17/11/2023
Justiça não encontra bens apreendidos na Lava Jato e não sabe o valor total do que foi apreendido
CURITIBA, PR - A correição da Lava Jato — uma espécie de
fiscalização que acontece desde maio pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) —
não conseguiu localizar veículos e outros bens apreendidos pela operação em
Curitiba. De acordo com pessoas envolvidas na inspeção, como não há
inventário do que foi recuperado, juízes e técnicos não sabem dizer se carros,
por exemplo, estão em depósito, se estão sendo usados ou por quem estariam
sendo usados. Ainda pela falta de inventário, não se sabe o valor total desses
bens. De acordo com as informações oriundas do grupo de trabalho,
o Ministério Público quem fazia a solicitação da destinação dos recursos e o
tribunal costumava conceder sem questionamentos. Pelo levantamento feito até o
momento, foram destinados dessa forma cerca de R$ 3 bilhões em dinheiro
recebido como parte dos acordos de leniência e delação. O trabalho agora é para
identificar o motivo de cada destinação. Com relação aos bens — como carros,
aviões, barcos e cofres — ainda não há estimativa do valor total. Desde maio, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) faz uma
fiscalização em duas instâncias da Lava Jato no Paraná e no Rio Grande do Sul:
a 13ª Vara Federal, em Curitiba, e a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da
4ª Região, em Porto Alegre. O trabalho foi ordenado pelo corregedor nacional,
Luís Felipe Salomão. Segundo informações da correição, as destinações não
passavam pelos trâmites formais e alguns bens chegaram a ser encaminhados,
outros, não. Quem acompanha a fiscalização classifica a situação como uma
"verdadeira bagunça". Há indícios de que organizações privadas tenham
recebido parte dos recursos. No momento, a atuação do grupo de trabalho consiste em
revisar processo por processo para identificar o que foi apreendido e, a partir
daí, tentar localizá-los para fazer o inventário. Bagunça inspirou regulamentação Ainda há cerca de R$ 500 milhões depositados em contas
judiciais oriundos das apreensões e de acordos de delação ou leniência firmados
com os investigados. Para evitar novas destinações sem justificativa e não
mapeáveis, o CNJ pretende estipular uma regulamentação que sirva de norte,
inclusive, para os demais processos envolvendo recursos financeiros e
materiais. A regra, a ser validada pelo Conselho na próxima quinzena, deve
estipular critérios de preferência e protocolos fixos para essa tramitação. O trabalho de correição no Paraná começou após o juiz
Eduardo Appio ser alvo de uma reclamação disciplinar. Ele foi afastado após uma
denúncia do desembargador Marcelo Malucelli. A previsão é que os trabalhos
sejam concluídos em um mês.
A Presidência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF4) disse que todas as informações requisitadas pela Corregedoria do CNJ
referentes à 13ª Vara Federal de Curitiba foram prestadas. Para isso, montou um
grupo de trabalho que realizou levantamento nos processos da Operação Lava Jato. g1, com foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
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