28/01/2024
Abin apura por que Ramagem não devolveu notebook e celular quando deixou a agência, em 2022
BRASÍLIA, DF - Há quase dois anos a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) tenta reaver o notebook e o aparelho celular que policiais
federais apreenderam nessa quinta-feira (25), em um endereço ligado ao deputado
federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O parlamentar dirigiu a Abin entre julho de 2019 e março de
2022, quando deixou o cargo para disputar um assento na Câmara dos Deputados.
Ontem, ele se tornou alvo da Operação Vigilância Premiada, deflagrada para
investigar a suspeita de que ex-dirigentes e servidores da agência monitoraram
ilegalmente autoridades públicas, jornalistas e políticos que se opunham ao
então presidente da República Jair Bolsonaro. Ao cumprir mandados judiciais de busca e apreensão no
gabinete e em endereços residenciais do deputado, os policiais federais
apreenderam celulares e notebooks, incluindo os pertencentes à Abin. Diante da repercussão da notícia de que Ramagem manteve
consigo um telefone celular e um notebook pertencentes à Abin, a agência de
inteligência decidiu abrir, nesta sexta-feira (26), apuração preliminar para
esclarecer o por que disso ter ocorrido. O órgão informou que, ao deixar a agência, Ramagem teve suas
senhas de acesso aos sistemas internos bloqueadas. Agora, a Abin vai apurar se
seu ex-diretor devolveu todos os equipamentos funcionais que estavam sob sua
responsabilidade. A legislação em vigor (Lei Nº 8.429/1992) configura como ato
de improbidade administrativa a incorporação ao patrimônio pessoal ou o uso em
proveito próprio, por servidores públicos, de bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial público, bem como qualquer ação ou omissão
que cause perda patrimonial, desvio, apropriação ou dilapidação dos bens
públicos. A Agência Brasil contatou a assessoria do deputado federal
em busca de uma manifestação sobre o assunto, mas não obteve resposta. Entenda o caso A Operação Vigilância Aproximada, deflagrada ontem, é um
desdobramento da Operação Última Milha, realizada em outubro do ano passado
para apurar o suposto uso irregular, por servidores da Abin, de um sistema de
geolocalização de celulares. A suspeita é que os servidores usaram sem autorização
judicial o sistema, chamado First Mile, para monitorar ilegalmente adversários
políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro, que indicou Ramagem, então delegado
federal, para chefiar a Abin. Investigações da PF indicam que a estrutura da agência foi
usada para monitorar, entre outras autoridades públicas, a promotora
responsável pela investigação do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro
Marielle Franco, ocorrido em março de 2018. A operação desta quinta-feira foi autorizada pelo ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator das
investigações na Corte. Em nota divulgada ontem, a Abin informou que há dez meses
vem colaborando com o inquérito da PF e do STF “sobre eventuais irregularidades
cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021” e
que “é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará
colaborando com as investigações”.
Alex Rodrigues/Marcelo Brandão, com foto: VCampanato – Agência Brasil
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