28/10/2022
Taxas de juros seguem elevadas no Brasil e endividamento das famílias ficou em 52,9% em agosto, diz BC
BRASÍLIA, DF - A taxa média de juros das concessões de
crédito livre e direcionado teve leve queda no mês passado, mas mantém a
tendência de alta em 12 meses, segundo as Estatísticas Monetárias e de Crédito
divulgadas nesta quinta-feira (27) pelo Banco Central (BC). A taxa alcançou 28,6%
ao ano em setembro, redução de 0,2 ponto percentual no mês e alta de 7 pontos
percentuais em 12 meses. A alta dos juros bancários médios ocorre em um momento em
que a taxa básica de juros da economia, a Selic, está em seu maior nível desde
janeiro de 2017, em 13,75% ao ano. Ontem (26), o Comitê de Política Monetária
(Copom) decidiu manter a Selic nesse mesmo patamar. Essa foi a segunda vez seguida em que o BC não mexe na taxa,
que permanece nesse nível desde agosto. Anteriormente, o Copom tinha elevado a
Selic por 12 vezes consecutivas, em um ciclo de aperto monetário que começou em
meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. A Selic é o
principal instrumento usado pelo BC para alcançar a meta de inflação. A entidade avalia que a alta na Selic tem sido repassada
para as taxas finais de diferentes modalidades de crédito e não descarta a
possibilidade de novos aumentos caso a inflação não caia como o esperado. A
elevação da taxa básica ajuda a controlar a inflação porque causa reflexos nos
preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança,
contendo a demanda aquecida. No crédito livre para as famílias, a taxa média de juros
chegou a 53,7% ao ano, com recuo de 0,3 ponto percentual em relação a agosto e
aumento de 12,5 pontos percentuais em 12 meses. Nas contratações com empresas,
a taxa livre subiu 0,2 ponto percentual no mês e cresceu 5,9 pontos percentuais
em 12 meses, alcançando 22,9% ao ano. Para pessoas físicas, o destaque do mês foi o cheque
especial, com alta de 6,2 pontos percentuais em setembro e 5 pontos percentuais
em 12 meses, indo para 134,6% ao ano. Já o crédito consignado teve elevação de
0,3 ponto percentual no mês e 6,4 pontos percentuais em 12 meses (25,4%). Por
outro lado, os juros do crédito pessoal não consignado caíram 3,7 pontos
percentuais no mês de setembro e aumentaram 4,3 pontos percentuais em 12 meses
(81,7% ao ano). Cartão de crédito Já as taxas do cartão de crédito tiveram alta de 0,8 ponto
percentual no mês e 25,2 pontos percentuais em 12 meses, alcançando 88,5% ao
ano. No crédito rotativo, que é aquele tomado pelo consumidor quando paga menos
que o valor integral da fatura do cartão e dura 30 dias, houve queda de 10,9
pontos percentuais em setembro e aumento de 50 pontos percentuais em 12 meses,
indo para 388,7% ao ano. Após os 30 dias, as instituições financeiras parcelam
a dívida. Nesse caso do cartão parcelado, os juros caíram 1,9 ponto percentual
no mês e subiram 16,2 pontos percentuais em 12 meses, para 184,9% ao ano. No crédito livre às empresas, houve aumento de 0,7 ponto
percentual no mês e alta de 5,5 pontos percentuais em 12 meses em capital de
giro, chegando a 23,1% ao ano. Já no cheque especial, os juros subiram 2,4
pontos percentuais em setembro e caíram 9,2 pontos percentuais em 12 meses,
indo para 325,7% ao ano. As operações de desconto de cheque tiveram aumento de
0,7 ponto percentual nos juros em setembro e alta de 9,7 pontos percentuais em
12 meses (38,5%). Já as taxas para o financiamento a importações caíram 4,8
pontos percentuais em setembro e 5,6 pontos percentuais em 12 meses, para 6,9%
ao ano. Por fim, o cartão de crédito teve alta de 1,1 ponto percentual nos
juros do mês e aumento de 11 pontos percentuais em 12 meses, para 32,1% ao ano. Crédito direcionado Essas taxas são do crédito livre, em que os bancos têm
autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de
juros cobradas dos clientes. Já o crédito direcionado, que tem regras definidas
pelo governo, é destinado basicamente aos setores habitacional, rural, de
infraestrutura e ao microcrédito. No caso do crédito direcionado, a taxa média para pessoas
físicas ficou em 10,7% ao ano em setembro, variação positiva de 0,1 ponto
percentual mês e alta de 3,3 pontos percentuais em 12 meses. Para as empresas,
a taxa subiu 0,3 ponto percentual no mês e variou 0,1 ponto percentual para
baixo em 12 meses, indo para 9,4% ao ano. Alta das contratações Mesmo com a manutenção dos juros em alta, em setembro, o
estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro
Nacional (SFN) ficou em R$ 5,176 trilhões, com aumento de 2,2% em relação a
agosto, que refletiu, basicamente, os incrementos de 2,6% no saldo das
operações de crédito pactuadas com pessoas jurídicas (R$ 2,109 trilhões) e de
1,9% no de pessoas físicas (R$ 3,067 trilhões). O crescimento em 12 meses da
carteira chegou a 16,8% no mês passado. O saldo do crédito correspondeu a 55%
do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços que o
país produz. O crédito ampliado ao setor não financeiro, que é o crédito
disponível para empresas, famílias e governos independentemente da fonte
(bancário, mercado de título ou dívida externa) alcançou R$ 14,479 trilhões,
crescendo 1,5% no mês e 10,7% em 12 meses. Endividamento das famílias De acordo com o BC, a inadimplência (considerados atrasos
acima de 90 dias) tem se mantido estável há bastante tempo, com pequenas
oscilações, e registrou 2,8% em setembro. Nas operações de crédito livre para
pessoas físicas, está em 5,7% e para pessoas jurídicas em 1,9%. O endividamento das famílias, relação entre o saldo das
dívidas e a renda acumulada em 12 meses, ficou em 52,9 em agosto, em níveis
recordes que refletem o aumento das concessões de empréstimos. Houve queda de 0,4%
no mês e alta de 3,5% em 12 meses. Com a exclusão do financiamento imobiliário,
que pega um montante considerável da renda, ficou em 33,5% no mês de agosto.
Já o comprometimento da renda, relação entre o valor médio
para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período, ficou em 29,4%
em agosto, crescimento de 0,8% no mês e 3,9% em 12 meses, recorde da série
iniciada em janeiro de 2005. Para esses últimos dados, há uma defasagem maior
do mês de divulgação, pois o Banco Central depende de dados apresentados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Agência Brasil, com foto: Marcello Casal Jr
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