14/04/2023
TJ nega prisão de médico condenado em 2000 pela retirada de órgãos de uma criança viva de 10 anos
BELO HORIZONTE, MG - Um desembargador do Tribunal de Justiça
de Minas Gerais negou o pedido do Ministério Público que solicitava a prisão do
médico Álvaro Ianhez, condenado pela morte e retirada ilegal dos órgãos do
menino Paulo Veronesi Pavesi, de 10 anos, em Poços de Caldas, no Sul de Minas,
em abril de 2000. Na terça-feira (11/4), o ministro do Supremo Tribunal
Federal, Ricardo Lewandowski, rejeitou uma liminar que impedia que Ianhez fosse
preso. Em sua decisão, o desembargador Flávio Batista Leite,
confirmou a medida anterior que impedia a prisão do médico. No entanto, a
suspensão da detenção será mantida até que um novo julgamento do mérito do
habeas corpus aconteça. “Decidir de forma diversa seria usurpar a competência do
Tribunal de Cidadania que já decidiu o pedido cautelar e foi instado a se
manifestar no mérito pelo Supremo Tribunal Federal. Ressalto, nesse ponto, que
o Ministro Lewandowski não se manifestou sobre o pedido ministerial de
manutenção do mandado de prisão do acusado. Assim, por ora, até que o Superior
Tribunal de Justiça se manifeste de forma contrária ou que existam fatos novos
ou contemporâneos aptos a determinar a prisão preventiva, indefiro o pedido de
prisão formulado pela acusação”, escreveu o desembargador. A prisão de Álvaro Ianhez aconteceria 23 anos após o crime.
Ele e outros médicos foram condenados por adotar procedimentos ilegais para
forjar a morte cerebral da criança de 10 anos e, em seguida, retirar e
transplantar seus órgãos. O caso ficou conhecido como a “Máfia dos
Transplantes”. Em abril do ano passado, Ianhez foi condenado a 21 anos e
oito meses de prisão. Na época, o mandado de prisão expedido pela Justiça
mineira não chegou a ser executado, e Ianhez não deu entrada em nenhum sistema
prisional do Estado. Em sua decisão, o juiz responsável pelo caso considerou o
crime hediondo e não concedeu ao médico a possibilidade de recorrer em
liberdade. Outras condenações Outros dois médicos envolvidos no crime foram condenados em
janeiro de 2021. José Luis Gomes da Silva e José Luis Bonfitto também
responderam por homicídio qualificado por motivo torpe e não puderam recorrer
em liberdade. Já Marco Alexandre Pacheco da Fonseca, também médico, foi
absolvido pelo júri. A conclusão foi que a atitude do réu não gerou a causa da
morte do menino. Relembre o caso Paulo Veronesi Pavesi, de 10 anos, caiu de uma altura de 10
metros do prédio em que morava em Poços de Caldas, em abril de 2000. Ele foi
levado para o Hospital Pedro Sanches e, dois dias depois, transferido para a
Santa Casa da cidade, onde os médicos teriam constatado a morte cerebral e que
os órgãos da criança haviam sido retirados e transplantados. No entanto, a suspeita é que ele estava clinicamente vivo
quando seus órgãos foram retirados. O pai da criança desconfiou das circunstâncias da morte
depois de receber uma conta do hospital de quase R$ 12 mil. De acordo com as
informações, a cobrança era referente a medicamentos para remoção de órgãos,
que, na verdade, deveriam ser pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O caso levou a uma investigação sobre irregularidades no
esquema de transplante de órgãos em Poços de Caldas. A conclusão do inquérito
da Polícia Federal apontou que o exame para constatar a morte cerebral do
menino foi irregular. A investigação deu origem a outros inquéritos, e a Santa
Casa perdeu o credenciamento para realizar transplantes de órgãos. De acordo
com o Ministério Público, a documentação que comprovou a morte encefálica do
menino foi forjada com objetivo de tornar a criança uma doadora.
Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), na
denúncia consta que a equipe médica cometeu uma série de atos e omissões
voluntárias forjando a morte do menino para que ele fosse doador de órgãos. EM, com foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
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