28/11/2022
Implementar o novo Enem será desafio do novo governo; veja as principais mudanças
BRASÍLIA, DF - O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
passará por mudanças nos próximos anos. O exame terá que ser adequado ao
novo ensino médio, que reformou o currículo dessa etapa de ensino. A previsão é
que o novo modelo seja aplicado a partir de 2024. A Agência Brasil conversou
com especialistas sobre o futuro do maior exame de ingresso no ensino superior
do país. “Nós temos uma mudança tão grande se aproximando e a escola
precisa saber, sem sombra de dúvida, exatamente o que vai ser exigido dos seus
estudantes. Isso é muito urgente”, diz o professor emérito da Universidade
Federal de Minas Gerais Chico Soares. “Isso é um tema que tem que ser tratado
logo no início da nova gestão. Existem diferentes soluções, mas não temos
solução que seja aceita por todos os atores desse debate”. Soares é ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e é também ex-membro do Conselho
Nacional de Educação (CNE), onde foi um dos relatores da chamada Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), documento que define o mínimo que deve ser ensinado
nas escolas em todas as etapas de ensino. Em março deste ano, o Ministério da Educação (MEC) divulgou
as principais mudanças que deverão ocorrer no Enem a partir de 2024. O exame
passará a ter uma primeira prova voltada para conhecimentos previstos
na BNCC e redação e uma segunda, voltada para a formação específica que os
estudantes receberão no ensino médio. As alterações estão previstas em parecer do CNE e foram
discutidas também com vários atores, como o Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed), que reúne os secretários estaduais de Educação, responsáveis
pelas escolas públicas onde está matriculada a maior parte dos estudantes do
ensino médio. Para Soares, esta é uma oportunidade de o país revisar o que
é ou não necessário para o aprendizado nas escolas. “O Enem pauta o ensino
médio. Se o Enem pautar bem, o nosso estudante vai estudar e aprender
coisas que são mais relevantes para a vida dele”, diz. Novo ensino médio O novo ensino médio começou a ser aplicado este ano em todo
o país. Nos novos currículos escolares, parte das aulas será comum a todos os
estudantes do país e direcionada pela BNCC. Na outra parte da formação, os próprios estudantes poderão
escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. As opções permitem ênfase
em áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e
ensino técnico. A oferta de itinerários vai depender da capacidade das redes de
ensino e das escolas brasileiras. No primeiro dia de prova do Enem, a ideia é que as questões
sejam interdisciplinares, ou seja, abordem mais de uma área de conhecimento, e
o principal foco seja em português e matemática. A prova de inglês também será
integrada às demais áreas. Já a segunda etapa do exame será voltada
para a formação específica que os estudantes receberão no ensino médio. De
acordo com o MEC, na hora da inscrição, os candidatos poderão escolher entre
responder questões de linguagens, ciências humanas e sociais aplicadas;
matemática, ciências da natureza e suas tecnologias; matemática, ciências
humanas e sociais aplicadas; ou ciências da natureza, ciências humanas e
sociais aplicadas. Próximos passos Para que isso se torne realidade, segundo a socióloga e
professora aposentada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Maria
Helena Guimarães de Castro, algumas medidas do Inep são necessárias e urgentes,
como a divulgação das matrizes que guiarão a elaboração das futuras provas.
Maria Helena foi secretária executiva do MEC e presidente do CNE. Ela foi a
relatora do parecer que propõe as mudanças necessárias para o novo Enem. “É muito importante divulgar as matrizes [do novo Enem] que
vão seguir outra concepção de prova”, diz. “Para a segunda etapa da
prova, o Inep precisará fazer uma publicação, com edital, para montar os itens
por áreas que serão avaliadas. Para isso, vai precisar também das matrizes”,
acrescenta. As provas do Enem seguem uma série de etapas até ficarem prontas. A
organização para um próximo exame começa ainda no ano anterior à aplicação. A
reentruturação do Enem demandará ainda mais planejamento. Segundo o parecer do CNE, é possível que o Enem passe a
contar com questões dissertativas. Atualmente, o Enem é composto apenas por
questões objetivas. A única parte subjetiva é a redação. Isso deverá constar
nas matrizes elaboradas pelo Inep. Outras medidas apontadas como necessárias por Maria
Helena são a criação e o fortalecimento do conselho de governança do novo
Enem. “Como existe na maior parte dos países, com secretarias estaduais,
escolas públicas, particulares, sob coordenação do Inep. Esse comitê deve
acompanhar os trabalhos do Inep, dando transparência ao processo”, explica. O
conselho chegou a ser formado, mas, segundo Maria Helena, ainda precisa ser de
fato consolidado. As mudanças do Enem foram citadas pelo Inep em coletiva de
imprensa na segunda-feira (21), após a aplicação do Enem 2022. “A equipe do
Inep hoje, já pensando na aplicação dos exames do futuro, está
trabalhando na elaboração das matrizes do Enem de 2024, vinculado à BNCC. Claro
que isso será aplicado em 2024, mas ainda este ano queremos publicar o
cronograma do Enem 2023, para que as pessoas possam se programar com
antecedência”, disse o presidente substituto do Inep, Carlos Moreno. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed), Vitor de Angelo, a expectativa é que a nova gestão do MEC
acate o que já foi definido até aqui em relação ao novo Enem. “O Enem está bem
maduro em termos de discussão, sobre a estrutura, sobre qual o modelo da
avaliação. Agora, tem que fazer as questões, fazer os testes, tem ainda uma
tarefa que é grande”, diz.
O secretário ressalta que o novo ensino médio tem aspectos
muito diferentes do adotado nas escolas até hoje. “É uma completa
novidade, então o novo Enem precisa estar alinhado a isso, uma vez que é a
etapa subsequente, é a porta de entrada para o ensino superior. Não há como
cursar o ensino médio querendo ir para o ensino superior sem passar pelo Enem e
não dá para o Enem ser uma avaliação que se debruça sobre os conhecimentos que
se teve no ensino médio.” Agência Brasil, com foto: Marcello Casal Jr
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