22/03/2022
Banco Central avisa que taxa básica de juros no Brasil deve aumentar novamente em maio
BRASÍLIA, DF - O Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central disse que o conflito entre Rússia e Ucrânia e o choque de oferta
de preços de commodities (produtos primários, com cotação internacional) levam
ao aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial, com
"potencial de exacerbar as pressões inflacionárias". O comitê
indicou, em ata da reunião realizada na semana passada e divulgada hoje (22),
que deve aumentar novamente a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto
percentual no próximo encontro, no início de maio. Na última quarta-feira (16), o Copom decidiu, por
unanimidade, elevar em 1 ponto percentual a Selic, que agora está em 11,75% ao
ano. Na avaliação do comitê, o conflito entre Rússia e Ucrânia resultou em
"novo impulso” nas cadeias de produção globais, com as sanções impostas à
Rússia, podendo levar a "pressões inflacionárias mais prolongadas" na
produção de bens. "A reorganização das cadeias de globais, com a criação
de redundâncias na produção, no suprimento de insumos e mudança no tratamento
dos estoques de bens (no sentido de se deter maiores estoques), ganhou novo
impulso com o conflito na Europa e as sanções aplicadas à Rússia", diz a
ata. O comitê disse ainda que a inflação ao consumidor segue
elevada, "com alta disseminada entre vários componentes, e mais
persistente que o antecipado". Ressaltou que as diferentes medidas mostram que a inflação deve permanecer
"acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta", que é de
3,5%, com variação de 1,5 ponto
percentual. "A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e
deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou ainda
mais. As leituras recentes vieram acima do esperado, e a surpresa ocorreu tanto
nos componentes mais voláteis quanto nos mais associados à inflação
subjacente", diz o Copom. Na visão do comitê, o cenário “recomenda que a política
monetária reaja aos impactos secundários desse tipo de choque”. Com isso, o
Copom também passou a trabalhar com cenário alternativo, no qual o barril de petróleo
passe a custar US$ 121 no fim de 2023, valor bem acima das projeções de
mercado. "O comitê observou que o atual ambiente de incerteza e
volatilidade elevadas demanda serenidade para a avaliação dos impactos de longo
prazo do atual choque e, portanto, optou por comparar essa hipótese com os
preços de contratos futuros de petróleo, negociados em bolsas internacionais, e
com projeções de agências do setor". Com base nesse cenário, o Copom informou que optou por
trajetória de juros mais tempestiva e que essa preferência expressa cautela em
relação às probabilidades atribuídas aos cenários levantados, a mensuração dos
efeitos de segunda ordem, bem como seu comprometimento com a convergência da
inflação e das expectativas para as metas de inflação no horizonte relevante. O comitê reconheceu, entretanto, que o cenário é
"desafiador para a convergência da inflação às suas metas" e disse
que estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o
cenário evolua desfavoravelmente.
"Com base nesses resultados, os membros do Copom
debateram a estratégia mais apropriada. Concluiu-se que um novo ajuste de 1
ponto percentual, seguido de ajuste adicional de mesma magnitude, é a
estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a
convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem
das expectativas de prazos mais longos", diz a ata. Agência Brasil, com foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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