20/04/2023
PRF concentrou operações no 2º turno da eleição no Nordeste, região com mais votos para Lula
BRASÍLIA, DF - A Controladoria-Geral da União (CGU) retirou
o sigilo, e os dados divulgados sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal
(PRF) no dia 30 de outubro do ano passado, data do segundo turno das eleições,
mostram concentração "atípica" de operações na Região Nordeste. De
acordo com uma tabela apresentada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública,
Flávio Dino, 324 ônibus foram paralisados em estradas no Nordeste, o que
representa cerca de 46% do total de veículos abordados em todo o país, 696. As
demais regiões, juntas, tiveram 372 veículos parados. "Temos agora a comprovação empírica, que nasce da
própria Polícia Rodoviária Federal, no sentido de que houve um desvio de
padrão, em relação à atuação rotineira, ordinária da PRF", afirmou Dino
durante coletiva de imprensa para apresentar os dados, na tarde desta
quinta-feira (20), em Brasília. A revelação dos dados foi uma decisão da CGU a
partir da análise de um recurso feito ao órgão com base na Lei de Acesso à
Informação (LAI). Segundo o ministro, a operação da PRF no segundo turno das
eleições superou até mesmo as fiscalizações que ocorrem anualmente durante o
período de festas juninas no Nordeste, o São João nordestino, que até então era
a maior operação executada pela PRF na região, em eventos que duram cerca de um
mês. Os dados mostram também que 48 ônibus foram retidos em
estados do Nordeste entre os dias 28 e 30 de outubro de 2022, praticamente o
dobro dos 26 ônibus que ficaram retidos em todas as outras regiões do país
somadas, ao longo do mesmo período. Os pontos fixos de fiscalização foram bem superiores no
Nordeste (290), enquanto uma região bem mais populosa, como Sudeste, registrou
191 pontos, seguida das regiões Sul (181), Centro-Oeste (153) e Norte (96). O efetivo de agentes que atuaram no segundo turno das
eleições de 2022 também foi maior no Nordeste (795), seguido pelas regiões
Sudeste (528), Sul (418), Centro-Oeste (381) e Norte (230). Além disso, foi
empregado um valor total de quase R$ 1 milhão para o pagamento de horas extras
para que agentes em folga fossem convocados para atuar no dia da eleição. O
valor é bem superior aos cerca de R$ 685 mil usados para "comprar" a
folga de agentes no Sudeste, por exemplo. Suspeitas Na época, a intensidade da fiscalização na Região Nordeste
chamou a atenção de eleitores e mobilizou autoridades no país. O presidente do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, chegou a
proibir a PRF de realizar qualquer operação que afetasse o transporte público
de eleitores. O objetivo era impedir que a PRF fosse mobilizada em favor da
campanha à reeleição do então do presidente Jair Bolsonaro e em desfavor da
campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. O petista acabou saindo vitorioso do
pleito. A Polícia Federal investiga uma viagem do então ministro da
Justiça, Anderson Torres, na véspera do segundo turno. A viagem à Bahia, na
época, foi justificada para reforçar a atuação de policiais federais no combate
a crimes eleitorais, como compra de votos. No entanto, há suspeita de que
Torres tenha viajado para pressionar a PF a barrar eleitores na região onde
Lula tinha mais votos. Torres atualmente está preso preventivamente por
suspeita de envolvimento na preparação dos atos golpistas do dia 8 de janeiro. Direcionamento Outra "anomalia" na atuação da PRF nas eleições do
ano passado, como classificou o ministro da Justiça, tem a ver com a duplicação
do orçamento que estava previsto para os dois turnos. Flávio Dino explicou que
o primeiro plano eleitoral, que abrangia tanto o primeiro quanto segundo turno,
era de cerca de R$ 3,6 milhões. Ao término da primeira etapa eleitoral, no
entanto, esse plano operacional inicial foi substituído por outro, com previsão
orçamentária de mais de R$ 3,5 milhões, uma eleição bem menor, já que não
abrangia mais a escolha de parlamentares e de boa parte dos governadores, já
eleitos em primeiro turno. Para o diretor executivo da PRF, Antônio Jorge de Azevedo
Barbosa, ficou claro que houve uma atuação direcionada na corporação neste
período. "Chegou a haver mais de uma intervenção para esse planejamento e
houve um direcionamento para o Nordeste. Depois, foi corrigido para Minas
Gerais, mas deixava claro que havia um interesse que não era o interesse
rotineiro das ações que a PRF já participou", afirmou. O diretor-geral da PRF na época das ações, Silvinei Vasques,
é alvo de ao menos um processo administrativo na CGU. Atualmente, o ex-diretor
está aposentado da corporação.
"Nós temos aberto um procedimento para investigar as
condutas do diretor-geral, isto está em apuração na CGU. Diz respeito a um
conjunto de atuações que estão sendo analisadas no agregado,
provavelmente", informou o ministro da CGU, Vinícius Marques de Carvalho.
Outro processo administrativo na própria PRF, que havia sido arquivado
indevidamente pelo então corregedor-geral da corporação, Wendel Benevides, teve
sua investigação retomada. Entre as punições previstas, está a cassação da
aposentadoria de Vasques. Pedro Rafael Vilela/Juliana Andrade, com foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil
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