21/10/2022
Governo tem plano de desvincular salário mínimo da inflação; informação tem repercussão negativa
BRASÍLIA, DF - O ministro da economia, Paulo Guedes,
confirmou nesta quinta-feira (20) que o governo estuda desvincular o reajuste
do salário mínimo e de aposentadorias do índice de inflação do ano anterior,
mas negou que o objetivo seja impedir o ganho real dos trabalhadores e
pensionistas. Após a repercussão negativa da notícia, o Ministério da
Economia informou no início da noite que a correção será no mínimo pelo índice
da inflação. Segundo Guedes, a mudança pode ser incluída no texto da
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que está sendo construída para garantir
recursos ao pagamento do Auxílio Brasil. A manutenção do benefício em R$ 600 no ano que vem depende
da aprovação do projeto, já que o aumento só permanece válido até dezembro de
2022. "É claro que vai ter o aumento do salário mínimo e
aposentadorias pelo menos igual à inflação, mas pode ser até que seja mais.
Quando se fala em desar, as pessoas geralmente pensam que vai ser menos
que a inflação, mas pode ser o contrário", afirmou o ministro em
entrevista coletiva após encontro com empresários na sede da Confederação
Nacional do Comércio (CNC), no Rio de Janeiro. O salário mínimo é reajustado pela inflação por determinação
constitucional, por isso seria necessária uma PEC para mudança de regra. Os
planos de desvinculação foram tema de reportagem do jornal "Folha de
S.Paulo", mas, segundo Guedes, a proposta de desação do reajuste está
em estudo desde o início do governo Bolsonaro. A alteração, segundo ele, seria uma das medidas para
"correção" do teto de gastos do país e é tratada pela equipe
econômica como "plano 3D — desobrigar, desar e desvincular", e
pode vir a ser incluída na PEC para tributar lucros e dividendos como fonte de
recursos para pagamento do programa de distribuição de renda. “A PEC que está combinada já de sair, combinada
politicamente, com compromissos, é a taxação sobre lucros e dividendos para
pagar o Auxílio Brasil. Isso tem que acontecer rápido justamente para garantir
o ano que vem”, disse o ministro. Sem dar detalhes sobre os acordos políticos já feitos para
garantir a aprovação da proposta, Guedes disse que o texto deve ser apresentado
ao Congresso logo depois do 2º turno das eleições. A ideia, segundo ele, é
acrescentar à proposta mecanismos que permitam mudar a arquitetura fiscal do
país, permitindo maior flexibilidade na gestão dos recursos. O ministro enfatizou que 96% do orçamento do país é
"carimbado", ou seja, tem destinação obrigatória, impedindo mudanças
na execução das contas públicas do governo. Para ele, esse engessamento dos
recursos contraria a própria concepção de governo. "A política é exatamente o uso dos recursos públicos.
Mas ela foi proibida disso, está se omitindo dessa responsabilidade. A classe
política recebo o voto, mas não controla o orçamento", criticou Guedes. Segundo o ministro, ao desar o reajuste do salário
mínimo à inflação será possível gerenciar melhor o orçamento. "Precisamos colocar mais inteligência nos orçamentos e
mais política nos orçamentos em vez de simplesmente seguir uma regra de
vinculação e ação que pode, às vezes, ser inadequada", defendeu o
ministro. Confira a íntegra da
nota do Ministério da Economia, divulgada no início da noite desta quinta: O Ministério da
Economia informa que não há qualquer plano para alterar as regras dos reajustes
anuais do salário mínimo e das aposentadorias pela inflação (INPC). O ministro Paulo
Guedes afirma que o salário mínimo e as aposentadorias serão corrigidas, no
mínimo, pelo índice da inflação, podendo inclusive, ter uma correção acima
deste percentual. É falaciosa a
informação de que o ministério pretende adotar medida que possa causar danos à
camada mais frágil da população. O fato é que o governo
priorizou a assistência aos mais frágeis, com programas de apoio durante a
pandemia. O governo triplicou o valor do Auxílio-Brasil, além de estender o
alcance do programa para mais de 20 milhões de famílias. Nem mesmo durante o
momento mais crítico da Covid-19, os reajustes deixaram de ser integralmente
aplicados.
G1, com foto: Wilson Dias/Agência Brasil
|