22/08/2022
Brasil já é o 3º país do mundo com mais casos de varíola dos macacos, atrás de EUA e Espanha
SÃO PAULO, SP - Com 3.788 casos diagnosticados de varíola
dos macacos até este domingo (21), o Brasil superou o Reino Unido e a Alemanha,
e agora é o terceiro país com mais doentes confirmados no mundo. Segundo o
boletim mais recente do Ministério da Saúde, outros 4.175 casos são
considerados suspeitos e aguardam resultado do exame RT-PCR para confirmar ou
descartar a doença. Os Estados Unidos são o país com mais casos até agora,
14.594, segundo o boletim mais recente do Centro de Controle de Doenças (CDC,
na sigla em inglês), seguidos da Espanha, que até a última quinta-feira (18) já
contava 5.792 pacientes que contraíram o vírus. Na sexta (19), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) autorizou, por unanimidade, acelerar a importação de medicamentos e
vacinas contra a varíola ainda sem registro no Brasil, mas já aprovados em
outros países. Com isso, a agência determinou que os pedidos de importação
terão prioridade no processo de avaliação, e a resposta deverá ser dada em até
sete dias úteis. Testagem ainda é
insuficiente, diz virologista Para o pesquisador e professor universitário Amilcar Tanuri,
chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), o Brasil precisa ampliar a testagem de casos suspeitos,
incluindo a busca de casos em toda a população com sintomas, para poder
controlar o contágio do vírus, que foi confirmado em humanos pela primeira vez
em 6 de maio, e apareceu no Brasil um mês depois, em 8 de junho. “Nós fizemos a estimativa no sentido que a gente teria que
ter pelo menos uma taxa de positividade de 10%”, explicou ele à TV Globo. Isso
significa que, a cada dez testes feitos, apenas um teria resultado positivo. A
taxa ideal de 10% adotada por Tanuri segue parâmetros definidos para outras
doenças infecciosas, como a dengue. No entanto, um balanço do laboratório de Tanuri, que
coordena a testagem para os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, indicam
uma taxa de positividade cinco vezes mais alta, de 49%. Já dados obtidos pela produção do SP1 junto à Secretaria
Estadual da Saúde de São Paulo (SES-SP) mostram que a positividade entre a
população paulista desde 1º de agosto foi de 34%, mais de três vezes mais alta,
considerando mais de 4 mil testes feitos na rede pública e nos laboratórios
privados. Em nota, a SES-SP afirmou que o Instituto Adolfo Lutz (IAL),
referência na testagem no Estado, "credenciou outros 16 serviços privados
e universitários para o processamento de amostras da doença", e disse que
"a rede também possui a unidade Central do Lutz, na Capital, e outras 12
unidades regionais. As amostras são utilizadas para análise epidemiológica e genômica". Para Atila Iamarino, virologista e divulgador científico, a
alta taxa de positividade é um indicativo de que São Paulo não tem feito o
suficiente para frear a circulação do vírus. “O ideal seria a gente estar rastreando mais contatos, indo
atrás das pessoas que tiveram contato, ou dividiram espaço, ou dividiram
toalha, lençol, ou fômites [objetos inanimados que podem transportar organismos
contagiosos], que a gente fala, com pessoas com monkeypox, para testar todo
mundo e poder isolar todos os casos ao redor. Fazendo esse tipo de isolamento
de contatos, a gente consegue conter a transmissão do vírus e atrasar muito a
circulação dele por aqui”, afirmou Iamarino ao SP1. A escolha dos casos a
serem testados Tanuri alerta ainda que, além de ampliar a distribuição de
testes aos laboratórios, as autoridades precisam treinar os profissionais de
saúde na ponta para ampliar o escopo de casos selecionados para a coleta do
exame. Segundo o professor, a doença não atinge apenas homens que
fazem sexo com homens, e as lesões não aparecem apenas nos órgãos genitais. Por
