01/11/2022
Aumento de gastos públicos pode elevar inflação; previsão para 2023 já é de 4,8%, acima do teto da meta
BRASÍLIA, DF - O Comitê de Política Monetária (Copom), do
Banco Central (BC), alertou que o aumento dos gastos públicos e a incerteza
sobre as contas em 2023 podem elevar as expectativas de inflação e informou que
retomará o ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, caso o processo de
desinflação não transcorra como esperado. Em reunião na semana passada, diante da queda da inflação
dos últimos meses, o Copom manteve a Selic em 13,75% ao ano. “O Comitê avalia que o aumento de gastos de forma permanente
e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo ano podem elevar os
prêmios de risco do país e as expectativas de inflação à medida que pressionem
a demanda agregada e piorem as expectativas sobre a trajetória fiscal. O Comitê
reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação,
incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na
economia e expectativas de inflação”, disse a ata da última reunião do Copom,
divulgada hoje (1º), em Brasília. Juros Ao optar pela manutenção da taxa de juros, o colegiado
reforçou a necessidade de avaliação, ao longo do tempo, dos impactos acumulados
“do intenso e tempestivo ciclo de política monetária já empreendido”. A taxa
continua no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75%
ao ano. Essa foi a segunda vez seguida em que o BC não mexe na taxa,
que permanece nesse nível desde agosto. Anteriormente, o Copom tinha elevado a
Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos
preços de alimentos, de energia e de combustíveis. “O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide
não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas
em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que não hesitará em retomar o ciclo
de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”,
esclarece a ata. Para o Copom, já são perceptíveis os impactos do aumento dos
juros nos dados de crédito e atividade econômica. “Nota-se um impacto nos dados
recentes referentes tanto à composição das concessões de crédito para as
famílias quanto ao aumento moderado da inadimplência, em parte associados a uma
dinâmica na renda real disponível que sugere retração”, avaliou. Ainda assim, para o colegiado, a inflação ao consumidor
segue elevada, apesar da queda recente e dos efeitos do corte de impostos em
itens como combustíveis e energia elétrica. “As divulgações recentes foram fortemente influenciadas pela
redução de preços administrados, em função tanto da queda de impostos quanto,
em menor medida, das quedas dos preços internacionais de combustíveis. Além
disso, itens relacionados a bens industriais, refletindo a queda mais intensa
dos preços ao produtor e a distensão das pressões nas cadeias globais de valor,
também apresentaram desaceleração. No entanto, os componentes mais sensíveis ao
ciclo econômico e à política monetária, que apresentam maior inércia
inflacionária, mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da
meta para a inflação”, esclarece a ata do Copom. Inflação A taxa Selic é o principal instrumento usado pelo Banco
Central para alcançar a meta de inflação. A elevação da Selic, que serve de
referência para as demais taxas de juros no país, ajuda a controlar a inflação,
porque a taxa causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o
crédito e estimulam a poupança, contendo a demanda aquecida. Em setembro, houve deflação de 0,29%, o terceiro mês seguido
de queda no indicador. Com o resultado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) acumula alta de 4,09% no ano e 7,17% em 12 meses, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para decidir sobre a manutenção da Selic, o comitê
estabeleceu um cenário básico para a inflação, com as projeções em 5,8% para
2022, 4,8% para 2023 e 2,9% para 2024. As estimativas para a inflação de preços
administrados são de deflação de 3,9% para 2022, e altas de 9,4% para 2023 e de
3,8% para 2024. O Copom adotou uma hipótese de bandeira tarifária “verde” em
dezembro de 2022 e “amarela” em dezembro de 2023 e de 2024, além de taxa de
câmbio partindo de US$ 5,25 e preço do petróleo seguindo a curva de alta pelos
próximos seis meses e aumentando 2% ao ano posteriormente. A previsão para 2022 está acima do teto da meta de inflação
que deve ser perseguida pelo BC. A meta - definida pelo Conselho Monetário
Nacional - é de 3,5% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto
percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2% e o
superior de 5%. Nota-se ainda que o BC elevou a projeção de inflação para
2023 - de 4,6% para 4,8% - em relação à reunião do Copom de setembro. Assim, a
entidade também já considera o estouro do teto da meta no próximo ano. Para
2023 e 2024, as metas fixadas são de 3,25% e 3%, respectivamente, também com os
intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual. Ou seja, para 2023 os limites
são 1,75% e 4,75%. Conjuntura econômica Para o BC, o cenário básico para a inflação envolve fatores
de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta figura uma maior
persistência das pressões inflacionárias globais. Além disso, há a incerteza
sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais. Entre os riscos de baixa, o Copom destaca uma queda
adicional dos preços das commodities [produtos primários] internacionais em
moeda local, uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do
que a projetada e a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem
revertidos em 2023. Para o Banco Central, no âmbito doméstico, o conjunto de
indicadores econômicos continua sinalizando crescimento na margem, ainda que em
ritmo mais moderado, e o mercado de trabalho segue se recuperando, mas em menor
ritmo do que nos meses anteriores. “Os dados de atividade, que contribuem para a avaliação do
grau de ociosidade, indicam um ritmo de crescimento mais moderado na margem.
Por um lado, o ímpeto da reabertura da economia no setor de serviços e os
estímulos fiscais ainda impulsionam o crescimento do consumo, embora esses
impulsos devam arrefecer. Por outro, o impacto da política monetária e suas
defasagens aponta para uma redução do ritmo da atividade econômica, que tende a
se acentuar nos próximos trimestres”, diz a ata. Pressão inflacionária No cenário internacional, o Copom avalia que o “compromisso
e a determinação dos bancos centrais em reduzir as pressões inflacionárias e
ancorar as expectativas elevam o risco de uma desaceleração global mais
pronunciada”. “Houve um ajuste na extensão e na velocidade do ciclo de aperto
de política monetária em alguns países avançados, o que provocou um novo aperto
de condições financeiras”, destacou.
“O aperto das condições financeiras nas principais
economias, a continuidade da Guerra na Ucrânia, com suas consequências sobre o
fornecimento de energia para a Europa, e a manutenção da política de combate à
Covid-19 na China reforçam uma perspectiva de desaceleração do crescimento
global nos próximos trimestres”, finalizou a ata do Copom. Agência Brasil, com foto: Marcello Casal Jr
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