21/03/2023
Lula lança Mais Médicos com incentivo de até R$ 120 mil para atuação em áreas vulneráveis
BRASÍLIA, DF - O governo federal retomou o programa Mais
Médicos para o Brasil, nesta segunda-feira (20), e pagará um incentivo de
fixação que pode chegar a R$ 120 mil para o médico que permanecer por quatro
anos em áreas vulneráveis. Tal incentivo será ampliado caso o médico tenha sido
beneficiado pelo Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). As ações do programa têm o objetivo de aumentar o tempo
médio de permanência dos profissionais nos locais de atendimento por meio de
estratégias de formação para especialistas e pagamento de incentivos. Em
cerimônia no Palácio do Planalto, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse
que os participantes solicitam desligamento por três principais motivos: busca
de ofertas de formação, demandas familiares e outras oportunidades
profissionais. “Por isso queremos avançar na proposta de fixação de médicos
formados no Brasil no programa ao longo dos anos. Essa nova etapa propõe
extensão para quatro anos, tempo necessário para que o médico possa se submeter
a prova de título de especialista”, disse a ministra. Para isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou
nesta segunda-feira a medida provisória que institui a Estratégia Nacional de
Formação de Especialistas para a Saúde e o decreto que institui a Comissão
Interministerial de gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. O programa de
formação inclui também outras áreas da saúde, visando o atendimento de equipes
multiprofissionais para um cuidado integral à saúde da população. A previsão é
que os primeiros editais viabilizem 963 bolsas de residência médica e 837
bolsas de residência multiprofissional. Segundo Nísia Trindade, os médicos que já estão no programa
terão a continuidade das atividades e os que ingressarem terão incentivo para
prova do título de especialidades médicas. “A volta do Mais Médicos se dá em
momento fundamental. Contratos de 2,5 mil médicos vem sendo encerrados ou se
encerram em junho deste ano. Por isso é necessário prorrogar a permanência
desses profissionais, que têm tido a maior média de permanência no [Programa]
Saúde da Família. Alguns estão hoje em território yanomami nos ajudando a
superara a emergência sanitária”, destacou a ministra. O novo Mais Médicos já prevê a abertura de 15 mil vagas no
programa. A iniciativa visa ampliar o acesso da população ao atendimento médico
na atenção primária, porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS),
principalmente nas regiões de extrema pobreza e de vazios assistenciais. Para o
presidente Lula, é uma política que atende a população, os médicos e também os
prefeitos de cidades pequenas pelo país. “Só sabe o que faz de falta um médico numa cidade um
prefeito que quer contratar. Às vezes paga um salário mais alto do que poderia
pagar e ainda assim não encontra um médico que se disponha a ir para uma cidade
pequena do interior, que não tem shopping, que não tem cinema, que não tem
nada. As pessoas às vezes não desejam ir e é compreensível”, disse Lula. “Mas
também é compreensível o esforço que foi feito para criar esse programa. Na
época, sofremos muitas acusações, muita gente da categoria médica não aceitava
o Mais Médicos, sobretudo muita gente não aceitava os médicos cubanos que
vieram de fora”, lembrou o presidente. Novas vagas O objetivo do governo é que até o fim do ano cerca de 28 mil
profissionais estejam fixados em todo o país, principalmente em áreas de
extrema pobreza. A assessoria do Ministério da Saúde explicou que o programa
Mais Médicos, criado em 2013, na gestão de Dilma Rousseff, nunca foi
descontinuado e tem, atualmente, 18 mil vagas. Dessas, 13 mil estão preenchidas
por médicos contratados em editais anteriores e 5 mil serão ofertadas por meio
de novo edital, que será lançado já neste mês de março. Segundo o governo, nos últimos seis anos, o Mais Médicos foi
descaracterizado e sofreu com a falta de incentivos, sendo 2022 o ano com maior
desassistência profissional nos municípios. “O ano de 2022 finalizou com mais
de 4 mil equipes de Saúde da Família sem médicos, o pior cenário em dez anos,
afetando principalmente as áreas e as pessoas em situação de vulnerabilidade”,
disse a ministra da Saúde. Do total de novas vagas para 2023, 10 mil serão oferecidas
em um formato que prevê contrapartida dos municípios. Segundo o Ministério da
Saúde, com essa forma de contratação, as prefeituras terão menor custo, maior
agilidade na reposição do profissional e condições de ampliar a permanência dos
profissionais nas localidades. O investimento por parte do governo federal será
de R$ 712 milhões neste ano. Segundo Nísia, o governo manteve diálogo intenso com as
entidades representativas médicas, e a preocupação é com a questão de médicos
