06/02/2021
Após pressão do Congresso e da opinião pública, governo cede e vai recriar auxílio emergencial, mas não pra todo mundo
A cláusula citada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes,
na noite desta quinta-feira (4) como necessária para recriar o auxílio
emergencial deve ser incluída na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do
Pacto Federativo, informou nesta sexta (5) o secretário do Tesouro Nacional,
Bruno Funchal. A PEC do Pacto Federativo está parada no Senado desde 2019 e
propõe a descentralização, a desindexação e a desvinculação de gastos, com o
objetivo de abrir espaço no Orçamento e dar maior autonomia para estados e
municípios. Nesta quinta-feira (4), após receber a visita do novo
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), Guedes afirmou que o auxílio
emergencial poderá ser recriado para pelo menos metade dos beneficiários que
receberam o pagamento em 2020. O auxílio emergencial — programa de transferência de renda
motivado pelos efeitos econômicos da crise sanitária do coronavírus — se
encerrou em 31 de dezembro. Primeiro, o programa concedeu — principalmente para
trabalhadores informais e desempregados — R$ 600 mensais entre abril e agosto;
depois, R$ 300 entre setembro e dezembro. Segundo Bruno Funchal, o novo mecanismo a ser incluído na
PEC do Pacto Federativo seria uma espécie de "cláusula de
calamidade", conforme havia informado o blog de Ana Flor. Essa cláusula permitiria, em momentos de emergência, a
suspensão temporária da chamada "regra de ouro" — que impede o
governo de aumentar a dívida pública para pagar despesas correntes — e o
aumento da despesa, por meio da abertura de créditos extraordinários — os quais
não se sujeitam ao teto de gastos, criado em 2016 e que limita o crescimento
das despesas públicas à inflação do ano anterior. Como contrapartida, informou o secretário, seriam acionados
gatilhos a fim de conter o aumento dos gastos obrigatórios do governo. A necessidade da cláusula de calamidade se justifica porque
as três PECs consideradas pelo governo como prioritárias no Senado – do Pacto
Federativo, dos Fundos Públicos e a PEC Emergencial – só abrem espaço fiscal
para a União a partir de 2022. Com isso, o governo teria que se endividar mais este ano,
dentro do escopo da regra de ouro, que, por sua vez, exige autorização do
Congresso Nacional. Com a cláusula de calamidade, o governo ficaria desobrigado
dessa regra fiscal e não precisaria mais desse aval dos parlamentares. Porém, segundo Bruno Funchal, mesmo com a cláusula de
calamidade, o governo federal ainda precisaria cumprir a meta fiscal, que prevê
um déficit de até R$ 247,1 bilhões para 2021, segundo a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO).
Como o crédito extraordinário deverá dificultar o
cumprimento da meta, o governo precisaria pedir ao Congresso a alteração do
valor da meta previsto para este ano por meio do envio de um projeto de lei
complementar. G1
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