18/01/2024
Nordeste tem 25, das 60 redações nota mil do Enem: “resultado avassalador”, enaltece professor
BRASÍLIA, DF - A região Nordeste foi a região que concentrou
o maior número de redações nota 1 mil no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
2023. Ao todo, 25 dos 60 estudantes que tiraram a nota máxima em todo o país
são de estados nordestinos. Somando a região com o Norte do país, com cinco
estudantes, ambas têm metade dos estudantes nota 1 mil na prova aplicada no
final do ano passado. No Piauí, estão seis estudantes. O estado, junto com Rio
Grande do Norte e Rio Grande do Sul – cada um também com seis estudantes nota 1
mil –, só é superado pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, cada um com sete
estudantes. Para o diretor do colégio Equação Certa, em Teresina, Fernando
Gomes, o resultado é fantástico. Na escola, estão três estudantes que obtiveram
nota máxima. Mas, segundo ele, trata-se do fruto de um trabalho que já vinha
sendo realizado com os alunos. “Para a gente é algo fantástico, nos deixa muito felizes.
Mas não é algo novo, é algo que a gente já vem produzindo”, diz, Gomes. A
escola já teve outros três alunos nota 1 mil, mas um por ano. Agora foram três
juntos. “A gente vinha batendo na trave, muitos alunos tiravam nota 980”. Além
disso, ele ressalta a conquista do estado. Com menos estudantes que Rio de
Janeiro ou São Paulo, o Piauí teve quase a mesma quantidade de alunos nota 1
mil. “Se fosse para comparar proporcionalmente, eles teriam que
ter 60 notas 1 mil”, calcula o diretor. “Então, proporcionalmente, é um
resultado avassalador”, comemora. Uma das estudantes que obteve a pontuação máxima foi Millena
Martins, 19 anos. “A sensação com o resultado do Enem é de muita felicidade e
realização por ter alcançado a nota máxima. Tanto minha quanto dos meus amigos
e familiares que sempre me apoiaram no processo”, diz a estudante que pretende
cursar medicina. “O meu preparo foi, basicamente, treinar semanalmente,
fazendo em média duas redações por semana e corrigindo já na semana seguinte,
focando nos erros para que eu pudesse melhorar o mais rápido possível a minha
redação e chegar a um texto de excelência”, diz Martins. Aumento nas notas 1 mil O número de estudantes nota 1 mil mais que triplicou entre o
Enem 2022 e a última edição. Na primeira, foram 18 candidatos com a nota
máxima, no Enem 2023, 60. A professora e pesquisadora em linguística aplicada
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcia Mendonça, pesquisa o
ensino e aprendizagem da língua portuguesa. Para ela, os números mostram uma
possível retomada do Enem, que, ao longo dos últimos anos, contou com menos
candidatos inscritos. “Eu acho que o aumento das notas reflete um investimento
maior por parte das escolas na preparação dos alunos, o que pode ser
compreendido, talvez, como um indicador de maior confiança no exame e de uma
certa retomada na normalidade do crescimento, na abrangência desse exame, na
importância dele”. O tema da redação, “Desafios para o enfrentamento da
invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, também
pode ter ajudado no desempenho dos estudantes, de acordo com a pesquisadora. “Eu acho que o tema tinha uma relevância social grande, é
uma pauta que está presente no debate social, ou seja, não é um tema longe dos
estudantes. Isso certamente ajudou o candidato a se aproximar da coletânea, a
se aproximar da organização do texto solicitado. Então, a escolha do tema, sim,
imagino que tenha sido positiva nesse sentido”. Escolas públicas Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nessa terça-feira (16) mostram
também que do total de 60, apenas quatro candidatos são oriundos da rede
pública de ensino, sendo que 40% do total dos estudantes que participaram do
exame nacional são da rede pública. Esse resultado pode ter diversas causas, de acordo com o
professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Paulo Carrano. Segundo ele, essas causas vão desde a infraestrutura das escolas
até a situação socioeconômica das famílias e dos territórios. E passam também
pelo fato de, muitas vezes, estudantes precisarem conciliar os estudos com o
trabalho. “A gente está ainda correndo atrás de uma dívida social acumulada que
o Brasil tem com as suas juventudes”, diz. Muitos estudantes que concluíram o ensino médio em 2023
deixaram de fazer o Enem. Dados do Ministério da Educação mostram que cerca de
metade dos estudantes que estavam concluindo a etapa ano passado não
participaram da última edição do Enem. Diante dessa situação o ministro da
Educação, Camilo Santana, anunciou que alunos do 3º ano do ensino médio vão
receber incentivo financeiro para participar do exame. Também na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva sancionou a lei que cria uma espécie de poupança para que estudantes de
baixa renda concluam o ensino médio. “Ter também esse suporte que permite que os jovens saquem
mensalmente um recurso para se manter é muito importante. Então, eu acredito
que nos próximos anos essa política de suporte, de bolsa mensal e poupança ao
final, vai ter resultado. Porque vai incidir exatamente nesse fator de evasão,
de desengajamento, que é essa força centrífuga que afasta o jovem do ambiente
escolar, que é o mundo do trabalho, que é a precarização da vida”, analisa
Carrano.
Mariana Tokarnia/Marcelo Brandão, com foto: Rafa Neddermeyer – Agência Brasil
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