08/12/2022
Consumidor de energia elétrica pagará conta de R$ 500 bilhões nos próximos anos
BRASÍLIA, DF - A conta dos consumidores de energia elétrica
tem impacto de R$ 500 bilhões, a serem pagos nos próximos anos. Segundo
levantamento do grupo técnico de Minas e Energia da equipe de transição, esta
será a “herança” deixada por uma série de ações adotadas pelo atual governo. De acordo com o coordenador executivo do grupo, Mauricio
Tolmasquim, o principal impacto é uma das consequências da privatização da
Eletrobras, com um custo de R$ 368 bilhões nas contas. Uma das emendas
inseridas pelos parlamentares no projeto que aprovou a venda da estatal no
Congresso obriga o governo a comprar energia de termelétricas a gás natural nas
regiões Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste a partir de 2026. “Lugares
distantes onde não há gás natural”, alertou Tolmasquim, durante entrevista
coletiva no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. Também aumentaram o rombo na Conta-Covid, um empréstimo
feito ao setor elétrico durante a pandemia de covid-19 no valor de R$ 23
bilhões; a Conta Escassez-Hídrica, novo empréstimo de R$ 6,6 bilhões feito ao
setor elétrico para cobrir prejuízos com a crise energética de 2021; a
contratação emergencial de usinas termelétricas, realizada em outubro do ano
passado pelo governo, no valor de R$ 39 bilhões; e a obrigação de reserva de
mercado com a contratação de Pequenas Centras Hidrelétricas (PCHs) nos leilões
de energia, de R$ 55 bilhões, mais uma exigência feita pelo Congresso no
projeto de privatização da Eletrobras. Segundo Tolmasquim, isso terá que ser pago pelos
consumidores durante esse período do governo que se inicia, mas por outros governos
também. “Hoje temos um fenômeno que o custo da geração de energia elétrica é
muito barato, nossas fontes são baratas, temos bons recursos naturais, mas a
tarifa que o consumidor paga é exorbitante, uma das mais caras do mundo. Agora
vem mais pressão sobre a tarifa e temos que agir para resolver isso”, disse. A equipe de transição fará sugestões ao novo ministro de
Minas e Energia para reduzir esses valores, como a rescisão dos contratos
emergenciais com as usinas termelétricas e a revisão, junto ao Congresso, da
obrigação de instalar esse tipo de usina em lugares distantes, longe do
suprimento de gás e do centro de consumo. “Não aceitamos isso como prato feito.
Existe espaço para negociação, ações para reduzir esse custo e o consumidor não
ser impactado enormemente”, destacou. Ele citou ainda a escalada da criação de subsídios no setor,
como para a energia fotovoltaica, “uma fonte altamente competitiva”. Nesta
semana, a Câmara dos Deputados aprovou a prorrogação, por mais seis meses, do
prazo final para instalação de microgeradores e minigeradores de energia fotovoltaica
com isenção de taxas pelo uso da rede de distribuição para jogar a energia
elétrica na rede. A isenção vai até 2045. Para Tomalquim, esse tipo de ação é resultado da “omissão
completa do governo de formular políticas públicas para o setor”, o que levou,
por exemplo, à privatização da Eletrobras. “Nenhum país do mundo fez isso, que
é vender usina hidrelétrica amortizada, que não gera nenhum centavo na
economia, e coloca um poder absurdo em grupo privado”, disse. Segundo ele, a expansão do setor deve passar pela visão de
transição energética, por fontes como solar e eólica, mas é preciso pensar na
segurança energética e capacidade de fornecimento no futuro, que passa pela
energia hídrica, atuação central da Eletrobras. Da mesma forma, a intenção do próximo governo é expandir a
capacidade de refino da Petrobras e reduzir a dependência do combustível
importado e do impacto da taxa de câmbio sobre o valor do produto
comercializado aos brasileiros. “Sempre olhando essa visão de transição
energética que a Petrobras tem responsabilidade, como todas as petrolíferas
têm, com a questão climática. Não quer dizer que deixará de ter rentabilidade”,
disse, explicando que parte dos lucros podem ser investidos em outros setores
que também trazem receita para o país.
Além de questões no setor elétrico, o grupo citou problemas
ligados ao funcionamento do Estado, do sucateamento de agências reguladoras e
empresas, incluindo a Petrobras, ao incentivo à mineração ilegal. Agência Brasil, com foto: Marcello Casal Jr
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