16/03/2023
PF abre inquérito para investigar denúncias de espionagem pela Abin durante o governo Bolsonaro
BRASÍLIA, DF - A Polícia Federal (PF) determinou nesta
quinta-feira (16) a instauração de um inquérito para investigar denúncias de
que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou celulares de milhares
de brasileiros durante os três primeiros anos do governo Jair Bolsonaro. A
informação foi publicada pelo jornal O Globo na última terça-feira (14) e
confirmada pela Abin no dia seguinte. Segundo a agência, o contrato de uso do software de
localização teve início no final de 2018, ainda no governo Michel Temer, e foi
encerrado em 8 de maio de 2021. O programa, chamado FirstMile, foi comprado por
R$ 5,7 milhões da empresa israelense Cognyte, com dispensa de licitação. A
ferramenta permitia o monitoramento de até 10 mil celulares a cada 12 meses,
bastando digitar o número da pessoa. Além disso, a aplicação criava históricos
de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos
cadastrados. "A solução tecnológica em questão não está mais em uso
na Abin desde então [8 de maio de 2021]. Atualmente, a Agência está em processo
de aperfeiçoamento e revisão de seus normativos internos, em consonância com o
interesse público e o compromisso com o Estado Democrático de Direito",
informou a Abin, em nota. A investigação da PF será conduzida pela Diretoria de
Inteligência Policial. Denúncia na ONU O ex-presidente da República Jair Bolsonaro foi denunciado
na Organização das Nações Unidas (ONU), durante a 52ª sessão do Conselho de
Direitos Humanos, realizada na última terça-feira, pelo uso desordenado de
tecnologias digitais e sistemas de monitoramento no período da pandemia de
covid-19. As organizações não governamentais (ONGs) Conectas, Artigo 19, Data
Privacy Brasil e Transparência Internacional Brasil, responsáveis pela
denúncia, pediram à ONU que questione o Brasil sobre o uso dessas tecnologias e
o tratamento dos dados coletados durante a pandemia. Segundo o documento apresentado na ONU, entre 2020 e 2022
foram utilizadas tecnologias digitais para a coleta de dados biométricos, de
geolocalização e informações de saúde da população sem a devida transparência e
participação da sociedade civil. As instituições envolvidas na denúncia
afirmaram ainda que a fragilidade dos mecanismos de controle e a indisposição
dos órgãos responsáveis por monitorar o uso dessas tecnologias de modo efetivo
foram fatores decisivos para o agravamento do problema.
Além disso, as organizações manifestaram preocupação com o
aumento dos gastos governamentais em equipamentos de vigilância e software
espião, com destaque para o campo da segurança pública e da inteligência
estatal. Na avaliação das entidades, tais ações violam os direitos fundamentais
de liberdade de expressão, associação, privacidade e intimidade. Pedro Lacerda/Juliana
Andrade, com foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil
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