26/10/2023
Câmara aprova projeto que taxa os mais ricos no Brasil; matéria segue para votação no Senado
BRASÍLIA, DF - Por 323 votos a favor, 119 contra e uma
abstenção, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (25) o projeto de
lei de taxação dos super-ricos. A proposta antecipa a cobrança de Imposto de
Renda de fundos exclusivos e passa a taxar aplicações em offshores, empresas no
exterior que abrigam investimentos. Após a votação do texto principal, todos os destaques foram
rejeitados. Agora, segue para o Senado. Inicialmente prevista para terça-feira (24), a votação do
projeto, que trancava a pauta da Câmara desde o dia 14, foi adiada para esta
quarta. A aprovação ocorreu no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva anunciou a nomeação de Carlos Antônio Vieira Fernandes para a presidência
da Caixa Econômica Federal. Ele entra no lugar de Rita Serrano, que deixou o
cargo. O projeto foi aprovado com várias mudanças. O relator,
deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), concordou em elevar, de 6% para 8%, a alíquota
para quem antecipar, tanto nos fundos exclusivos como nas offshores, a
atualização de valor dos rendimentos acumulados até agora. Originalmente, o
governo tinha proposto 10%. Em relação às offshores, o relator fixou uma alíquota linear
de 15% sobre os rendimentos. O governo originalmente tinha proposto alíquotas
de 0% a 22,5% conforme os rendimentos anuais. O relator alegou que a diferença
de alíquotas entre os fundos exclusivos de longo prazo (15%) e os 22,5% para as
offshores geraria o efeito contrário do que o governo pretendia e provocaria
fuga de capitais do Brasil, com super-ricos mudando de domicílio fiscal. Impacto As mudanças farão o governo arrecadar menos que o previsto.
Pela proposta original, o governo tinha a pretensão de reforçar o caixa em R$
20 bilhões em 2024 e em até R$ 54 bilhões até 2026. A equipe econômica ainda
não divulgou uma estimativa de receitas com as novas votações. O governo precisa reforçar o caixa em R$ 168 bilhões para
cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, conforme estipulado pelo
novo arcabouço fiscal, aprovado no fim de agosto pelo Congresso. A tributação
dos super-ricos representa uma das medidas mais importantes para obter
receitas. Fundos agrícolas e imobiliários O relator da proposta, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), fechou
um acordo com a bancada ruralista sobre o aumento no número de cotistas nos
Fiagros, fundos de investimento em cadeias agroindustriais. O número mínimo de
cotistas para que os Fiagros e os fundos de investimentos imobiliários, regidos
pela mesma legislação, obtenham isenção de Imposto de Renda, saltou de 50 para
100. O governo tinha proposto mínimo de 500 cotistas e, na semana
passada, fez uma contraproposta de 300 cotistas. O relator também criou uma
trava para limitar as cotas entre parentes a 30% do patrimônio líquido do
fundo, incluindo parentes de segundo grau. Pedro Paulo também acatou uma sugestão para que empresas que
operem no país com ativos virtuais, independentemente do domicílio, passem a
ser obrigadas a fornecer informações periódicas de suas atividades e de seus
clientes à Receita Federal e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), órgão que combate a lavagem de dinheiro. Definições Instrumentos personalizados de investimentos, com um único
cotista, os fundos exclusivos exigem pelo menos R$ 10 milhões de entrada e taxa
de manutenção de R$ 150 mil por ano. Atualmente, apenas 2,5 mil brasileiros
aplicam nesses fundos, que acumulam patrimônio de R$ 756,8 bilhões e respondem
por 12,3% da indústria de fundos no país. Atualmente, os fundos exclusivos pagam Imposto de Renda
(IR), mas apenas no momento do resgate e com tabela regressiva, quanto mais
tempo de aplicação, menor o imposto. O governo quer igualar os fundos
exclusivos aos demais fundos de investimento, com cobrança semestral de IR
conhecida como come-cotas. Além disso, quem antecipar o pagamento do imposto