isso, a alta porcentagem de casos confirmados ser entre homens pode ser
explicada caso os médicos estejam selecionando para a testagem apenas esse
grupo da população. “Como os casos estão sendo ‘subselecionados’ pelos médicos,
talvez a gente esteja perdendo pessoas que tenham a doença, que está tendo um
aspecto muito pouco patogênico, pode estar se perdendo com outro tipo de
lesões. E o médico não fica ligado e não pede o exame”, afirmou Tanuri. Uma especialista em recursos humanos que conversou com a
reportagem sob a condição de anonimato afirma que se surpreendeu quando recebeu
o diagnóstico positivo para a varíola depois que procurou o serviço de saúde
com algumas poucas lesões nos braços. A mulher, de 46 anos e moradora de São Paulo, diz que mora
sozinha e trabalha de casa. Ela suspeita que possa ter contraído o vírus quando
esteve em dois locais, o aeroporto de Congonhas e a praça de alimentação de um
shopping na Zona Sul de São Paulo. “A informação que eu tinha era: transmissão por relação
sexual, beijo, contato físico muito próximo. Três coisas que eu não tive nesse
período”, contou ela. “E que apenas 3% das pessoas que pegavam eram mulheres,
uma outra informação que eu acredito que esteja totalmente errada.” A Tânia Romeiro, que é diarista na cidade de São Paulo,
também procurou um serviço de saúde depois de sentir febril e descobrir algumas
bolhas em um lado do rosto. Fez o teste em 31 de julho e foi orientada a se
isolar por sete dias, mas só obteve acesso ao resultado quase três semanas
depois, na sexta (19), depois que a reportagem procurou a Secretaria Municipal
da Saúde (SMS-SP). “Na UPA eu liguei com sete dias. Eu liguei na segunda-feira
e só chamou, chamou. Nada! Liguei outras vezes e alguém atendeu e falou:
‘Estamos esperando o resultado do laboratório’. Aí ligava outra vez: ‘você tem
que procurar uma UBS’”, contou ela. “Disseram que iam me mandar um e-mail,
disseram que iam me ligar e nada. Agora eu tenho que ir numa UBS pra pegar o
resultado? Não sei, não entendo o que é pra fazer.” Em nota, a pasta afirmou que os exames estavam disponíveis
para retirar desde 8 de agosto, “que a retirada do resultado deste exame é
feita na própria unidade de coleta e que reorientou os funcionários quanto ao
fluxo de recomendações aos pacientes”. Na sexta, após a resposta da Prefeitura, Tânia conseguiu
acesso ao resultado e descobriu que ele foi negativo. Higiene das mãos é a
melhor forma de prevenção Tanuri ressalta ainda que, no caso da varíola, a máscara
facial não é a principal forma de prevenção, já que o vírus é transmitido pelo
contato próximo da pele e por objetos compartilhados. “Você pode inocular o vírus coçando o rosto, colocando a mão
no olho. A inoculação pelo ato sexual a gente já viu que é muito efetiva. Mas o
que a gente tem visto é que a fase em que você transmite é quando tem as
pústulas. No Rio a gente teve um caso de uma adolescente que não teve relação
nenhuma. Isso mostra que o vírus tem capacidade sim de espalhar.” (Amilcar
Tanuri, virologista da UFRJ) Ainda de acordo com o especialista, nos casos de resultado
positivo do teste, o isolamento formal de sete dias pode não ser suficiente
para evitar a transmissão do vírus. “A pessoa continua infecciosa até as crostas caírem, até
resolver aquela lesãozinha. Não é uma semana só”, alertou Tanuri.
“O vírus é sensível ao álcool 70, aos detergentes normais,
se você lavar a mão. A higiene pessoal nossa tem que ser mantida. Não levar a
mão ao rosto e lavar a mão sempre”, disse ele. “A gente sabe que esse vírus
fica ativo pelo menos 90 horas, é bem estável no meio ambiente. É possível sim
[a transmissão, se a pessoa encostou numa superfície, deixou os vírus aí,
depois a outra pessoa encostou.” g1, com foto: Ilustração/Pixabay
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