11/05/2022
Inflação bate novo recorde para o mês e tem maior valor dos últimos 26 anos, segundo o IBGE
BRASÍLIA, DF - Puxado pela alta dos preços dos combustíveis,
o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação
oficial do país, ficou em 1,06% em abril, após alta de 1,62% em março, segundo
divulgou nesta quarta-feira (11) o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Foi a maior variação para um mês de abril desde 1996
(1,26%). Ou seja, em 26 anos. No ano de 2022, o IPCA acumula alta de 4,29%. Apesar de ter desacelerado frente ao resultado de março, a
inflação saltou para 12,13% no acumulado em 12 meses, acima dos 11,30%
observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Trata-se da maior inflação para o período de 1 ano desde
outubro de 2003 (13,98%). A inflação veio um pouco acima do esperado. A mediana das 39
projeções colhidas pelo Valor Data era de taxa de 1% em abril e de 12,06% em 12
meses. Com o resultado de abril, já são 8 meses seguidos com a
inflação rodando acima dos dois dígitos, o que reforça as apostas de nova
elevação da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 12,75% ao ano. Desaceleração
generalizada Dentre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados
pelo IBGE, apenas o de Habitação registrou deflação em abril. Pressionado pela
queda no custo da energia elétrica no país, este grupo registrou queda de 1,14%
em abril, depois de ter sofrido uma alta de 1,15% em março. Outros cinco grupos registraram desaceleração da inflação,
ou seja, mantiveram alta dos preços, mas em intensidade menor que a observada
no mês anterior. O grupo de transportes foi o segundo com recuo mais intenso,
passando de 3,02% em março para 1,91% em abril. Na contramão, o indicador mais que dobrou na passagem de
março para abril nos grupos de artigos de residência (de 0,57% para 1,53%),
saúde e cuidados pessoais (de 0,88% para 1,77%) e comunicação (de -0,05% para
0,08%). Segundo o IBGE, o grupo de artigos de residência foi
pressionado, principalmente, pela alta de 2,25% de eletrodomésticos e
equipamentos. Já o de saúde e cuidados pessoais foi impactado pela alta de
6,13% de produtos farmacêuticos, enquanto o de comunicação sofreu pressão do
aumento médio de 0,41% dos aparelhos telefônicos. Veja a inflação de abril para cada um dos grupos pesquisados - Alimentação e bebidas: 2,06% - Transportes: 1,91% - Saúde e cuidados pessoais: 1,77% - Artigos de residência: 1,53% - Vestuário: 1,26% - Despesas pessoais: 0,48% - Comunicação: 0,08% - Educação: 0,06% - Habitação: -1,14% Tanto transporte quanto alimentação e bebidas ganharam peso
na passagem de março para abril. "Juntos, eles contribuíram com cerca de
80% do índice de abril", destacou o analista da pesquisa, André Almeida. Combustíveis seguem
os vilões De acordo com o IBGE, a alta de preços dos combustíveis foi
a que mais pressionou a inflação em abril. Juntos, os combustíveis sofreram uma
alta de 3,20% na passagem de março para abril, representando 0,25 ponto
percentual do IPCA no mês. A gasolina foi mais uma vez a vilã da inflação no mês, com
alta de 2,48%, respondendo sozinha por um impacto de 0,17 ponto percentual no
índice. “A gasolina é o subitem com maior peso no IPCA (6,71%), mas os outros
combustíveis também subiram. O etanol subiu 8,44%, o óleo diesel, 4,74% e a
ainda houve uma alta de 0,24% no gás veicular”, destacou o pesquisador André
Almeida. Em 12 meses, os combustíveis acumulam alta de 33,24%, a
gasolina de 31,22%, o etanol, de 42,11%, o diesel, de 53,5%, e o gás veicular
de 45,18%. Batata e tomate mais
caros Os alimentos, que já haviam subido no mês anterior,
continuaram a subir em abril. A alta foi puxada pelos preços dos alimentos para
consumo no domicílio (2,59%). Entre as principais altas, destaque para as altas do leite