pagará alíquotas mais baixas. Em relação à taxação das offshores, o governo quer instituir
a tributação de trusts, instrumentos pelos quais os investidores entregam os
bens para terceiros administrarem. Atualmente, os recursos no exterior são
tributados apenas e se o capital retorna ao Brasil. O governo estima em pouco
mais de R$ 1 trilhão (pouco mais de US$ 200 bilhões) o valor aplicado por
pessoas físicas no exterior. Confira o projeto da câmara Fundos exclusivos • Instrumento: originalmente era medida provisória, mas
texto foi incorporado a projeto de lei; • Como é: tributação apenas no momento do resgate do
investimento; • Tributação: alíquota de 15% (fundos de longo prazo) ou de
20% (fundos de curto prazo, de até um ano) de Imposto de Renda sobre os
rendimentos uma vez a cada semestre por meio do mecanismo chamado “come-cotas”
a partir do ano que vem. Fundos com maiores prazos de aplicação têm alíquotas
mais baixas por causa da tabela regressiva de Imposto de Renda; • Atualização antecipada: quem optar por começar a pagar o
come-cotas em 2023 pagará 8% sobre o estoque dos rendimentos (tudo o que rendeu
até 2023). O governo propôs dois modelos de pagamento – 8% para quem parcelar em quatro vezes, com a primeira
prestação a partir de dezembro. Na medida provisória, o governo tinha proposto
alíquota de 10% nessa situação; – 15% para quem parcelar em 24 vezes (dois anos), com
primeira prestação a partir de maio de 2024. Offshore e trusts • Instrumento: projeto de lei; • Como é: recursos investidos em offshores, empresas no
exterior que abrigam fundos de investimentos, só pagam 15% de Imposto de Renda
sobre ganho de capital se voltarem ao Brasil; • Tributação: 15% de cobrança anual de rendimentos a partir
de 2024, mesmo se dinheiro ficar no exterior. Governo tinha proposto alíquotas
progressivas de 0% a 22,5%, conforme os rendimentos anuais • Apuração: lucros das offshores serão apurados até 31 de
dezembro de cada ano • Forma de cobrança: tributação dos trusts, relação jurídica
em que dono do patrimônio transfere bens para terceiros administrarem. • Como funcionam os trusts: atualmente, legislação
brasileira não trata dessa modalidade de investimento, usada para reduzir o
pagamento de tributos por meio de elisão fiscal (brechas na legislação) e
facilitar distribuição de heranças em vida; • Atualização antecipada: quem optar por atualizar o valor
do estoque dos rendimentos (tudo o que rendeu até 2023) pagará menos. Nesse
caso, a adesão é voluntária. O governo propôs dois modelos de pagamento – 8% para quem parcelar em quatro vezes, com a primeira
prestação a partir de dezembro. Na medida provisória, o governo tinha proposto
alíquota de 10% nessa situação; – 15% para quem parcelar em 24 vezes (dois anos), com
primeira prestação a partir de maio de 2024. • Variação cambial: lucro com alta do dólar não será
tributado em duas situações – variação cambial de depósitos em conta corrente ou em
cartão de crédito ou débito no exterior, desde que os depósitos não sejam
remunerados; – variação cambial de moeda estrangeira para vendas de moeda
de até US$ 5 mil por ano. Fiagro e fundos de investimentos imobiliários • Definição: Fiagros são fundos de investimento em cadeias
agroindustriais, fundos de investimentos imobiliários são fundos que aplicam em
imóveis • Como é: fundos com pelo menos 50 cotistas e com cotas
negociadas na bolsa de valores ou em mercados de balcão de derivativos têm
isenção de Imposto de Renda • O que muda: para obter isenção de IR, número mínimo de
cotistas sobe para 100, com limite de cotas entre familiares a 30% do
patrimônio líquido total, incluindo parentes até o segundo grau. Receita
Federal tinha proposto 500 cotistas, depois reduziu proposta para 300 • Impacto: segundo relator, de 70 fundos do tipo, apenas
quatro perderiam a isenção do IR
Wellton Máximo/Marcelo Brandão – Agência Brasil, com foto: Zeca Ribeiro/Câmarad os Deputados
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