03/07/2023
Com possível cassação de Sérgio Moro por irregularidades na campanha, partidos já estão de olho na vaga
BRASÍLIA, DF - As ações que pedem a cassação do senador
Sergio Moro (União-PR) desencadearam uma prévia eleitoral fora de época no
Paraná. Integrantes do PT — autor de um dos pedidos — já se articulam para
determinar quem será o nome da legenda à vaga no Senado, caso ela seja
desocupada. O processo, que tramita no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná
(TRE-PR), pode levar à cassação de toda a chapa por irregularidades durante a
campanha do ano passado. Se confirmada, a decisão levará a um novo pleito para
senador no estado. Mas não é só o PT que está de olho na vaga. O PL, de Jair
Bolsonaro, também participa da batalha judicial, e vê a chance de assumir o
cargo de Moro. O candidato da legenda no ano passado, Paulo Martins, ficou em
segundo lugar na disputa. O ex-deputado Ricardo Barros, do PP, também declarou
publicamente que participará da nova eleição, caso ela ocorra. Ao todo, pelo
menos seis nomes se articulam. A decisão, porém, deve demorar. Além de ser
aprovada no TRE-PR, a ação precisará ser referendada no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e, então, confirmada pelo Senado Federal. "Ele (Martins) pretende concorrer também, assim como
vários outros candidatos deverão disputar a eleição", declarou Barros a
jornalistas, após sessão da Assembleia Legislativa do Paraná. O ex-parlamentar
relatou que já acertou sua candidatura com o partido. Questionado sobre a
possibilidade da cassação de Moro, ele avaliou que, se depender da
jurisprudência, ela ocorrerá. "Houve um processo idêntico, o da juíza
Selma (Arruda), que foi cassada lá no Mato Grosso. Se não houver mudança no
entendimento do tribunal, o processo será o mesmo", pontuou. A ex-senadora e ex-juíza era conhecida por ter atuação
parecida com a de Moro à frente da 7ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de
Mato Grosso, no combate ao crime organizado. Sua chapa foi cassada por não ter
declarado à Justiça Eleitoral um empréstimo de R$ 1,5 milhão que pegou de seu
suplente, o que foi considerado "caixa 2" e abuso de poder econômico
— acusações às quais Moro também responde. O ex-senador Álvaro Dias (Podemos), desbancado pelo ex-juiz
e seu antigo padrinho político, também é considerado um candidato natural ao
pleito, embora ainda não tenha se manifestado. No PT, circulam pelo menos três postulantes ao cargo: a
presidente nacional da legenda, deputada Gleisi Hoffmann; o líder do partido na
Câmara, deputado Zeca Dirceu; e o deputado estadual Roberto Requião Filho.
Dirceu e Gleisi polarizam a disputa, ligados a alas distintas do PT paranaense. Requião, filho do ex-governador Roberto Requião, também
declarou a intenção de disputar. Nos bastidores, ele não descarta se desfiliar
do PT e concorrer por outro partido, caso a legenda não o favoreça. Dirceu e
Gleisi tentam agora angariar o apoio do clã Requião e podem negociar,
inclusive, cargos no governo federal, já que o clã não se sentiu contemplado na
composição do governo Lula. Pela proximidade com o presidente, e maior
influência para oferecer cargos, a deputada é tida como a candidata mais
provável. Publicamente, integrantes do PT dão como certa a cassação de
Moro. Na semana passada, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, postou
uma foto ao lado de Gleisi e a chamou de "futura senadora", o que
gerou reação por parte de aliados do ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL). O
senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente, questionou se a
primeira-dama, "antecipando possíveis resultados de uma questão
judicial", estaria extrapolando o seu papel, pressionando e tentando
interferir na decisão, ou se o Judiciário estaria "atuando em prol do
Executivo". Moro, por sua vez, agradeceu o apoio e disse que a fala de
Janja é "um desrespeito aos 1,9 milhão de eleitores" que o elegeram.
Gleisi, por sua vez, disse que o ex-juiz já tem convicção de que será cassado,
e que está tentando interferir nas eleições. "Calma, rapaz. Por enquanto,
só teremos eleições para o Senado em 2026. Até lá, vamos aguardar o
pronunciamento da Justiça sobre o seu caso. É disso que você tem medo?",
disse a deputada. Procurado pelo Correio, Moro, pela sua assessoria, disse
estar tranquilo sobre o desfecho das ações. "O PT tem um problema com a
oposição. Então, não tendo ganho nas urnas do Paraná, pretende cassar mandatos
de adversários políticos relevantes. O senador Sergio Moro está tranquilo, pois
os fatos e a lei estão ao seu lado", frisou, em nota. Abuso de poder na
campanha Moro é alvo de duas ações por supostas irregularidades na
campanha eleitoral. Foram ajuizadas por legendas que estão em espectros
políticos opostos: pelo PL e pela Federação Brasil da Esperança, composta pelo
PT, PCdoB e pelo PV. Os processos foram unidos por determinação do
desembargador Mário Helton Jorge, do TRE-PR, por conterem argumentos parecidos
sobre o mesmo tema. Em sua decisão, o magistrado autorizou a oitiva de 10
testemunhas e o recolhimento de provas. Ele, porém, negou pedidos de quebra de
sigilo bancário, telemático e fiscal do senador, bem como o pedido para busca e
apreensão contra Moro. Em resumo, os processos apontam que o ex-juiz teria agido
irregularmente ao lançar sua candidatura à Presidência da República pelo
Podemos, e depois ter migrado para o União Brasil para concorrer como senador.
A disputa da Presidência tem teto de gastos muito maior do que aquela pelo
Senado, com muito mais visibilidade, e teria colocado uma "pá de cal"
nas chances dos concorrentes, segundo o PL. A Federação liderada pelo PT, por
sua vez, ainda afirma que há indícios de "inúmeras ilicitudes" contra
as normas eleitorais e "movimentações financeiras suspeitas". Há
ainda acusação de "caixa 2". Segundo o consultor de Análise Política da BMJ Consultores
Associados Érico Oyama, a possibilidade de nova eleição é uma oportunidade para
que deputados disputem um cargo de maior longevidade, de forma mais tranquila,
já que conquistaram a reeleição no ano passado. "As negociações políticas
antecipadas ocorrem para que, em caso de confirmação de disputa, o candidato
esteja fortalecido e com apoio mínimo necessário", disse Oyama. Ele destaca que a possibilidade de assumir a vaga de Moro é
ainda mais importante para o governo, que pode aumentar sua base no
Legislativo. As movimentações antecipadas também são importantes para o PT por
existir mais de um nome na corrida pela vaga ao Senado.
"Em caso de cassação de Moro, o PT terá que passar por
uma disputa interna entre dois deputados relevantes do partido. Gleisi Hoffmann
é presidente nacional do partido, já foi senadora e decidiu migrar para a
Câmara para não correr o risco de ficar sem mandato. Já Zeca Dirceu é o atual
líder do PT na Câmara e cogita concorrer à prefeitura de Curitiba no próximo
ano", explicou. Correio Braziliense, com foto: Lula Marques/Agência Brasil
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