26/12/2023
Recorde: PF apreende em 2023 mais de R$ 2 bilhões em dinheiro do tráfico; 226% a mais que no ano passado
BRASÍLIA, DF - A Polícia Federal apreendeu, de janeiro a
novembro deste ano, R$ 2,07 bilhões em bens e valores de grupos criminosos
envolvidos com o tráfico de drogas – um recorde na série histórica iniciada em
2014. A informação é do g1. Entram na conta: dinheiro vivo encontrado nas operações de
busca; valores em contas bancárias; e bens, como imóveis e carros, sequestrados
e bloqueados por ordem da Justiça. Os dados são da Coordenação-Geral de Repressão a Drogas,
Armas, Crimes contra o Patrimônio e Facções Criminosas (CGPRE), da PF. Na comparação com 2022, quando foram retirados R$ 635,8
milhões em bens e dinheiro do tráfico de drogas, o total apreendido neste ano é
226% superior. O valor de R$ 2,07 bilhões apreendido em 2023 supera o
Produto Interno Bruto (PIB) de diversos municípios brasileiros até 100 mil
habitantes, como Gramado (RS) (R$ 2,02 bilhões), Mairiporã (SP) (R$ 1,9 bilhão)
e Paraty (RJ) (R$ 1,7 bilhão), conforme dados de 2020 divulgados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). R$ 900 mi em uma única operação Somente na operação Downfall, realizada pelos policiais
federais do Paraná em maio deste ano, foram apreendidos mais de R$ 900 milhões,
boa parte em imóveis e obras usados por traficantes internacionais para lavar
dinheiro. Na ocasião, após a investigação de um esquema criminoso
complexo, a PF cumpriu 30 mandados de prisão e 87 de busca e apreensão no
Paraná e em outros sete estados. Essa operação é considerada a maior do ano
contra o tráfico de drogas. Já na manhã desta quinta-feira (7), a PF fez operação para
cumprir 13 mandados de prisão temporária e 18 de busca e apreensão contra
traficantes que atuam no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O grupo é suspeito de enviar drogas para o exterior em
bagagens. As apreensões realizadas nesta quinta não foram contabilizadas no
balanço divulgado pela PF ao g1. De um lado, os altos valores retirados do tráfico pela
polícia demonstram o tamanho do crime organizado no país. De outro, indicam que
a PF tem focado na descapitalização das quadrilhas e na prisão dos líderes,
diretrizes que a cúpula da corporação atribui a um "amadurecimento
institucional" conquistado ao longo dos últimos dez anos. Apreensões de cocaína e maconha Embora as apreensões de bens e valores do tráfico tenham
crescido, as apreensões de cocaína e maconha diminuíram, na comparação com os
últimos anos. Mesmo com a queda, segundo os dados da PF, as apreensões de
droga se mantêm acima da média da série histórica — e ainda faltam os
resultados de dezembro para fechar o total de 2023. Foco no dinheiro Chefe da CGPRE, o delegado Júlio Danilo Souza Ferreira,
explicou ao g1 que a Polícia Federal tem dado, nos últimos anos, mais ênfase à
retirada do dinheiro e de bens das organizações criminosas do que à apreensão
de drogas. "As apreensões são importantes para tirar a droga de
circulação. A droga é um ativo importante para a organização criminosa, então
ela tem um prejuízo com isso. Mas não focamos simplesmente na apreensão e no
transportador", disse o delegado. "O transportador [quando preso] é facilmente
substituído, um motorista de caminhão, um piloto de avião. Nós focamos em quem
está negociando aquela droga, quem está pagando por ela, quem está obtendo
lucro", completou Júlio Danilo. Segundo o delegado Milton Neves, a apreensão da droga, que
já foi prioridade no passado, hoje é vista como um complemento de uma
investigação em curso ou como o início de uma apuração maior. "Anos atrás, pegava-se a droga e o transportador, e o
trabalho parava por aí. Hoje, não. Essa é apenas uma parte do trabalho. É uma
maturidade institucional que vem fortalecendo a questão da descapitalização e
da prisão de lideranças", declarou Neves. O montante de R$ 2,07 bilhões de valores e bens apreendidos
neste ano não inclui os prejuízos causados às facções criminosas com as drogas
retidas no período. Uma das orientações atuais da PF é não divulgar estimativa
de valor das drogas — diferentemente do que era feito no passado, quando
policiais calculavam os prejuízos do tráfico pelo preço final dos entorpecentes
no mercado, superestimando-os. Recorde de armas apreendidas De acordo com os dados da PF, de janeiro a novembro de 2023,
a corporação também registrou recorde de apreensão de armas de fogo: 4.244
unidades, mais que o dobro do ano passado. Considerando que se trata de um dado nacional, o número da
PF pode não parecer grande. Vale ressaltar que boa parte das armas ilegais é
apreendida pelas polícias estaduais — por isso não entra no cálculo da PF. No início deste mês, a Polícia Federal realizou uma de suas
maiores operações contra o tráfico de armas, envolvendo um grupo suspeito de
vender cerca de 43 mil armas para as principais facções brasileiras do Rio e de
São Paulo. A Justiça Federal na Bahia, onde a investigação começou,
expediu 25 mandados de prisão preventiva, seis de prisão temporária e 52 de
busca e apreensão em três países: Brasil, Estados Unidos e Paraguai — onde
estava o principal investigado, o argentino Diego Hernan Dirísio, que fugiu e
não foi localizado.
Dirísio é considerado pela PF o maior contrabandista de
armas da América do Sul. g1, com foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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