08/03/2023
Covid-19 deixou 40 mil crianças e adolescentes órfãos de mãe no Brasil, aponta estudo da Fundação Oswaldo Cruz
RIO DE JANEIRO, RJ - As mortes causadas pela pandemia de
covid-19 deixaram 40.830 crianças e adolescentes órfãos de mãe no Brasil,
segundo estudo publicado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para os autores da pesquisa, divulgada hoje (26) pela
Fiocruz, houve atraso na adoção de medidas necessárias para o controle da
doença, e isso provocou grande número de mortes evitáveis. Os resultados obtidos pelos pesquisadores podem ser
consultados em artigo publicado em inglês, em 19 de dezembro. As fontes de
dados utilizadas foram o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), em
2020 e 2021, e o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) entre
2003 e 2020. Coordenador do Observatório de Saúde na Infância, iniciativa
da Fiocruz com a Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Arthur de Sá
Earp Neto (Unifase), Cristiano Boccolini alerta que essas crianças e
adolescentes necessitam, com urgência, da adoção de políticas públicas intersetoriais
de proteção. "Considerando a crise sanitária e econômica instalada
no país, com a volta da fome, o aumento da insegurança alimentar, o crescimento
do desemprego, a intensificação da precarização do trabalho e a crescente fila
para o ingresso nos programas sociais, é urgente a mobilização da sociedade
para proteção da infância, com atenção prioritária a este grupo de 40.830
crianças e adolescentes que perderam suas mães em decorrência da covid-19 nos
dois primeiros anos da pandemia", afirma o pesquisador, que é um dos
autores da pesquisa. A morte de um dos pais, e em particular da mãe, está ligada
a desfechos adversos ao longo da vida e tem graves consequências para o
bem-estar da família, acrescenta a pesquisadora do Laboratório de Informação e
Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em
Saúde (Icict/Fiocruz), Celia Landmann Szwarcwald. "As crianças órfãs são mais vulneráveis a problemas
emocionais e comportamentais, o que exige programas de intervenção para atenuar
as consequências psicológicas da orfandade." O dado sobre órfãos é uma parte da análise dos pesquisadores
sobre a mortalidade causada pela pandemia de covid-19 em toda a população.
Outro ponto destacado pelo estudo é que a covid-19 foi responsável por mais que
um terço de todas as mortes de mulheres relacionadas a complicações no parto. Os pesquisadores calculam que, em 2020 e 2021, a covid-19
foi responsável por quase um quinto (19%) de todas as mortes registradas no
Brasil. Durante o pico da pandemia, em março de 2021, o país chegou a
contabilizar quase 4 mil óbitos pela doença por dia, número que supera a média
diária de mortes por todas as causas em 2019, que foi de 3,7 mil. Desigualdades O estudo indica ainda que a mortalidade entre analfabetos
chegou a ser de 38,8 mortes a cada 10 mil pessoas, enquanto a média da
população brasileira foi de 14,8 mortes para cada 10 mil pessoas. Para estimar o impacto da escolaridade na mortalidade por
covid-19, os pesquisadores utilizaram dados de óbitos pela doença e a
distribuição da população brasileira por nível de escolaridade da Pesquisa
Nacional de Saúde. Os resultados mostram que entre adultos analfabetos a
mortalidade por covid-19 foi três vezes maior que entre aqueles que concluíram
o ensino superior. A pesquisadora da Fiocruz Wanessa da Silva de Almeida lembra
que a escolaridade e outras características socioeconômicas afetam o
prognóstico da covid-19 e outras doenças. "A desigualdade socioeconômica
acarreta iniquidades no acesso aos serviços de saúde e, consequentemente,
dificuldades no diagnóstico oportuno e no tratamento dos casos."
Os autores do estudo destacam que o maior peso da
mortalidade nos indivíduos de menor escolaridade reflete o impacto desigual da
epidemia nas famílias brasileiras socialmente desfavorecidas, sendo ainda maior
entre as crianças e adolescentes que se tornaram órfãs e perderam um dos provedores
do sustento da família. Vinícius Lisboa/Maria Claudia, com foto: Rovena Rosa – Agência Brasil
|