08/11/2022
Número de famílias com contas atrasadas no Brasil atinge maior taxa anual desde 2016, revela a CNC
BRASÍLIA, DF - O volume de famílias com contas atrasadas no
país subiu em outubro e atingiu a maior taxa anual em seis anos, revelou hoje
(7) a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic),
divulgada nesta segunda-feira pela CNC, a proporção de famílias inadimplentes
ficou em 30,3% em no mês passado, alta de 0,3 ponto percentual em relação a
setembro, e de 4,6 pontos em relação a outubro do ano passado. Esse avanço de 4,6 pontos em 12 meses foi o maior registrado
na comparação anual desde março de 2016, informou a CNC. O indicador subiu pelo
quarto mês consecutivo. O aumento na inadimplência ocorreu mesmo com a relativa
estabilidade na proporção de endividados. Em outubro, o percentual das famílias
com dívidas a vencer chegou a 79,2%. O indicador caiu 0,1 ponto na comparação
com setembro, mas subiu 4,6 pontos percentuais em relação a outubro de 2021. De acordo com a CNC, o aumento da inadimplência pode ser
explicado pela combinação de grande nível de endividamento e juros altos. Na
avaliação da entidade, esse cenário dificulta a quitação de todos os
compromissos financeiros dentro do mês, mesmo com a melhora progressiva no
mercado de trabalho, a queda da inflação e as políticas de transferência de
renda reduzindo a proporção de endividados. Estados e renda Na divisão por estados, a inadimplência cresceu em 12 das 27
unidades da Federação, com destaque para a Bahia, onde 43,7% das famílias
relataram estar com as contas atrasadas. Em relação ao endividamento, a
proporção de famílias com débitos a vencer subiu em 17 unidades da Federação. A
maior alta foi no Paraná, onde 95,8% das famílias afirmaram estar endividadas. Na comparação por renda, a taxa de endividamento aumentou
nos últimos 12 meses tanto entre as famílias de baixa e média renda (que ganham
até dez salários mínimos) quanto entre as de maior renda (que recebem mais que
dez salários mínimos). Segundo a CNC, as dívidas no cartão de crédito e no
cheque especial, que cobram os juros mais altos, estão pressionando o aumento
na proporção de endividados. Desaceleração Na comparação com outubro de 2021, o número de famílias com
dívidas a vencer subiu 4,6 pontos percentuais, menor taxa anual desde julho de
2021, disse à Agência Brasil a economista da CNC Izis Ferreira. Segundo Izis,
nessa base de comparação, o aumento tem sido cada vez menor. A economista
destacou que hoje ainda existe uma proporção de endividados mais alta do que
havia em outubro de 2021, mas disse que a taxa anual vem desacelerando, ficando
“cada vez menos expressiva”. Izis Ferreira ressaltou que, atualmente, as pessoas circulam
mais pelas ruas e podem consumir produtos e serviços sem nenhuma restrição. O
contexto econômico mostra que a inflação está dando uma trégua, temporariamente
e ainda em nível elevado, mas tem aliviado um pouco a renda disponível. “Isso
se refletiu na proporção de endividamento, embora o nível de endividamento
ainda seja muito alto.” A economista ressaltou que, em 2021, a proporção de
endividados cresceu mais entre famílias de maior renda (5,8 pontos percentuais)
que entre as de menor renda (4,3 pontos percentuais ). De setembro para outubro
deste ano, a redução foi mais significativa entre os consumidores de renda
elevada (-0,5 pontos percentuais). “Temos 80,2% de famílias de baixa e média
renda endividadas hoje e 75,4% de famílias de renda alta endividadas. Na
comparação com outubro do ano passado, o endividamento foi maior para o grupo
de alta renda, que retomou o consumo de serviços em um ambiente em que estes
estão mais caros. Estamos falando de passagens aéreas, viagens, salão de
beleza, alimentação fora do domicílio. Tudo isso cresceu muito de preço no
último ano.” Passagens aéreas pesam muito no item de viagens para
famílias de renda elevada, que as compram com cartão de crédito, disse a
economista. A retomada de serviços por esse grupo, em um ambiente em que há
inflação de serviços alta, levou-o a um aumento mais expressivo na proporção de
endividados. Mas o grupo de menor renda ainda tem famílias mais numerosas
quando se olha o total de endividados no Brasil, destacou. Juros altos Os orçamentos domésticos continuam apertados, principalmente
entre as famílias de menor renda, apesar da retomada progressiva do fôlego na
economia, disse o presidente da CNC, José Roberto Tadros. “O nível de
endividamento alto e os juros elevados pioram as despesas financeiras
associadas às dívidas em andamento, ficando mais difícil quitar todos os
compromissos financeiros dentro do mês.” Segundo o Banco Central, os juros anuais em todas as linhas
de crédito para as pessoas físicas atingiram 53,7% em média, em setembro, com
evolução de 12,5 pontos percentuais. Izis Ferreira afirmou, contudo, que a
proporção de famílias com dívidas atrasadas por mais de 90 dias vem se
reduzindo desde abril. Em outubro, esse indicador alcançou 41,9% dos
inadimplentes, menor proporção desde dezembro de 2021. Segundo Izis, os consumidores têm buscado renegociar as
dívidas atrasadas. A porcentagem de famílias que afirmaram não ter condições de
pagar as contas caiu 1 ponto percentual de setembro para outubro, representando
10,6% do total de famílias. Principais dívidas O cartão de crédito mantém-se, já há algum tempo, como
principal tipo de dívida das famílias brasileiras, indica a Peic. Aumentou de
84,9%, em outubro do ano passado, para 86,2% em igual mês deste ano. Do mesmo
modo, houve expansão no cheque especial, de 4,9% para 5,1%, na mesma base de
comparação." São duas modalidades de fácil acesso, além de serem meios de
pagamento muito difundidos. E, muitas vezes, as famílias consideram o limite
aprovado como renda disponível, assim como o cheque especial. O que aconteceu,
ao longo do ano, é que as duas modalidades foram suportando o consumo,
especialmente de gêneros de primeira necessidade, para consumo imediato, e o
orçamento não deu. Aí, como a família não tem reserva de emergência, usou o
cheque especial e o cartão de crédito.” Izis salientou que, nesse caso, além da questão conjuntural,
há o fator comportamental. Além de ser muito fácil de usar e muito divulgado, o
cartão de crédito enfrenta promessas de benefícios e incentivos de muitas
lojas. Isso, de certa forma, incentiva as pessoas a usar mais o cartão de
crédito. “Por isso, chegamos a 86,2% de endividados no cartão. Só que o cartão
é uma faca de dois gumes. Ele é muito fácil, mas é muito caro.” A taxa de juros média do rotativo do cartão alcança em torno
de 380% ao ano, embora existam instituições que pratiquem juros bem maiores que
a média. “Aí, a pessoa, quando não consegue pagar toda a fatura, fica sujeita a
essa taxa de juros que é a maior do mercado de crédito. A taxa do cheque
especial é a segunda maior. Então, o que a gente vê são as modalidades que
custam mais caro apresentarem crescimento quando se olha o resultado de outubro
em relação a outubro do ano passado.”
Já o crédito consignado, um dos tipos de crédito com juros
mais baixos (cerca de 25% ao ano, segundo dados do Banco Central, perdeu espaço
no endividamento dos brasileiros: 5% do total de consumidores endividados tem
dívidas consignadas atualmente, ante 7% em outubro de 2021. Agência Brasil, com foto: Marcello Casal Jr
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