19/06/2023
Veja como será o julgamento desta quinta-feira no TSE que poderá tornar Bolsonaro inelegível
BRASÍLIA, DF - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reservou
três sessões plenárias para o julgamento de uma ação judicial de investigação
eleitoral (Aije) que tem o ex-presidente Jair Bolsonaro como alvo e na qual o
PDT pede que ele seja declarado inelegível. O julgamento está marcado para
começar na próxima quinta-feira (22). A Aije trata de uma reunião organizada por Bolsonaro no
Palácio da Alvorada com dezenas de embaixadores e equipes diplomáticas, na qual
apresentou acusações sem provas contra a urna eletrônica. O PDT alega que o
ex-presidente cometeu abuso de poder político e econômico ao promover o
encontro e atacar o processo eleitoral brasileiro com boatos já desmentidos
anteriormente pela Justiça Eleitoral, isso quando já se apresentava como
pré-candidato à reeleição. O caso é relatado pelo corregedor-geral Eleitoral, ministro
Benedito Gonçalves. Ao liberar o processo para julgamento, ele publicou um
relatório no qual detalha todas as etapas da Aije, incluindo as alegações
finais de acusação e defesa. O relator ainda não divulgou o próprio voto. O julgamento das Aijes costuma ser mais longo no TSE, por
ser necessário, em geral, a leitura de longo relatório sobre as investigações,
pelo relator. Na sessão de quinta-feira (22) deve ser tomada pela leitura desse
relatório e as sustentações orais das partes e do Ministério Público Eleitoral
(MPE). Cada fala dura até 15 minutos. A expectativa, também, é que Gonçalves profira um voto longo
e minucioso, o que deve tomar uma segunda sessão plenária. Em seguida ao
relator, votam os ministros: Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques, André
Ramos Tavares, a vice-presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, o ministro
Nunes Marques e, por último, o presidente do Tribunal, ministro Alexandre de
Moraes. Entenda A reunião investigada pelo TSE foi realizada em julho de
2022, quando Bolsonaro já era pré-candidato à reeleição. Sua defesa alega não
ter ocorrido nenhuma irregularidade, e que o encontro se tratou de evento
oficial da Presidência da República, que seguiu todos os trâmites formais para
sua realização. Os advogados de Bolsonaro alegaram que ele apenas realizou
um “diálogo aberto”, no qual “expôs, às claras, sem rodeios, em linguagem
simples, fácil e acessível, em rede pública, quais seriam suas dúvidas e os
pontos que – ao seu sentir – teriam potencial de comprometer a lisura do
processo eleitoral”. Já o Ministério Público Eleitoral (MPE) defendeu que
Bolsonaro deve se tornar inelegível, em razão de ter praticado o abuso de poder
político e uso indevido de meio de comunicação estatal. Isso porque a reunião
com embaixadores foi transmitida e divulgada pela Empresa Brasil de Comunicação
(EBC). Pelo parecer do MP, Bolsonaro proferiu discurso com o
objetivo de desacreditar o processo eleitoral no qual viria a ser derrotado. A
gravidade é maior pela conduta ter sido realizada “em período próximo das
eleições, veiculando noções que já foram demonstradas como falsas, sem que o
representado haja mencionado os desmentidos oficiais e as explicações dadas
constantemente no passado”. A Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) também argumentou que a
gravidade do descrédito no processo eleitoral, como disseminado por Bolsonaro,
pode ser verificada nos atos golpistas de 8 de janeiro, quando “pessoas
convictas de que as eleições haviam sido fraudadas” invadiram e depredaram a
sedes dos Três Poderes da República. Minuta do golpe A defesa de Bolsonaro afirmou não ser possível fazer
qualquer ligação entre a reunião com embaixadores e os acontecimentos de 8 de
janeiro, não havendo nenhum tipo de conexão entre os episódios. Os advogados
também defenderam a anulação de provas inseridas no processo com autorização de
Gonçalves, entre elas a chamada minuta do golpe, documento apócrifo encontrado
na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Gomes. O texto é uma espécie de decreto de intervenção na Justiça
Eleitoral, e foi encontrado no âmbito das investigações sobre os atos
antidemocráticos. O relator decidiu manter a minuta como prova no processo,
alegando haver possível nexo com as investigações.
Foram ouvidas como testemunhas no processo o
ex-ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, Flávio Augusto Viana Rocha,
ex-Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência, e Anderson
Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. Os policiais federais Ivo
de Carvalho Peixinho e Mateus de Castro Polastro, que se reuniram com Bolsonaro
no dia anterior à reunião com embaixadores, também foram ouvidos. Felipe Pontes/Aline
Leal – Agência Brasil, com foto: Isac Nóbrega/PR
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