). “A sociedade brasileira precisa entender que a violência
contra os jornalistas é um ataque à democracia. No 8 de janeiro, quando dezenas
de colegas foram agredidos em Brasília, na Praça dos Três Poderes, a
extrema-direita usou táticas e adotou modus operandi para tentar calar a
imprensa e os profissionais que atuam no jornalismo”, ressalta a presidenta da
Fenaj.
Rafael Cardoso/Aline Leal – Agência Brasil, com foto: Marcos Corrêa/PR
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