25/01/2023
Covid-19 matou mais enfermeiros no Norte que no Sudeste e maioria era de pretos e pardos, diz Fiocruz
RIO DE JANEIRO, RJ - Um estudo divulgado na terça-feira (24)
pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) traçou um perfil dos profissionais de
saúde mortos no primeiro ano da pandemia de covid-19 e mostrou que mais
enfermeiros foram vítimas da doença na Região Norte que na Região Sudeste. O
trabalho foi publicado na revista científica Ciência & Saúde Coletiva. A autora principal do artigo, Maria Helena Machado, diz que
os dados regionais de mortalidade dos profissionais de saúde por covid-19 entre
março de 2020 e março de 2021 são “uma fotografia real, crua e dura da
desigualdade social que impera no país e no Sistema Único de Saúde [SUS]”. A pesquisa mostra que, dos 582 mil enfermeiros que existem
no país, apenas 7,6% estão na Região Norte, e 45,1%, na Região Sudeste. Mesmo
assim, dos 200 enfermeiros mortos por covid-19 e contabilizados pelo Conselho
Federal de Enfermagem (Cofen) no primeiro ano da pandemia, 29,5% eram do Norte
e 26,5%, do Sudeste. Em números absolutos, foram 59 vítimas no Norte, e 53, no
Sudeste. "É lá [Região Norte] que se vê com clareza onde o
genocídio dos profissionais se deu forma mais aguda. É onde tem piores
condições de trabalho e maior aglomeração da população desesperada por
atendimento. O Amazonas foi um exemplo vivo do descaso com que a Amazônia Legal
vem sendo tratada no país. Ela ficou muito descoberta e desprotegida",
disse a pesquisadora, em texto publicado pela Agência Fiocruz de Notícias. O Amazonas foi o estado brasileiro em que houve mais mortes
de enfermeiros no primeiro ano da pandemia, com 12,5% do total. São Paulo teve
10,5%, e Rio de Janeiro, 9,5%. Subnotificação Outro alerta trazido pela pesquisa é a possível
subnotificação nos dados de profissionais de saúde vítimas da pandemia. O
estudo cita números da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estima pelo menos
115 mil profissionais da saúde vítimas da covid-19 até maio de 2021, em todo o
mundo, mas considera que o total pode ser ainda maior. Para o estudo da Fiocruz, foram usados os bancos de dados do
Cofen e do Conselho Federal de Medicina (CFM), mas a pesquisa chama a atenção
para o fato de não haver no país sistematização dos números de contaminados e
de mortes entre os trabalhadores da saúde. "É importante assinalar que a escassez e, por vezes, a
ausência sistemática de dados sobre óbitos de profissionais de saúde em geral
durante a pandemia é um fato grave. Isso implica um apagão de fatos que
aconteceram e estão acontecendo com esses trabalhadores, gerando um cenário de
incertezas na pandemia e no pós-pandemia", diz um trecho do artigo. Médicos e auxiliares
de enfermagem A disparidade entre a proporção de profissionais e a
proporção de mortes também aparece entre médicos e auxiliares de enfermagem.
Com apenas 4,5% dos médicos do país, mas teve 16,1% dos óbitos entre esses
profissionais. Entre os auxiliares de enfermagem, 8,7% estão no Norte, enquanto
23,2% das vítimas dessa categoria profissional se concentram nesses estados. A pesquisa mostra ainda que 75% dos médicos mortos estavam
acima dos 60 anos, enquanto 80% dos técnicos ou auxiliares de enfermagem mortos
estavam abaixo dessa faixa etária. "A enfermagem tem uma inserção mais institucional,
assalariada e com tempo de trabalho predeterminado. Boa parte da enfermagem no
Brasil tem assegurado o direito formal à aposentadoria. Na medicina, é
exatamente o contrário, pois infelizmente os médicos estão cada vez mais de
forma autônoma no mercado profissional. A outra questão é que as categorias da
enfermagem têm inserção no mercado de trabalho em fases da vida bastante distintas.
Os técnicos podem iniciar a jornada por volta dos 18 anos, por exemplo. Os
enfermeiros, assim como os médicos, precisam primeiro se formar na
universidade, mas o curso de medicina é mais longo, fazendo que com que esses
profissionais entrem mais tarde no mercado, o que também contribui para o
prolongamento de suas carreiras”, analisa a pesquisadora. O perfil dos profissionais da enfermagem mortos por covid-19
foi principalmente de mulheres negras. Entre os enfermeiros vitimados, 59,5%
eram mulheres, enquanto, entre os auxiliares de enfermagem, elas eram 69,1%. Já
em relação à raça, 31% dos enfermeiros que morreram por Covid-19 eram brancos,
e 51%, pretos e pardos. Já entre os auxiliares e técnicos, 29,6% eram brancos e
47,6% pretos e pardos.
Entre os médicos, 87,6% das vítimas são homens, e 12,4%,
mulheres. A pesquisa informou que dados sobre cor e/ou raça não estão disponíveis
no caso dos médicos – Vinícius Lisboa/Nádia Franco. Agência Brasil, com foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF
|