07/04/2022
Faxineira e filha são aprovadas em universidade federal, para mesmo curso de engenharia
CURITIBA, PR - A faxineira Andréa Saad Grape, 48 anos, e sua
filha Amanda, 21, foram aprovadas na Universidade Federal do Paraná (UFPR), no
curso de engenharia industrial madeireira. Gestora de TI, Amanda decidiu
embarcar no antigo sonho da mãe e propôs a ela fazer a inscrição para o
vestibular juntas. Mesmo sem ter feito cursinho ou se afogado em livros para
tentar a sorte, Andréa deixou a indecisão de lado e topou o desafio. O
resultado da aprovação, recém-divulgado, foi recebido com espanto e euforia
pelas duas. Amanda, trabalha na área de e-commerce de uma empresa de
colchões em Curitiba, e a mãe presta serviços para uma empresa, limpando salas
comerciais. Ao saber da aprovação das duas, Amanda não conteve a emoção.
Imediatamente encaminhou uma mensagem, para a mãe, que estava em meio a uma
faxina, deixando-a igualmente perplexa. "Foi o resgate de um projeto", conta Andréa,
lembrando que em 2009, quando a filha tinha apenas 9 anos, foi aprovada para o
mesmo curso, na mesma instituição. "Cheguei a frequentar aulas, que eram
diurnas, sempre fazendo bicos para ajudar no sustento da casa. Na hora do
almoço, cozinhava ou passava roupas para algum professor que sabia da minha
luta diária", conta, completando que depois de três anos se viu obrigada a
trancar a matrícula. Agora, ambas vão estudar à noite, mas continuarão
trabalhando em seus respectivos empregos. O marido de Andréa e pai de Amanda, Cristiano Álvaro Grape,
48, é dono de um quiosque de papelaria e presentes num mercado do bairro Capão
Raso, e o filho mais velho, Lucas, 26 cursa educação física em uma faculdade
particular. Graduado em tecnologia em logística, Cristiano revela que a
conquista da mulher e da filha o motivaram a também retomar os estudos.
"Penso em fazer pós-graduação com outro encaminhamento, como terapia ou
psicologia. Nada me impede, ainda mais com esses exemplos dentro de casa. Posso
me toronar alguma coisa a mais", afirma. Ele revela ter recebido a notícia da aprovação das duas com
muita emoção. "Foi superbacana É muito bom saber que elas seguirão
juntas", disse. Segundo ele, a família sempre foi muito unida e
colaborativa em todos os sentidos. Tanto que pai e filho estão empenhados em
ajudar a mulher e a filha a comprarem um veículo para facilitar o deslocamento
até a universidade, que fica cerca de 10 km da casa onde moram. As novas calouras da UFPR não escondem a expectativa de
fazer o mesmo percurso para a faculdade juntas. "Nossa vida sempre foi de
muita união e carinho. O caminho do meu trabalho é o mesmo do dela e isso vai
facilitar bastante as nossas vidas. Agora, estudando juntas, ficaremos ainda
mais próximas", diz Andréa. "Estou bastante animada com essa nova rotina. Sempre
fomos grandes companheiras, parceiras em tudo. A ideia é ajudarmos uma a outra
nas matérias e no que for preciso. De forma alguma isso vai ser entediante.
Muito pelo contrário, vai ser uma aventura muito legal. Pra gente, quanto mais
convivência melhor", completa Amanda. Planejando o futuro Andréa, cujos pais estudaram somente até o 4º ano do ensino
fundamental, fez curso de tecnólogo em recursos humanos, concluído em dois
anos, mas nunca atuou na área, "porque as faxinas pagam bem mais".
Para auto testar seus conhecimentos, ela costuma se inscrever em concursos
públicos. "Gosto de saber até que ponto estou atualizada, saber como estão
as coisas, ser esperta, acumular conhecimento, não deixar a peteca cair.
Qualquer coisa que a gente aprende nunca é perdida", diz. Sobre o fato de retomar os estudos, ela observa que, apesar
de não poder prever como será esse percurso, não há motivo algum para
desanimar. "O importante é ir à luta. Pode ser até um cursinho aleatório,
nada é perdido, digo e repito." Já Amanda estudou até a 8ª série em escolas públicas e
cursou o ensino médio com bolsa integral em uma unidade do Serviço Social da
Indústria (Sesi). Com bolsa do Prouni, ela graduou-se em gestão de tecnologia
da informação em uma instituição privada, em 2020. "Agora vou fazer o que
realmente quero", comemora, revelando que seu interesse pela engenharia
industrial madeireira foi despertado pela mãe. "A gente sempre passeava no campus quando ela estudou
lá pela primeira vez. Cheguei até a acompanhá-la nas aulas, mas foi numa feira
de cursos e profissões da UFPR, quando minha mãe me explicou as propriedades da
madeira, que fiquei realmente encantada, atraída pela a profissão",
lembra.
Agora, ambas pensam em montar uma empresa de
reflorestamento. Antes, Amanda pretende fazer uma especialização na Alemanha,
que é referência na área. "Vai ser mais uma oportunidade para pintarmos a
cara e todo o corpo e tomarmos um belo banho de chope, como fizemos
agora", diz Andréa. EM, com foto: Reprodução/Arquivo Familiar
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