06/09/2023
Senador Veneziano se posiciona duramente contra PEC que permite a venda de sangue humano
BRASÍLIA, DF - O Vice-Presidente do Senado Federal, Senador
Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) se posicionou duramente contrário à Proposta
de Emenda à Constituição (PEC 10/2022), que permite a comercialização de sangue
humano para se extrair o plasma, que é um de seus derivados. A PEC tramita na
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania – CCJ e tem como relatora a
Senadora Daniella Ribeiro (PP-PB). A matéria, cujo texto original, de autoria do Senador
Nelsinho Trad (PSD-MS), não previa essa comercialização, passou a prever após
ser modificada pela relatoria. Ela estava pautada na reunião da CCJ do último
dia 30 de agosto e teve a sua votação adiada diante da polêmica que vem
causando. Segundo Veneziano, a proposta é “apavorante e destrutiva” e um “assunto
delicado e sério”. “Quando vem à minha cabeça comercializar isso, de
certo, não seremos nós, como acertadamente disse o senador Marcelo Castro, que
somos privilegiados, que iremos a um banco de sangue e receberemos uma quantia
para que daquele sangue extraído se extraia também o plasma. Os senhores já
imaginaram quais as consequências a serem, a partir deste momento, geradas?
Aquilo que é desmonte de carro será desmonte humano, porque aí vai sangue, vai
coração, vai tecido, e isso recairá sobre quem menos pode”, disse Veneziano, ao
defender um aprofundamento do debate e o adiamento da votação. Veneziano disse que a proposta, a pretexto de atualizar
norma da Constituição de 1988, faz regredir dezenas de anos de avanços
conseguidos no campo de aplicação dos hemoderivados. “Esse assunto foi
amplamente debatido pela Constituinte de 1987. Os constituintes rejeitaram, de
forma veemente, práticas mercantilistas relacionadas à saúde. Do debate que
mobilizou dezenas de entidades civis organizadas do setor emergiu tanto a
declaração da saúde como um dos direitos sociais (no Art. 6º) quanto à vedação
de todo tipo de comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas, bem
como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados (Art. 199,
§4º)”. Ele lembrou que os trechos constitucionais e a legislação
dali derivada, como a Lei 10.205, de 2001 (Lei do Sangue), anteciparam até
mesmo a recomendação da Organização Mundial de Saúde, adotada em 2010, para que
seus países membros desenvolvessem sistemas nacionais de sangue, componentes e
derivados baseados em doações voluntárias e não remuneradas, buscando situação
de autossuficiência. Objeções Técnicas O Vice-Presidente do Senado destacou que o assunto foi
debatido em Audiência Pública no Senado Federal, realizada em abril, quando um
representante do Ministério da Saúde apresentou todas as objeções técnicas à
modificação pretendida. “A permissão para a participação de entidades privadas
nas atividades de coleta e produção de hemoderivados, escrita de tal maneira
que permite, inclusive, a volta da venda de sangue pelos doadores, reinstitui
no país a situação pré-constitucional”. Veneziano disse que a proposta destrói todo o sistema atual
de atendimento às necessidades do SUS, incluída a Empresa Brasileira de
Hemoderivados e Biotecnologia, a Hemobrás. “O setor público dificilmente irá
conseguir concorrer com os compradores do sangue da população, versão moderna
de vampirismo, inviabilizando o funcionamento da empresa criada como coroamento
do processo de autonomia baseada na doação voluntária altruísta, perdendo os
escassos recursos públicos já investidos”. “Sérios Riscos” A mudança na PEC, se aprovada, argumentou o Senador
paraibano, levará a população brasileira a correr o risco de sofrer uma maior
escassez e aumento de preço dos produtos hemoderivados, uma vez que tais
produtos tenderão a ser direcionados ao mercado externo, onde as faixas de
lucro serão maiores. “Também é do conhecimento geral que práticas sanitárias
quando confrontadas com a necessidade de lucro de empresas privadas tendem a
ser ‘flexibilizadas’, aumentando o risco para aqueles que dependem de
hemoderivados para continuarem vivos e produtivos”. Veneziano alertou que o risco atingirá também os doadores
remunerados, que muitas vezes são levados a mentir sobre infecções perigosas ou
não observar os períodos de vedação de doações, movidos, muitas das vezes, pela
necessidade de geração imediata de renda. “Corremos também o risco de ver
desnacionalizado o setor de hemoterápicos, transferido para controle de grupos
multinacionais privados que, certamente, não nos terão como prioridade”.
O Vice-Presidente do Senado concluiu a fala afirmando que
sua posição é duramente contrária à PEC, concordando com a orientação do
Ministério da Saúde. “Deixemos os vampiros só nas telas dos cinemas”, finalizou. Assessoria, com foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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