06/04/2023
Depoimento: Bolsonaro diz à PF que não lembra quem o avisou das joias, mais de um ano após chegada ao Brasil
BRASÍLIA, DF - O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou em
depoimento à Polícia Federal que ficou sabendo da existência das joias sauditas
milionárias em dezembro de 2022, mais de um ano após elas terem chegado ao
país. Bolsonaro disse ainda, segundo sua defesa, que não se lembra de quem o
avisou da apreensão das joias pela Receita Federal. O depoimento de Bolsonaro, na sede da PF em Brasília, durou
cerca 3 horas. Ele foi chamado para falar sobre os três conjuntos de joias
dados de presente pelo governo da Arábia Saudita a ele e à ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro. O inquérito da PF apura se o ex-presidente cometeu o crime
de peculato ao tentar ficar com as joias, em especial um conjunto, avaliado em
R$ 16 milhões, que foi retido pela Receita Federal em outubro de 2021. Peculato ocorre quando um funcionário público se apropria de
dinheiro ou bens dos quais tem posse em razão de seu cargo. A pena varia de 2 a
12 anos de prisão, além do pagamento de multa. O conjunto retido pela Receita estava na mochila de um
assessor do Ministério de Minas e Energia, que voltava com uma comitiva da
pasta de uma viagem oficial à Arábia Saudita, em outubro de 2021. O assessor,
Marcos Soeiro, tentou passar pela alfândega sem declarar as joias, o que é
irregular. Na ocasião, o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque,
que também estava na comitiva, disse que as joias eram para Michelle. Outros dois conjuntos de joias conseguiram entrar no país,
também sem ser declarados. Após o caso se tornar público, em reportagem do
jornal "O Estado de S. Paulo" em fevereiro deste ano, Bolsonaro foi
obrigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a devolver para o Estado esses
dois conjuntos. Apesar de Bolsonaro dizer que só ficou sabendo das joias em
dezembro de 2022, a reportagem do "Estadão" mostrou tentativas do
governo de reaver o pacote retido na Receita pelo menos desde 2021. Uma dessas
tentativas, ainda em 2021, partiu do gabinete presidencial. Também prestaram depoimento à PF nesta quarta o ex-ajudante
de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, e o
ex-subsecretário-geral da Receita Federal, José de Assis Ferraz Neto. Argumentos do
ex-presidente O ex-presidente disse que a todo momento buscou verificar a
regularidade dos procedimentos, das normas aplicadas a esse caso, que tinham a
finalidade, segundo ele, de evitar o que classificou de um "vexame
diplomático" com a Arábia Saudita.
Bolsonaro disse em depoimento que, na visão dele, se essas
joias ficassem perdidas, retidas na Receita Federal, isso poderia chegar aos
ouvidos do governo saudita, o que poderia causar constrangimento. g1, com foto: Carolina Antunes/PR
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