sem registro no Brasil. Por isso, segundo ela, o foco do Mais Médicos é
reforçar incentivos para médicos brasileiros formados no país se fixarem no
programa. Quando foi criado, em 2013, o programa foi marcado pela
contratação de médicos cubanos. Na ocasião, o governo federal fez acordo com a
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para trazer esses profissionais para
ocupar vagas não preenchidas por brasileiros ou outros estrangeiros com diplomas
validados no Brasil. Como já prevê a lei, podem participar dos editais do Mais
Médicos para o Brasil profissionais brasileiros e intercambistas, brasileiros
formados no exterior ou estrangeiros, que continuarão atuando com o Registro do
Ministério da Saúde. Os médicos brasileiros formados no Brasil terão
preferência na seleção dos editais. “Nós queremos que todos os médicos que se inscrevam sejam
médicos brasileiros formados adequadamente [no Brasil]. Se não tiver condições,
queremos médicos brasileiros formados no estrangeiro ou médicos estrangeiros
que trabalham aqui. Se não tiver, nós vamos fazer chamamento para que médicos
estrangeiros [formados no exterior] ocupem essa tarefa, porque o que importa
não é apenas saber a nacionalidade do médico é saber a nacionalidade do
paciente, que é um brasileiro que precisa de saúde”, argumentou o presidente
Lula em seu discurso. O tempo de participação no programa passa a ser de quatro
anos, prorrogável por igual período, quando o médico poderá fazer especialização
e mestrado. A bolsa é de R$ 12,8 mil, mais auxílio-moradia. Os brasileiros e
estrangeiros formados no exterior que participarem do programa terão desconto
de 50% na prova de revalidação do diploma, o Revalida, realizada pelo
Ministério da Educação. Na última edição do Revalida, o valor da taxa de
inscrição foi de R$ 410. Formação e incentivos Levantamento feito pelo Ministério da Saúde aponta que 41%
dos participantes do programa desistem de atuar nos locais mais remotos para
irem em busca de capacitação e qualificação. Como incentivo, então, eles
receberão adicional de 10% a 20% da soma total das bolsas de todo o período de
permanência no programa, a depender da vulnerabilidade do município. O valor, que poderá chegar a R$ 120 mil, será pago ao final
dos 48 meses. O profissional também terá a opção de antecipar 30% desse
pagamento ao final de 36 meses de atuação no programa. O Mais Médicos para o Brasil também dará incentivos aos
profissionais formados com apoio do governo federal, beneficiados pelo
Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). “O bônus vai permitir que
esses médicos saldem as suas dívidas se ficarem todo o tempo do nosso
programa”, explicou Nísia. Nesse caso, o adicional será de 40% a 80% da soma total das
bolsas de todo o período de permanência no programa, a depender da
vulnerabilidade do município e será pago em quatro parcelas: 10% por ano
durante os três primeiros anos, e os 70% restantes ao completar 48 meses de
trabalho. Outro desafio, segundo o governo, é a ampliação da formação
de médicos de família e comunidade, que são aqueles direcionados para o
atendimento nas unidades básicas de Saúde (UBS). Para isso, serão ofertadas
vagas para os médicos residentes que foram beneficiados pelo Fies cumprirem o
programa de residência em áreas com falta de profissionais. Para apoiar a continuidade no programa das médicas mulheres,
será feita uma complementação ao auxílio do Instituto Nacional do Serviço
Social (INSS), para que ela receba o mesmo valor da bolsa durante o período de
seis meses de licença maternidade. Para os participantes do programa que se
tornarem pais, será garantida licença de 20 dias com manutenção do valor da
bolsa. Menos internações Segundo o Ministério da Saúde, o novo Mais Médicos é uma
política pública que envolve estratégias pensadas a curto, médio e longo prazo,
já que o primeiro atendimento, realizado nas unidades básicas de Saúde, é
responsável pelo acompanhamento da situação de saúde da população, prevenção e
redução de agravos. “Hoje existem evidências consolidadas de que o programa
conseguiu prover profissionais para as áreas mais vulneráveis, ampliou o acesso
na Saúde da Família, diminui internações hospitalares e a mortalidade infantil.
É por isso que ele está de volta”, argumentou a ministra da Saúde, Nísia
Trindade.
Dados da Rede Observatório do Programa Mais Médicos,
disponibilizados pela pasta, apontam que, entre 2013 e 2015, o número de
consultas em municípios com médicos do programa aumentou 33%, enquanto o número
de internações ficou 4% menor. Nos municípios em que a cobertura do Mais
Médicos atingiu mais que 36% da população, a redução no número de internações
no mesmo período foi ainda maior, chegando a 8,9%. Andreia Verdélio/Fernanda
Fraga, com foto: Lula Marques – Agência Brasil
|