14/11/2023
MP denuncia juiz que agrediu e humilhou mulher por dois crimes e contravenção
CARAGUATATUBA, SP - O Ministério Público de São Paulo acusou
formalmente de dois crimes e de uma contravenção penal o juiz Valmir Maurici
Júnior, que aparece em vídeos agredindo e humilhando a própria esposa. A
acusação de estupro feita pela mulher contra o juiz foi arquivada pelo órgão. O caso foi revelado em março deste ano pelo g1, que obteve
vídeos que mostram as agressões, ocorridas na casa em que os dois moravam, em
Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo. A mulher o acusou de violência
física, sexual e psicológica. O MP denunciou o juiz ao Tribunal de Justiça pelas seguintes
infrações: - Violência psicológica (uma vez), crime com pena prevista
de seis meses a dois anos de prisão, mais multa; - Filmagem sem consentimento (duas vezes), crime com pena
prevista de seis meses a um ano de detenção, mais multa; - Vias de fato (três vezes), contravenção penal que estipula
de 15 dias a três meses de detenção, ou multa. No entendimento do MP, não houve provas suficientes para
acusar Maurici Júnior por estupro, crime com pena que vai de seis a dez anos de
reclusão. O órgão avaliou que as imagens disponíveis não evidenciam o crime de
estupro, embora apontem não haver nenhuma indicação de que a vítima tenha
mentido. O MP concluiu que o juiz promoveu dano emocional à esposa,
submeteu a mulher a ameaças constantes, humilhação e manipulação. O órgão pediu
autorização ao TJ para abrir novos procedimentos para apurar o conteúdo exibido
nos vídeos que estavam com o juiz. A denúncia (acusação formal), assinada pelo procurador-geral
de Justiça Mário Sarrubbo, foi oferecida à Justiça em 30 de outubro. O procedimento está no Órgão Especial do Tribunal de Justiça
de São Paulo, órgão responsável por casos do tipo, de acordo com a Lei Orgânica
da Magistratura. Cabe ao Órgão Especial do TJ decidir se aceita a denúncia —
nesse caso, o juiz passa a ser réu. Com base nas penas previstas no Código Penal, o juiz não
ficará preso, mesmo se condenado nos crimes de que é acusado. Maurici Júnior está afastado provisoriamente das funções por
decisões do TJ e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) desde abril. O TJ mantém
procedimento administrativo contra o juiz. Procurados pelo g1, as defesas de Maurici Júnior e da vítima
não quiseram se manifestar. Relembre o caso Em um dos vídeos obtidos pelo g1, o juiz dá um tapa na
cabeça da esposa; em outro, ele dá empurrões, chute e a xinga, e ela cai no
chão; ambos foram gravados com um celular dela — segundo ela, em outubro de
2022. Em um terceiro vídeo, de abril de 2022, aparentemente gravado pelo
próprio juiz, ele a submete a uma relação sexual — segundo ela, não consentida
por não ter tido opção de escolha. A vítima e Maurici Júnior se casaram em 2021. A mulher, de
30 anos, diz que saiu de casa em 23 de novembro. A violência começou depois dos
seis primeiros meses de relação, segundo a defesa dela. Em janeiro de 2023, ela obteve medida protetiva na Justiça,
com base na lei Maria da Penha, que proíbe o juiz de se aproximar e de manter
contato com a mulher e com pais e familiares dela. Na mesma decisão, Maurici
Júnior, 42 anos, também foi obrigado a entregar a arma a que tem direito por
ser magistrado.
Em março, a defesa do juiz negou "veementemente os
fatos que lhe são imputados". Os advogados Marcelo Knopfelmacher e Felipe
Locke Cavalcanti informaram na ocasião que têm "plena confiança na Justiça
e no restabelecimento da verdade uma vez instalado o contraditório e exercido o
direito de defesa em sua plenitude.” g1, com foto: Reprodução
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