longa vida (10,31%), batata-inglesa (18,28%), tomate (10,18%), o óleo de soja
(8,24%), o pão francês (4,52%) e as carnes (1,02%). Energia ameniza
índice do mês O grupo habitação foi o único com deflação no mês, puxado
pela queda nos preços da energia elétrica (-6,27%). Em março, o grupo havia
registrado alta de 1,15%. "A variação negativa da energia elétrica foi a que mais
contribuiu para essa desaceleração [no mês]", apontou Almeida. A partir de 16 de abril, passou a vigorar a bandeira tarifária
verde, sem cobrança extra na conta de luz. Desde setembro do ano passado,
estava em vigor a bandeira de Escassez Hídrica, que acrescentava R$14,20 a cada
100Kwh consumidos. Já o gás de botijão subiu 3,32% em abril e acumula alta de
32,34% em 12 meses. RJ tem a inflação
mais alta Dentre as 17 regiões pesquisadas pelo IBGE, sete registraram
alta de preços superior ao índice nacional. A inflação mais alta foi observada
no Rio de Janeiro (1,39%), enquanto a menor variação ocorreu em Salvador
(0,67%). Belo Horizonte e São Paulo foram as únicas regiões que
registraram o mesmo índice de inflação da média nacional. Inflação mais
esparramada Mesmo com a desaceleração no mês, a inflação ficou mais
disseminada. O índice de difusão passou de 76,13% em março para 78,25% em
abril. Trata-se do índice de difusão mais intenso desde janeiro de 2003, quando
ficou em 85,4%. O indicador reflete o espalhamento da alta de preços entre
os 377 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE. Isso significa que
praticamente 8 em cada 10 itens pesquisados ficaram mais caros. O IBGE ressalvou que entre os produtos não alimentícios o
índice de difusão se manteve estável em 77,51%. Já entre os alimentícios, o
indicador acelerou de 74,40% para 79,17%. Passagem aérea e transporte por aplicativo pressionam
serviços Enquanto a inflação geral do país desacelerou na passagem de
março para abril, a de serviços registrou avanço no período, passando de 0,45%
para 0,66%. Em 12 meses, o IPCA de serviços acumula alta de 6,94%, quase
a metade do indicador geral da inflação no país. Dentre os itens que compõem a cesta de serviços pesquisada
pelo IBGE, passagens aéreas foi o que registrou maior variação de preços em
abril (9,48%), seguido por transportes por aplicativos (4,09%) e seguro
voluntário de veículos (3,31%). Inflação para baixa
renda Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que
calcula a inflação para famílias de baixa renda e é usado como referência para
reajustes salariais e benefícios do INSS, subiu 1,04% em abril, contra 1,71% em
março. Foi a maior variação para um mês de abril desde 2003,
(1,38%). No ano, o INPC acumula alta de 4,49% e, nos últimos 12 meses, de
12,47%. Inflação acima da meta pelo 2º ano seguido A média das expectativas do mercado para a inflação fechada
de 2022 está atualmente em 7,89% – mais do dobro do centro da meta para o ano,
mas ainda abaixo dos 10,06% registrados em 2021. As projeções para o IPCA seguem sendo revisadas para cima e
o próprio Banco Central já admitiu que a meta de inflação deve superar pelo 2º
ano seguido o teto da meta do governo, que tinha sido fixada em 3,5% para 2022. Para tentar trazer a inflação de volta para a meta, o Banco
Central tem feito um maior aperto monetário. A taxa básica de juros (Selic)
está atualmente em 12,75% e o BC sinalizou que caminha para elevar mais os
juros. De acordo com a ata da última reunião do Copom, a inflação
ao consumidor "segue elevada, com alta disseminada entre vários
componentes, se mostrando mais persistente que o antecipado". Para 2023, a projeção atual do mercado é de inflação de
4,10% e taxa de juros em 9,25% no final do ano.
Para o próximo ano, a meta de inflação foi fixada em 3,25%,
e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. g1, com foto: Tânia Rego/Agência Brasil
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