19/01/2024
Controladoria Geral da União conclui que certificado de vacinação de Bolsonaro é falso
BRASÍLIA, DF - Uma investigação da Controladoria-Geral da
União (CGU) concluiu que é falso o registro de imunização contra a covid-19 que
consta do cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro. A investigação
originou-se de um pedido à Lei de Acesso à Informação (LAI) formulado no fim de
2022. Os dados atuais do Ministério da Saúde, que aparecem no
cartão de vacinação, apontam que o ex-presidente se vacinou em 19 de julho de
2021 na Unidade Básica de Saúde (UBS) Parque Peruche, na zona norte de São
Paulo. A CGU, no entanto, constatou que Bolsonaro não estava na capital
paulista nessa data e que o lote de vacinação que consta no sistema do
Ministério da Saúde não estava disponível naquela data na UBS onde teria
ocorrido a imunização. Segundo registros da Força Aérea Brasileira (FAB), o
ex-presidente voou de São Paulo para Brasília um dia antes da suposta vacinação
e não fez nenhum outro voo até pelo menos 22 de julho de 2021. Os auditores
também tomaram depoimentos de funcionários da UBS, que afirmaram não terem
visto Bolsonaro no local na data informada e negaram ter recebido pedidos para
registrar a imunização. Entre as pessoas ouvidas, estava a enfermeira indicada no
cartão de vacinação. A funcionária não apenas negou o procedimento, como
comprovou, por meio de documentos, não trabalhar mais na UBS na data que consta
nos registros do Ministério da Saúde. Os auditores da CGU também verificaram os
livros físicos mantidos pela UBS para registro da vacinação da população e não
encontraram a presença do ex-presidente no local em 19 de julho de 2021. Fraude estadual A CGU concluiu que a fraude ocorreu no sistema estadual.
Segundo as investigações, todos os funcionários da UBS dividiam o mesmo login e
senha do sistema VaciVida, mantido pela Secretaria Estadual de Saúde de São
Paulo. Como não foi possível encontrar um agente público responsável, a CGU
recomendou o arquivamento do caso, mas enviará os resultados das investigações
às autoridades do estado e do município de São Paulo para a adoção das
providências cabíveis. A Controladoria informou ter feito diligência no Ministério
da Saúde e confirmado a segurança do sistema mantido pela pasta para
recebimento das informações enviadas pelos estados e pelos municípios, com a
impossibilidade de os dados terem sido inseridos em nível federal. Os auditores
não encontraram suspeitas de que algum servidor público federal tenha alterado
os dados. Outros registros Esse não foi o primeiro cadastro de vacinação contra a
covid-19 atribuído a Bolsonaro. Outros dois registros, que teriam ocorrido em
Duque de Caxias (RJ), foram efetuados por agentes municipais e cancelados antes
da investigação da CGU. As suspeitas de um esquema de fraude em cartões de
vacinação, que envolveria um secretário municipal, levaram à Operação Venire da
Polícia Federal, que resultou na prisão do tenente-coronel Mauro Cid,
ex-ajudante de ordens da Presidência da República em maio do ano passado. Na época da prisão de Mauro Cid, a defesa de Bolsonaro
afirmou não haver provas suficientes de envolvimento direto do ex-presidente no
caso. Em depoimento à Polícia Federal em maio do ano passado, Bolsonaro afirmou
estar à disposição da Justiça e negou ter fornecido quaisquer orientações a
subordinados para mudar seus registros de vacinação.
Marcelo Brandão – Agência Brasil, com foto: Alan Santos/PR
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