19/08/2023
Procurador diz que cúpula da PM do Distrito Federal presa pela PF era “adepta de teorias golpistas”
BRASÍLIA, DF - Integrantes da cúpula da Polícia Militar (PM)
do Distrito Federal são alvo da Operação Incúria, que a Polícia Federal (PF) e
a Procuradoria-Geral da República (PGR) deflagraram na manhã desta sexta-feira
(18), com a justificativa de aprofundar as investigações sobre a conduta de
autoridades públicas distritais no contexto do ataque aos três Poderes
(Executivo, Legislativo e Judiciário), em 8 de janeiro deste ano. Entre os oficiais detidos preventivamente esta manhã estão o
atual comandante da PM, o coronel Klepter Rosa Gonçalves, e seu antecessor no
cargo, o coronel Fábio Augusto Vieira, que comandava a corporação no dia em que
vândalos e golpistas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso
Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 8 de janeiro, Rosa era
subcomandante-geral da PM. Dois dias depois, com a exoneração de Vieira, ele
foi nomeado para assumir o comando-geral da corporação – cargo no qual
permanece até o momento. Hoje, o governador Ibaneis Rocha antecipou que deve
anunciar, nas próximas horas, um novo nome para comandar a PM. Também são alvo da operação o coronel Jorge Eduardo Barreto
Naime, ex-chefe do Departamento de Operações da PM, e o coronel Paulo José
Ferreira de Sousa Bezerra. Naime estava de folga entre os dias 3 e 8 de janeiro
e Bezerra o substituiu interinamente à frente do departamento operacional
responsável por executar o planejamento da segurança da Esplanada dos
Ministérios durante as manifestações que descambaram para o ataque às
instituições e quebradeira dos prédios públicos. Os outros três oficiais da PM denunciados pelo Ministério
Público Federal (MPF) são o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, ex-chefe
do 1º Comando de Policiamento Regional da PM do Distrito Federal; o major
Flávio Silvestre de Alencar, que comandava interinamente o Batalhão da PM
responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios, e o tenente Rafael
Pereira Martins, que, segundo o MPF, desmobilizou o efetivo que protegia o
prédio do STF, “deixando deliberadamente de agir com vistas à própria aceitação
da depredação que se avizinhava”. Na denúncia que apresentou ao STF, o subprocurador-geral da
República, Carlos Frederico Santos, aponta que os sete oficiais denunciados
“conheciam a capacidade de salvamento decorrente de suas respectivas funções.
Bastava que empregassem efetivo em quantidade suficiente para salvaguarda dos
bens jurídicos, como também já exposto”. Coordenador do Grupo Estratégico de Combate aos Atos
Antidemocráticos do MPF, Carlos Frederico Santos acusou os PMs de tentar abolir
violentamente o Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano
qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância
inflamável, contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado,
agravados pela violação a seus deveres funcionais. “Investigações e análises conduzidas pela Procuradoria-Geral
da República (PGR) constataram uma profunda contaminação ideológica de parte
dos oficiais da PM do Distrito Federal denunciados, que se mostraram adeptos de
teorias conspiratórias sobre fraudes eleitorais e de teorias golpistas”,
sustenta o subprocurador na denúncia. Com base na denúncia do MPF, o ministro Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a PF a cumprir, além dos sete
mandados judiciais de prisão preventiva, buscas e apreensões em endereços
residenciais e de trabalho dos sete oficiais da PM. Moraes também determinou o
bloqueio de bens e afastamento das funções públicas. Os mandados foram
determinados no âmbito do Inquérito 4.923, que apura eventual omissão de
autoridades públicas nos atos. Até a publicação desta reportagem, a Agência Brasil só tinha
conseguido contato com a defesa do coronel Fábio Vieira. Em nota, os advogados
manifestaram sua “absoluta preocupação quanto à incorreção conceitual e a
aplicação metodológica equivocada da teoria da omissão imprópria, bem como pelo
manejo destoante das cautelares penais”. A defesa também afirma aguardar que as
prisões preventivas sejam revistas pelo colegiado de ministros do STF. “A
Democracia defensiva exige respostas institucionais sustentadas pela correção
teórica e pela racionalidade judicial”. Em nota, o Governo do Distrito Federal (GDF) informou que
recebeu a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal,
com acato e respeito, aguardando o desfecho do inquérito. "Como ocorreu
desde o primeiro momento, o GDF participa com informações e diligências para que
o processo em curso ocorra da forma mais justa e célere possível".
A defesa do coronel Jorge Eduardo Barreto Naime sustenta que
provará que o cliente não foi omisso ou conivente. "Apesar de estar no
gozo de uma dispensa-recompensa, o coronel foi
convocado para se dirigir à Praça dos Três Poderes quando o tumulto já
estava em estágio bastante avançado", afirmam os advogados em nota,
alegando que o ex-chefe do Departamento de Operações da PM atuou "nos
estritos termos legais", protegendo o patrimônio público e efetuando várias
prisões no dia 8 de janeiro. Alex Rodrigues/Valéria Aguiar, com foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil
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