11/03/2023
MP pede que Bolsonaro seja obrigado a destinar joias ao acervo público num prazo de cinco dias
BRASÍLIA, DF - O Ministério Público junto ao Tribunal de
Contas da União (MPTCU) pediu ao ministro Augusto Nardes, do TCU, que
reconsidere sua própria decisão e determine a obrigação do ex-presidente da
República Jair Bolsonaro devolver à União, em até cinco dias, parte das joias
que, supostamente, lhe foram enviadas de presente por representantes do governo
da Arábia Saudita. O recurso que o subprocurador-geral do MPTCU, Lucas Furtado,
enviou nesta sexta-feira (10) ao ministro é uma reação à decisão de Nardes,
que, na quinta (9), nomeou Bolsonaro como “fiel depositário” das joias
milionárias até que o TCU conclua a análise dos indícios de irregularidades e
dê a palavra final sobre qual a destinação adequada para as joias. Na decisão, tornada pública na noite desta quinta-feira,
Nardes determina que Bolsonaro não poderá usar, dispor ou vender nenhuma das
joias, devendo preservá-las intactas. Para o ministro, embora muitas perguntas
sigam sem respostas, já há “indícios de irregularidades afetos à tentativa de
entrada no país de joias e relógio no valor total de 3 milhões de euros” (cerca
de R$ 16,5 milhões de reais pelo câmbio atual). O valor citado pelo ministro Augusto Nardes diz respeito
apenas à avaliação do conjunto de joias femininas (um colar, um anel, um
relógio e um par de brincos de diamantes) que agentes da Receita Federal
apreenderam em outubro de 2021, ao inspecionar a bagagem de um então assessor do
Ministério de Minas e Energia que integrava a comitiva que acompanhou o
ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque em uma viagem oficial à Arábia
Saudita. Há ainda um segundo kit, este contendo joias masculinas (um
relógio de pulso; um par de abotoaduras; uma caneta; um anel e uma espécie de
terço - uma masbaha), cujo valor ainda é incerto. Ao contrário do conjunto
feminino, as joias masculinas não foram identificadas no momento em que o
ex-ministro Bento Albuquerque e seus assessores chegaram ao país, tendo
ingressado irregularmente no país, já que não foram declaradas. Defesa Desde a última terça-feira (7), a Agência Brasil vem
questionando o Palácio do Planalto, o Ministério de Minas e Energia e pessoas
próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o atual paradeiro das joias
masculinas, mas até o momento, não obteve informações precisas, oficiais.
Conforme a Agência Brasil noticiou, documentos indicam que, em 29 de novembro
de 2022, ou seja, mais de um ano após a comitiva de Albuquerque trazer as joias
ao país, um representante do ministério enfim entregou o kit masculino ao
Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, órgão da Presidência da República
responsável por, entre outras coisas, analisar os presentes recebidos por
autoridades brasileiras e dizer se se tratam de objetos de uso pessoal ou
destinados ao Estado brasileiro em função do valor histórico, cultural e
financeiro. Nesta sexta-feira (10), a reportagem perguntou ao
ex-ministro Bento Albuquerque, por meio de sua assessoria, o motivo dele não
ter entregue ou avisado os agentes alfandegários sobre a existência do segundo
kit de joias ao ver seu assessor, o ex-chefe do escritório de Representações da
pasta no Rio de Janeiro, Marcos André Soeiro, ser parado por não ter declarado
as peças femininas que trazia na bagagem. Albuquerque se limitou a reenviar uma
nota já divulgada anteriormente em que afirma que “o governo brasileiro tomou
as medidas cabíveis e de praxe, como sempre ocorreu, em relação aos presentes
institucionais ofertados à representação brasileira que participou de eventos
diplomáticos na Arábia Saudita”. Na nota, o ministro também assegura que, “em função dos
valores histórico, cultural e artístico dos itens, o MME encaminhou solicitação
para que o acervo recebido tivesse seu adequado destino legal”, sem especificar
a quem a solicitação foi encaminhada. Acervo Nesta quinta-feira (8), o ex-presidente Jair Bolsonaro
afirmou à CNN Brasil que as joias masculinas chegaram a ser incluídas entre os
objetos destinados a seu acervo privado – sem deixar claro se, com isso, as
levou consigo ao deixar a Presidência da República. “Não teve nenhuma
ilegalidade. Segui a lei, como sempre fiz”, disse Bolsonaro. De acordo com as normas aduaneiras, como a comitiva
brasileira não declarou as joias ao chegar ao país, caso Bolsonaro queira
reivindicá-las para uso pessoal, terá que pagar metade do valor das mesmas,
mais uma multa de 50%. Caso contrário, elas serão incorporadas ao patrimônio
público ou leiloadas – caso em que ao menos 40% da quantia arrecadada será
destinada ao Tesouro Nacional e a políticas de seguridade social. "Roteiro
cinematográfico" No recurso que apresentou ao ministro Augusto Nardes, o
subprocurador-geral do MPTCU, Lucas Furtado, afirma que o episódio das joias e
suas repercussões lembram os roteiros dos filmes do diretor cinematográfico
norte-americano Quentin Tarantino. "A cada novo dia que acordo e me deparo
com os mirabolantes desdobramentos dessa história dos supostos presentes árabes
recebidos pelo casal Bolsonaro, a qual se revela cada vez mais escabrosa e com
sucessivos capítulos que vão se tornando mais complexos e com a inserção de
novos elementos e suspeitas, tenho a impressão que estou imerso em um filme de
Quentin Tarantino", menciona o subprocurador ao se referir a uma
reportagem do portal Metrópoles.
Segundo o portal, já em 2019, Bolsonaro contrariou uma regra
do TCU e se apropriou de um fuzil e de uma pistola que ganhou de representantes
dos Emirados Árabes - informação que Furtado pede que o TCU apure a fim de
decidir se é o caso de pedir a Bolsonaro que entregue, além das joias, também
as armas. Alex Rodrigues/Aline Leal – Agência Brasil, com foto: Isac Nóbrega/PR
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