21/03/2023
Lula edita Decreto que institui cotas raciais em 30% dos cargos de confiança do governo
BRASÍLIA, DF - Como forma de ampliar a presença de pessoas
negras em cargos de liderança, o governo federal vai implementar um programa
que reserva até 30% de vagas em cargos de comissão e funções de confiança na
estrutura do Poder Executivo, incluindo administração direta, autarquias e
fundações. O decreto que institui a medida foi assinado pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, nesta terça-feira (21), em cerimônia no Palácio do
Planalto alusiva ao Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação
Racial. "Apesar de ocupar o posto de segunda maior nação negra
do planeta [depois da Nigéria], o Brasil ainda não acertou as contas com o
passado de 350 anos de escravidão. Apesar de todos os esforços e avanços, este
país ainda tem uma imensa dívida histórica a resgatar", afirmou Lula em
discurso após assinar o decreto. O presidente lembrou que a Lei Áurea, que aboliu a
escravidão formal no país, em 1888, tirou a população do confinamento das
senzalas para o confinamento das piores estatísticas sociais até hoje.
"Moradia, emprego, educação, saúde, segurança pública. Qualquer que seja o
indicador, homens e, principalmente, mulheres negras são sempre os mais
excluídos", destacou. As cotas serão para os Cargos Comissionados Executivos
(CCE), que são de livre nomeação, e as Funções Comissionadas Executivas (FCE),
que também são de livre nomeação, mas exclusivas para servidores concursados.
Segundo o governo, o decreto estabelece o prazo de até 31 de dezembro de 2026
para que a administração pública federal alcance os percentuais mínimos de
reserva de vagas estipulados. "Daremos esse passo inédito que entrará para a
história. Negros e negras na ponta e no topo da implementação de políticas
públicas no governo federal, um novo horizonte para uma nova página desta
gestão", afirmou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em
discurso emocionado ao anunciar a medida. Os ministérios da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos
(MGI) e da Igualdade Racial (MIR) devem estabelecer metas intermediárias para
cada grupo dos níveis de CCE e FCE estipulados pelo decreto. As pastas também
devem estabelecer metas específicas para cada órgão. A norma também determina a
observação da paridade de gênero na ocupação desses cargos. Grupos de trabalho Na cerimônia, a ministra Anielle Franco anunciou a criação
de três grupos de trabalho interministerial. Um vai atuar na estruturação do novo
programa Juventude Negra Viva, que envolve uma articulação de ações de diversos
ministérios para promover oportunidades para a juventude se desenvolver com
segurança, saúde e educação.
O outro grupo de trabalho da pasta da Igualdade Racial, com
apoio do Ministério da Cultura, vai desenvolver políticas de salvaguarda e
promoção da memória e herança africana do Sítio Arqueológico do Cais do
Valongo, no Rio de Janeiro. O Mercado do Valongo foi o principal entreposto do
comércio de africanos escravizados das Américas, durante o período colonial. Um
terceiro grupo de trabalho vai propor medidas para o enfrentamento ao racismo
religioso contra religiões de matriz africana no país. Pedro Rafael
Vilela/Valéria Aguiar – Agência Brasil, com foto: Ricardo Stuckert
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