27/06/2023
Prefeitura leva à Câmara discussão de proposta do Estado que pode enfraquecer SUS em Campina Grande
CAMPINA GRANDE, PB - A Câmara de Vereadores de Campina
Grande realizou nesta terça-feira, 27, uma sessão para debater a proposta do
Governo do Estado da Paraíba que visa retirar do Município de Campina Grande a
Gestão Plena em Saúde. Essa medida pode enfraquecer o Sistema Único de Saúde
(SUS) na cidade, além de provocar o fechamento de unidades hospitalares e
retirar recursos do Ministério da Saúde da Rainha da Borborema. O tema de discussão desta terça-feira foi a mudança da
regulação do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), do Município de
Campina Grande para a Secretaria de Estado da Saúde. Esse seria mais um passo
do planejamento, do Governo do Estado, para estadualizar a gestão da alta
complexidade na cidade. De acordo com o secretário de Saúde de Campina Grande,
médico Gilney Porto, a proposta contraria os princípios do SUS, principalmente
o da descentralização. O que diz a legislação? A descentralização do SUS deve ser
preconizada, conforme a Lei Nº 8.080/1990 e as Portarias 384/2003 e 2.023/2004.
E a Gestão Plena dos Sistemas Municipais de Saúde está prevista na Norma
Operativa Básica NOB/1996. “A norma prevê responsabilidades, requisitos e
prerrogativas para que os municípios possam administrar seu Sistema Municipal
de Saúde. Campina Grande cumpre todas as responsabilidades e atende aos
requisitos”, disse o secretário. Gilney Porto é cirurgião e atua no Hospital da Fundação
Assistencial da Paraíba (FAP). O secretário também é médico efetivo do Hospital
Universitário Alcides Carneiro e já foi diretor do Hospital de Trauma Dom Luiz
Gonzaga Fernandes, que é gerido pelo Governo do Estado. Ele também já atuou em
hospitais de Pernambuco e em cidades do interior da Paraíba. “Essa é uma medida incompreensível, pois representa um
retrocesso na gestão municipal. Campina Grande, há quase 20 anos, tem Gestão
Plena em Saúde e demonstrou a capacidade de gerir os recursos e os serviços na
cidade. Se isto for aprovado, o cidadão campinense terá que se reportar ao
Governo do Estado para ter acesso a serviços como ressonância, internação,
cirurgias”, exemplificou o secretário.
Riscos para a cidade Com a medida, os recursos do Ministério da Saúde enviados ao
Fundo Municipal de Saúde seriam destinados ao Estado, que ficaria com a opção
de aplicar os recursos no município ou em qualquer outro município. “Isto
também pode provocar o fechamento de hospitais. Além disso, serviços como a
oncologia da FAP poderiam ser encerrados. A proposta pode retirar mais de R$ 75
milhões de Campina Grande da PPI”, disse. Gilney ainda mostrou que em estados como Pernambuco, em que
a gestão é estadualizada, os problemas de acesso no interior são constantes.
“Só em radioterapia, Pernambuco tem oito serviços, dos quais sete ficam em
Recife e um em Caruaru. Os pacientes das outras cidades precisam perambular
pelo Estado para fazer sessões de radioterapia”, destacou. Campina Grande tem seguido em outra direção, com a
municipalização do Hospital Municipal Pedro I, do Hospital Municipal Dr. Edgley
e da AACD, hoje Centro Especializado em Reabilitação (CER). Além disso, tem
aberto leitos e ampliado serviços com cirurgias bariátricas, atendimento
vascular, obstetrícia, expansão de 160 leitos de internação, entre outras
conquistas. “A proposta do Estado vai na contramão. Isso aqui não se trata de
política partidária, mas de política pública”, disse. Conselho Municipal de
Saúde “É um retrocesso do Sistema Único de Saúde quando se propõe
retirar a Gestão Plena de Saúde de Campina Grande, que é a segunda maior cidade
da Paraíba, que tem 180 municípios pactuados. Caso venha a ser aprovado, o
nosso usuário vai ter que se deslocar para João Pessoa? Como fica a situação do
nosso cidadão? Estamos aqui para defender o SUS, para defender a Gestão Pública
porque é uma conquista do povo brasileiro e porque acreditamos no SUS”, disse a
presidente do Conselho Municipal de Saúde, a fisioterapeuta Ângela Carvalho. Rede Complementar
“O primeiro serviço de glaucoma habilitado pelo SUS no
Nordeste foi em Campina Grande. O que nós como cidadãos de Campina Grande
reivindicamos aqui é o respeito à cidade. O Estado não pode simplesmente chegar
e dizer que vai tomar a pactuação do município. Eu tenho mais de 30 anos no SUS
e nunca vi isso”, disse o oftalmologista Saulo Freire. Codecom/PMCG, com fotos: Divulgação
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